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NO PLANALTO
Saiba por que você fará gol contra na Copa presidencial
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Passada a Copa, fase em que
esquece até dos credores à porta,
o brasileiro terá de se concentrar
na campanha presidencial. O
jogo é parecido. A mesma ausência de lógica. A diferença é
que a bola é quadrada, vale canelada e quem bate o pênalti final é o torcedor.
Não demora e você estará no
interior daquela cabine mágica,
diante da urna eletrônica. Hora
de parar, confabular consigo
mesmo, levantar a cabeça, mirar no canto e chutar. Sem perder de vista um detalhe: corrupção e hipocrisia não nascem em
árvore. Vêm da urna.
O diabo é que muita gente não
sabe até agora do que é que se
está falando. Convém, portanto,
submeter certos conceitos a um
filtro dialético. A rediscussão de
pensamentos e idéias estabelecidas não resolve o problema.
Mas evita euforias vãs. E ajuda
a arranjar desculpas prévias para o erro que se irá cometer.
Leia abaixo 35 definições básicas:
Democracia: regime em que
as pessoas têm ampla e irrestrita
liberdade para exercitar a sua
capacidade de fazer besteiras
por conta própria;
Eleição: loteria sem prêmio.
Ilusão de que é possível começar
tudo de novo, do zero, para ver
se finalmente dá certo;
Voto: equívoco renovado de
quatro em quatro anos;
Eleitor: indivíduo condenado
a optar entre o lamentável e o
impensável;
Candidato: pretensioso que
faz merchandising do próprio
umbigo, dizendo coisas definitivas sem definir as coisas;
Campanha eleitoral: período
em que um grupo de loucos obtém licença para interromper a
novela e apresentar na TV credenciais para dirigir o hospício;
Coerência política: velha maluca que faz tricô com o novelo
de suas próprias contradições;
Coligação: conchavo que une
culpados inocentes e inocentes
culpados. Grupo de aliados políticos constituído a partir do estreitamento de inimizades mortais;
Petista: quercista que ainda
não pôs a mão na chave do cofre;
Quercista: cofre que ambiciona pôr a mão num prontuário
de petista;
Marketing político: técnica
que consiste em enfeitar a forca,
de modo a conferir-lhe a aparência de inofensivo instrumento de cordas;
Programa de governo: tratado de verdades que se esquecerão de acontecer;
Poder: pote de mel que vem
com os ferrões da abelha junto.
A ruína do talento;
FHC: narcisismo em compota.
Político que se situa à direita de
Fernando Henrique Cardoso;
Lula: enfadado de tanto concorrer à Presidência, converteu-se em compositor. Compõe com
qualquer um. Não é mais aquele
e ainda não é outro. Candidato
mais cotado a transformar o adversário, qualquer um, em presidente;
Serra: candidato a chefe de
um governo ruim. Ele proclama
que o de FHC foi ótimo;
Garotinho: molequinho entrado em anos;
Ciro: pistola carregada, que
dispara inofensivamente a esmo;
Rita: pessoa com peito para
encarar o decorativo emprego
de vice. Novidade no seio da política. Um Marco Maciel com
sex appeal. A ociosidade com saliências e reentrâncias;
Roseana: fruta que pende de
árvore genealógica sem futuro,
graças ao enorme passado que
tem pela frente;
PSDB: a mesma esculhambação de sempre, só que com doutorado na USP;
PFL: projeto político que saiu
pelo ladrão;
PMDB: organização partidária com fins lucrativos;
Pesquisa eleitoral: estatística
que antecipa o nome do herói
que os pára-choques de caminhão chamarão de ladrão 15
dias depois da posse;
Juros: quanto maior a taxa,
menor o poder de fogo de quem
a estabelece;
Mercado financeiro: playground em que o dinheiro se
protege da Cuca enquanto mamãe vai para a roça e papai vai
trabalhar. Dorme de luz acesa.
Mas se assusta com qualquer
coisinha. Enxerga sob os fios da
barba de Lula monstrinhos satânicos que quebram louça e
rasgam contratos. Encanta-se
com o brilho da careca do Serra.
E acha fofinho o queixo-duplo
do Malan, atrás do qual se esconde o bicho-papão definitivo:
a dívida pública;
Dívida pública: única coisa
que cresce mais do que o desemprego na economia da era do tucanato;
Tucanato: linhagem de políticos que têm os pés no chão. E as
mãos também;
Análise de mercado: relatório
produzido por um yuppie da
banca internacional para informar aos investidores que Brasília está a caminho de Buenos
Aires;
Argentina: cemitério de egos;
Política social: FHC está tão
maravilhado com a sua que,
deixando Brasília, pode abrir
mão das mordomias de ex-presidente, da aposentadoria da
USP e entrar na fila do Bolsa-Alimentação e do vale-gás;
Desempregado: figurante à
espera da chance de entrar em
cena na peça da modernidade,
cujo enredo dispensa o pobre. O
etc. da história;
Seguro-desemprego: penúltimo refúgio do pobre-diabo que
ainda não empobreceu o bastante para virar um miserável;
Fundo DI: penúltimo refúgio
do rico que ainda não enriqueceu o suficiente para mandar a
grana para as Ilhas Cayman;
Futuro: uma pousada chamada Cantinho do Céu, sem ar-condicionado nos quartos.
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