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Vítima ignorava a existência da operação militar
DA REPORTAGEM LOCAL
"Sofri as consequências
[do plano Tarrafa] sem saber o nome da operação",
afirmou o cientista Luiz Hildebrando Pereira da Silva,
74, um dos que foram presos
pela ação comandada pelo
Exército. Pereira da Silva é
médico, parasitologista, especialista em malária e pesquisador durante 32 anos do Instituto Pasteur (Paris).
Como o cientista, a maioria das pessoas ouvidas pela
reportagem desconhecia a
existência da operação, mas
sabia que eram "suspeitos
permanentes" do regime.
Filiado de primeira hora
do Partido Comunista Brasileiro, o cientista sempre teve
uma militância atuante, o
que resultou em sua demissão da USP. Em 1970, quando o plano foi assinado, já
estava exilado em Paris.
"Depois de citados na lista
da USP, nós nos transformamos em suspeitos permanentes do regime", afirmou
um dos líderes estudantis da
época, o hoje professor Fuad
Daher Saad, 64. De 1962 a
1964, presidiu o grêmio de
Filosofia. Foi preso pelo
Dops e respondeu a Inquérito Policial Militar até 1966.
Com a assinatura do Tarrafa, foi conduzido diversas
vezes à polícia para prestar
informações pessoais. "Tinha de explicar onde trabalhava, o que fazia, onde morava, essas coisas", disse.
Outros foram presos em
razão do plano, como o sociólogo Octavio Ianni, a historiadora Emília Viotti, o
presidente do CNPq, Erney
Plessmann Camargo, e o
cardiologista Reynaldo
Chiaverini -todos haviam
sido demitidos da USP.
O advogado aposentado
Cícero Silveira Vianna, 76,
que também estava na lista,
teve mais sorte. Uma semana antes de o plano entrar
em vigor, ele deixou o país
de forma clandestina. "Eles
nem sabiam por onde eu andava." Filiado ao PCB, Vianna sofreu seu primeiro IPM
quando ainda era procurador jurídico da extinta Superintendência de Política da
Reforma Agrária, em 1964.
O consultor de marketing
e ex-secretário de Planejamento e Informação da gestão Fernando Henrique Cardoso, Antônio de Pádua Prado Júnior, 58, era líder estudantil quando foi acusado de
subversão e condenado a
quatro anos e seis meses.
Fugiu, mas foi preso na
mesma semana em que o
Tarrafa foi assinado. "Coincidência", disse. "Fui preso
pelo Dops de Porto Alegre
em uma outra situação."
Os irmãos Almir e Walmir
Marum Cury, hoje com 62
anos e 59 anos respectivamente, foram detidos em
1969: "Não conhecia a operação. Nesse período, éramos obrigados a informar
sempre onde estávamos",
disse Almir, hoje comerciante. O irmão vive nos EUA.
Das 33 pessoas da lista, três
eram líderes sindicais. Uma
delas é Bonifácio Evangelista
de Brito, 71, ex-secretário-geral do Sindicato dos Bancários: "No total foram 12
[prisões]. Cada vez que havia um movimento de estudantes, eles me prendiam".
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