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PT NO DIVÃ
Senadora alagoana provoca em admiradores reações semelhantes às dos eleitores do presidente após a vitória
Gabinete de Helena vira local de "romaria"
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Bernardino Furtado, 59, abraça
Heloísa Helena. Viajou três dias
de ônibus, desde Apuí, no Amazonas, antes de chegar ao gabinete
da senadora alagoana em Brasília.
"O Lula está doido. Ele e o Genoino", diz, sem soltá-la.
Na última semana, a rotina de
Helena foi marcada por cenas como essa -e grupos de pessoas
aguardavam na entrada de seu gabinete para repeti-la. Ameaçada
de expulsão do PT, havia uma estranha semelhança entre essa Heloísa Helena e o Luiz Inácio Lula
da Silva de 2002 no tipo de reação
que provocavam nas pessoas.
Vieram estudantes de Rondônia, assistentes sociais de Alagoas,
funcionários públicos de Brasília,
vereadores do interior de São
Paulo para participar da "romaria" ao Senado.
Além das pessoas da "Casa".
"Para mim, é Nossa Senhora no
céu e a sra. aqui na terra", diz o
funcionário da Subsecretaria de
Comissões Rosmair da Silva, 45,
ao vê-la passar no corredor.
Durante um dos debates no plenário sobre a reforma da Previdência, um repórter chama a senadora do canto reservado à imprensa. Ela vem, pensando tratar-se de uma pergunta sobre a matéria em debate. O jornalista, que
pediu para não ser identificado,
desejava apenas se solidarizar
com Helena e desejar-lhe boa sorte no domingo, durante a reunião
do Diretório Nacional do PT,
quando seu expurgo seria confirmado ou não.
Helena responde, atende aos
pedidos de fotos e autógrafos,
aparentando calma maior que a
de seus admiradores -apesar de
sua conhecida estridência.
Numa das cartas de apoio que
recebeu, a remetente critica a
"forma" como a senadora apresenta suas idéias: "Por favor, reflita sobre o que lhe digo. Busque
ajuda fazendo ioga, tai-chi-chuan,
meditação ou terapia".
A exemplo do que acontecia
com Lula na campanha presidencial ou após a vitória, algumas
pessoas choram ao encontrá-la.
"Desculpe, eu vou chorar", diz
Maria do Carmo Pimentel, presidente da Associação Gaúcha dos
Fiscais de Previdência, após já ter
chorado na sala de Helena e voltar
a fazê-lo do lado de fora, durante
uma sessão de fotos.
Outro que chorou foi o amazonense Bernardino Furtado. "Se
você sair, não sou mais PT", disse
a ela. Depois chora e afirma: "Eles
vão pagar, vão pagar". E volta a
criticar Lula e os rumos do atual
governo.
Lula e Suplicy
Helena também responsabiliza
o presidente pelo processo que
sofre no partido.
"Nunca compartilhei da análise
preconceituosa de setores da elite
nacional, que sempre apresentaram Lula como um despreparado
e facilmente influenciável na condução do poder. Até porque ele é
a maior liderança da América Latina", afirma. "Essa análise vale
para o bem e para o mal. Não tenho dúvida de que todas as decisões tomadas pela cúpula palaciana do partido têm direta interferência dele."
"O que mais dói", ela diz, é não
entender as razões da mudança,
da discrepância entre o que considera as propostas históricas de
seu partido e o atual governo.
"Isso para mim é que é o mais
doloroso. Para mim é muito doloroso. É evidente que essa mudança, que esse abismo não pode ser
atribuído a nada que esteja no
âmbito da psicologia humana
-por mais que a gente brinque
que alguém, mais cedo ou mais
tarde, irá para um divã por dupla
personalidade ideológica."
Questionada sobre alguma possível explicação, responde: "Mas
qual? Ninguém consegue".
As críticas ao presidente são frequentes nas cartas que recebe. Diz
uma das remetentes: "Uma coisa
que me deixa pasma, e até mesmo
envergonhada de ser brasileira é
ver o papel que o Lula está fazendo". Mais adiante, a mesma admiradora afirma: "Vamos falar de
Eduardo Suplicy [senador pelo
PT paulista]. Sou fanzona do
Eduardo também, mas confesso:
não estou conseguindo entender
a sua calmaria".
Helena reconhece em Suplicy
seu principal aliado nos últimos
meses. Ele dá uma outra razão,
além da política, para apoiar a senadora: "Ela e a [atual ministra do
Meio Ambiente] Marina [Silva]
foram meus anjos da guarda durante todo o período em que
aconteceu a minha separação.
Conversavam comigo, dialogavam, brincavam. Num momento
de dificuldade, é natural que eu
seja solidário com ela".
Na entrada do gabinete de Suplicy há uma bandeira de campanha do presidente Lula. Na do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) há uma mão em forma de "L",
com a estrela símbolo do partido.
Na de Heloísa Helena, há uma
bandeira do PT, emoldurada.
"Me incomoda tanto pensar no
que ela fará com essa bandeira,
que vou me empenhar com todas
as forças para que não seja expulsa", diz Suplicy.
Helena dá a resposta: vai tirá-la
de lá. "Se eu for expulsa, tenho
que fazer isso."
"Então imagine o que é isso.
Imagine juntar todas as camisetas
que eu tenho -todas as camisetas que eu uso em casa, 99% têm
alguma coisa do PT. Vou juntar
todas as minhas coisas que lembram o PT. Todas as lembranças
físicas, botar tudo isso numa caixa, vedar e mandar para a casa de
alguém. Para que numa noite de
saudade a gente não queira remexer e reviver a própria história."
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