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ELEIÇÕES 2002/ESTRATÉGIA
Ataques ao candidato do PPS devem começar imediatamente
Petistas pretendem explorar passado governista do adversário
PT se prepara para polarização com Ciro
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O crescimento de Ciro Gomes
(PPS) obrigou o PT a elaborar um
plano B de campanha, para o caso
de a candidatura de Luiz Inácio
Lula da Silva ficar polarizada com
ele e não com José Serra (PSDB),
como o partido vinha prevendo
havia mais de um ano.
Na semana passada, a coordenação da campanha de Lula chegou à conclusão de que é preciso
começar desde já a artilharia contra o ex-governador cearense.
O cenário de polarização com
Ciro é considerado "mais confuso" do que a disputa direta com
José Serra.
No começo, as críticas petistas
terão intensidade moderada, com
o partido caracterizando Ciro como um candidato híbrido, por isso inconsistente. E lembrando
que ele é um dissidente do atual
modelo. Declarações nesse sentido já foram feitas por alguns parlamentares petistas e devem se
acumular.
Continuísmo
O ex-governador, segundo o
PT, tem discurso de oposição,
mas conquista cada vez mais aliados dentro do núcleo que sustentou o governo por sete anos, principalmente no PFL.
Uma idéia é brincar com o mote
lançado por Serra quando assumiu sua candidatura, dizendo que
Ciro, e não o tucano, é na verdade
o candidato da "continuidade
sem continuísmo".
"O Ciro vai passar a ser cobrado, se continuar a subir nas pesquisas, a esclarecer que oposição é
essa que ele coloca. O eleitorado
verdadeiramente oposicionista
que ele tem pode começar a reclamar", declara o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha.
O momento, no entanto, não é
de abrir fogo pesado contra Ciro,
segundo avaliam os petistas. Primeiro, é preciso saber se o seu
crescimento nas pesquisas é sustentável ou mero reflexo da exposição na TV.
"O Ciro acaba de passar por um
processo a que foram submetidos
outros candidatos. Não está claro
se ele tem condição real de brigar
pelo segundo lugar", diz Cunha.
De qualquer modo, a disparada
de Ciro chacoalhou os lulistas,
que já se preparavam para uma
disputa governo contra oposição,
vista como "mais natural" e mais
desejável.
Se a disputa se der entre dois
oposicionistas, fica mais complexo para o PT demarcar território.
Artilharia
Por precaução, admitem petistas reservadamente, há artilharia
"de alto impacto" guardada contra o cearense, possivelmente para o segundo turno.
Eufemisticamente, é chamada
de "fase de exploração biográfica": o reforço a traços da vida do
candidato que o irritam particularmente e que já vêm sendo utilizados por Serra.
Exemplos são o fato de ter pertencido ao PDS (sucessor da Arena, que dava sustentação ao regime militar), a ligação com ex-aliados de Fernando Collor e a própria caracterização dele como
"clone" do ex-presidente.
Também está na manga, para
uso futuro, a estratégia de apresentar Lula como o candidato do
respeito aos contratos e acordos
internacionais, em contraste com
Ciro e sua proposta de "alongar"
o perfil da dívida pública.
O cearense, ex-ministro da Fazenda (1994), seria também co-autor do que o PT considera erros
do Plano Real. "A sobrevalorização da moeda, que custou tantos
empregos e resultou na enorme
dependência do Brasil frente o exterior, tem o dedo dele", diz o deputado Arlindo Chinaglia, da
coordenação de campanha do PT.
Toda esta estratégia, no entanto,
pode facilmente ser jogada no lixo
caso a polarização de Lula e Ciro
Gomes não ocorra. Neste caso, o
candidato do PPS vira aliado preferencial para o segundo turno
contra Serra e são esquecidos o
PFL, Collor e a dívida "alongada".
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