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NO DIVÃ
No Rio, petistas históricos dizem que deixarão sigla
DA REDAÇÃO
Acabou-se o espaço interno para discussão: o PT segue o centralismo autoritário do pragmatismo. A análise é de três petistas
históricos -Carlos Nelson Coutinho, Milton Temer e Leandro
Konder- que anunciaram a saída da sigla em que militaram nos
últimos 23 anos.
O estopim da decisão foi o processo de expulsão dos radicais
-se eles forem ejetados do partido hoje, o grupo carioca planeja,
já a partir de amanhã, impulsionar "um fórum de debate socialista, de esquerda" fora do PT, onde
a discussão de rumo teria sido
substituída pelo apoio incondicional "ao aparelho do governo".
"Embora condenemos totalmente, uma coisa é o que Lula está fazendo em termos de continuísmo da política anterior, outra
é como o PT está se comportando
diante disso", diz o ex-deputado
Milton Temer, da ala esquerda.
"A participação é livre para
quem quiser, até para quem continuar no PT", convoca Temer.
"Irreversível"
O ex-deputado visualiza um
partido desenhado cada vez mais
ao centro e que, por isso, a "guinada" atual seria irreversível.
Com a campanha de filiação em
massa (de junho a outubro, o PT
cresceu em 29,8% o número de filiados), Temer avalia que, no ano
que vem, a esquerda no partido só
representará 5% do total.
A idéia de romper foi gestada
em reuniões do trio. "O PT está
amputando seu braço esquerdo",
disse o filósofo Leandro Konder
sobre a eventual saída da senadora alagoana Heloísa Helena.
Temer defende o voto contrário
dos radicais às reformas com o argumento de que os três deputados ameaçados e a senadora foram coerentes com o último documento assinado pelo partido: a
resolução do Encontro Nacional
do PT, em 2001.
No balanço que fazem de um
ano do governo Lula, pouco escapa às críticas: "Política externa
progressista? Mais progressista e
mais radical que é a nossa é feita
pelo governo Chirac na França,
que tem uma política de direita na
economia. Em termos internos, é
a mesma característica da política
de Lula. Ninguém lá na França
hesita ao chamar o governo Chirac de direita", afirma Temer.
"Não estou torcendo contra o
PT, mas estou cada vez mais cético", disse Konder. Para ele, as
concessões feitas pelo governo
para continuar a política econômica foram "pesadas demais".
Por telefone, a reportagem procurou o filósofo Carlos Nelson
Coutinho para falar da decisão de
se afastar do partido, mas não
conseguiu contatá-lo.
(FM)
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