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JANIO DE FREITAS
Novas inquietações
A rapidez com que a rebordosa alcança a cúpula do
governo e os controladores do
PT, até há pouco tão soberbos no
gozo do poder superestimado,
por si só já tornaria imprevisíveis
os seus efeitos, dada a tendência
a alguma perda de controle pelos
interessados. À rapidez, porém,
somou-se nos últimos dias a natureza perversa assumida por alguns dos contravapores, dois deles em especial: a retomada de investigações de corrupção na prefeitura petista de Santo André e
as escorregadias finanças eleitorais do próprio presidente do PT,
José Genoino, rejeitadas por 6 a 0
pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Passada a apreciação inicial
sobre as circunstâncias do assassinato de Celso Daniel, as atenções foram dirigidas, sob influência das excitações eleitorais da
mídia, para o cenário de corrupção administrativa que teria antecedido, e talvez motivado, o crime. Resolvida a eleição, o crime e
a improbidade desapareceram
por quase um ano, para alívio do
comando petista, que não pôde
esconder sua inquietação com as
investigações em Santo André.
Ao voltar à tona há dois meses, o
caso, apesar de atribuído a desavenças da corrupção, parecia ter
uma só face, a do crime de morte.
Para alívio do comando petista,
que já sucumbia outra vez à inquietação com a reabertura do
caso.
Mas, enquanto o comando petista iniciava uma comemoração
pública pelo início da sua inquisição no partido, promotores decidiam abrir investigações voltadas particularmente para as relações entre certas empresas e a
prefeitura petista de Santo André. As referências a respeito, no
ano passado como nas últimas
semanas, são as empresas de ônibus. É uma linha de investigação
indispensável. Mas, pelo que se
ouve há muito tempo e não só em
relação a Santo André, os contratos de coleta de lixo justificam
igual ou maior investigação.
Se comprovadas improbidades,
podem provocar um rastilho que
atinja outras prefeituras, de São
Paulo ao Nordeste, suspeitas
também de utilizar os serviços de
transporte e limpeza urbana, por
anos e anos, como fontes de arrecadação partidária.
E enquanto José Genoino comandava a comemoração antecipada pela degola de petistas
não intimidados por sua gana,
um tanto atrasada na história e
na biografia, o TRE denunciava
por vícios "insanáveis", entre o
muito recebido e o modesto gasto, as contas da campanha do
hoje presidente do PT ao governo
paulista, ano passado. (Como
apreciação a respeito, basta isto:
as contas de Paulo Maluf foram
aprovadas).
Coincidência ou não, o petardo
do TRE atingiu a pretensa autoridade do inquisidor-mor na
ocasião que lhe era mais imprópria, quando se aprestava para
presidir a condenação de Luciana Genro, Babá, João Fontes e
Heloísa Helena por crime de lealdade ao seu eleitorado. Foi o próprio tribunal petista que as contas "insanáveis" do seu presidente acabaram questionando:
quem, afinal, deveria ser ali julgado por comprometimento da
ética partidária e pessoal?
Santo André, os reais de José
Genoino, a corrupção no governo
petista de Flamarion Portella em
Roraima, a repercussão do crescimento anual em zero vírgula, a
exploração da visita à Líbia de
Gaddafi, o processo contra a viajante Benedita da Silva, a reação
que se ergue até no PT obediente
contra a política econômica -de
repente, a cúpula do governo e o
comando petista passaram a ter
com que se ocupar, já que são
poucos os problemas do Brasil
que lhes tomam algum tempo.
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