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TRANSIÇÃO
Para Andrew MacMillan, país deve associar distribuição de alimentos a uma contrapartida social, como o Bolsa-Escola
Combater a fome é vital, diz diretor da FAO
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O combate à fome deve vir em
primeiro lugar. Governos dos países emergentes que subestimam o
problema estão fadados a permanecerem à margem do desenvolvimento econômico. Essa é a opinião de Andrew MacMillan, 60,
diretor da FAO (organismo das
Nações Unidas para agricultura e
alimentação) em Roma e um dos
mais renomados especialistas em
erradicação de fome.
A pedido da equipe de transição, MacMillan visitou o Brasil-
entre os dias 30 de novembro e 11
de dezembro- à frente de uma
missão composta por membros
da FAO, do Banco Mundial e do
Bird ( Banco Interamericano de
Desenvolvimento). O objetivo era
conhecer as propostas do Fome
Zero e ajudar o próximo governo
a desenhar as linhas do programa.
Para MacMillan, a estratégia
correta para eliminar a fome no
Brasil deve associar a distribuição
de alimentos a uma contrapartida
social,como o Bolsa-Escola.
Folha - O principal objetivo da
missão da FAO, BID e Bird era ajudar a equipe de transição a traçar
as linhas principais do Fome Zero.
Os objetivos foram alcançados?
Andrew MacMillan - Tivemos a
chance de reunir membros da
equipe de transição, do BID e do
Bird para ver projetos em andamento e, não apenas, idéias abstratas. Também foi muito importante discutirmos os prós e os
contras [do programa Fome Zero" baseados na experiência dos
integrantes da missão.
Folha - O que acha do programa?
MacMillan - A impressão é positiva. O que o programa Fome Zero pretende fazer é o que governos em todos os países do mundo
se comprometeram em fazer durante o World Food Summit (reunião de cúpula da FAO), em 1996.
O objetivo naquela ocasião era reduzir o número de pessoas que
passam fome até 2015. O Brasil está um passo na frente já que pretende erradicar toda a fome.
As propostas apresentadas pela
equipe de transição parecem razoáveis. A idéia de um cupom alimentar é boa, mas precisa de reformulações: aumentar o peso do
poder de decisão das comunidades locais e associar a concessão
do benefício a alguma contrapartida social- participação em
programas de alfabetização de
adultos, de manutenção de crianças na escola, por exemplo.
Folha - Uma das expectativas era
que a missão ajudasse a abrir as
portas para linhas de crédito internacional para financiar o programa. Esses recursos vão surgir?
MacMillan - O Bird e o Bid vão
analisar os empréstimos já acordados [para outros programas"
para avaliar se eles poderão ser redirecionados para o Fome Zero.
Posteriormente, poderão surgir
outros recursos. Mas nada está
definido ainda. Quanto à FAO, ela
é uma organização para o financiamento de projetos. No momento, estamos avaliando a possibilidade de contribuir com dois
projetos de cooperação técnica. O
primeiro seria uma consultoria
permanente para ajudar as propostas do Fome Zero em realidade. O segundo seria um programa
de capacitação profissional rural
para populações do Nordeste que
sertão atendidas pelo programa.
Folha - É realista afirmar que o
Brasil vai eliminar todo o contingente de famintos e desnutridos
nos próximos quatro anos?
MacMillan - É impossível afirmar
quanto tempo será preciso para
alcançar esse objetivo. Um fator
determinante para o sucesso do
programa é definir-e levantar-
os recursos. O segundo é a capacidade institucional para lidar com
um projeto dessa magnitude.
Folha - Que critérios devem ser
adotados para estabelecer quem
deve ser atendido pelo Fome Zero?
MacMillan - Durante o período
da missão no Brasil, nós discutimos a respeito de como estabelecer esses critérios a fim de que os
mais necessitados sejam os primeiros a receber ajuda. O problema é que quanto mais sofisticado
o mecanismo de seleção, mais
custoso se torna o programa.
Folha - O que tem dado errado no
Brasil que faz com que o país não
consiga conciliar os avanços na
área agrícola com redução dos índices de desnutrição e fome?
MacMillan - O problema da fome
no Brasil deriva mais de questões
macroeconômicas que agrícolas.
O país tem uma das distribuições
de rendas mais injustas do mundo. Ambas políticas sociais e econômicas têm sido míopes.
Folha - Não é uma utopia crer que
toda a fome pode ser eliminada?
MacMillan - Eu acredito que o
mundo já possui todas as ferramentas para eliminar esse mal. O
que falta é disposição. O Brasil,
por exemplo, é um dos maiores
exportadores de alimento, mas é
preciso assegurar que as pessoas
que realmente necessitam de alimento tenho aceso a ele.
Folha - Uma das soluções citadas
para combater a fome no Brasil é liberalizar o cultivo e importação de
alimentos geneticamente modificados. É uma peça-chave?
MacMillan - Para eliminar a fome
no país não é preciso aumentar
dramaticamente a produção agrícola. Já há produção suficiente.
Quanto à questão dos transgênicos, antes de pensar em liberá-los,
é preciso desenvolver um arcabouço regulatório- que inclui a
realização de mais testes- para
prevenir eventuais efeitos colaterais acarretados pela implantação
desses alimentos no Brasil.
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