São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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ELEIÇÕES 2004

Sob investigação, ex-prefeito lança candidatura amanhã e acusa Marta e Serra de fazerem campanha de olho em 2006

Maluf diz buscar o "último cargo" de sua vida

Ciete Silvério/Folha Imagem
O ex-prefeito Paulo Maluf (PP), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, durante entrevista


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) afirmou que a disputa para a Prefeitura de São Paulo neste ano será a última eleição de sua vida. Mesmo isolado politicamente e tendo de se explicar sobre contas bancárias no exterior, Maluf lançará oficialmente amanhã sua candidatura.
"Vai ser o meu último cargo, o último cargo da minha vida. Estou com 72 anos e a gente sabe que um dia chega... Deus me deu uma saúde excepcional, mas eu só quero uma coisa, deixar para os meus netos o orgulho de eles usarem o sobrenome Maluf", disse o ex-prefeito, que anuncia sua candidatura oficialmente amanhã.
O projeto de Maluf coincide com um dos momentos mais difíceis vividos por ele. Documentos enviados por autoridades da Suíça indicam a abertura de contas e a movimentação não-declarada de milhões de dólares no exterior.
Para adversários, mesmo sem uma comprovação no âmbito judicial, o estrago político causado pelos documentos já está consumado e a candidatura malufista tende a se esvaziar com possíveis novos desdobramentos do caso. A disputa ficaria então polarizada entre a prefeita Marta Suplicy (PT) e o tucano José Serra.
"Não, eu não entro em desvantagem [no pleito]", disse Maluf. "Ao contrário, sou um candidato que, de forma provada e comprovada, não tem nenhuma condenação penal. A minha gestão [93-96] foi aprovada pela maioria da população como boa e ótima."
Para o ex-prefeito, a própria iniciativa de entrar no páreo e assumir toda a exposição da mídia é uma prova de sua inocência. "Caso não fosse candidato, a população poderia até supor que eu teria culpa no cartório. Mas sou candidato e já falei mais de mil vezes para você que não tenho conta."
Derrotado seis vezes em eleições diretas, Maluf aparece novamente na liderança da disputa pela prefeitura. Segundo último Datafolha, divulgado no final de março, o ex-prefeito está com 24% das intenções de voto, Serra com 22% e Marta com 17% -a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos.
"Eu tenho uma legião de pessoas que, por assim dizer, tem uma adoração por mim e quer que eu volte", afirmou Maluf, que avisa: "não serei um candidato na defensiva, mas um candidato de consciência tranqüila".

Trampolim
O ex-prefeito criticou o fato de a disputa municipal ser "federalizada" pelo PT e pelo PSDB. Tanto Marta quanto Serra, afirmou ele, entraram na disputa com os olhos voltados para 2006, quando será escolhido o sucessor do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A cadeira de prefeito seria apenas um "trampolim".
"Para eles, 2006 começa agora. A minha diferença é que eu começo em 2004 e termino em 2008", afirma Maluf.
Sobre possíveis coligações políticas e escolha de seu vice, Maluf não fala. Diz que as negociações estão em andamento e seria "deselegante" antecipá-las.
Um dos nomes cogitados para vice é o do primeiro vice-presidente do PP, deputado federal Delfim Netto (SP). O ex-prefeito nega a opção. "Por ele, eu abriria mão da candidatura. Ser vice é pouco para Delfim."

Crises
Dentro do partido, a candidatura malufista ainda sofreu alguns reveses. Na semana passada, o presidente nacional do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), disse que deputados haviam proposto a suspensão de Maluf, o que inviabilizaria sua campanha. A estratégia era ou emplacar o deputado federal Celso Russomanno (PP-SP) ou apoiar o PSDB.
Maluf afirmou que o caso foi resolvido e seu nome confirmado pelo partido.
"O Celso [Russomanno] tem uma vantagem sobre mim: é mais novo. Se tiver paciência, ele chega lá. A vida é uma escadinha. Tem de subir 15 degraus, mas tem de começar pelo primeiro."


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