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OPERAÇÃO ANACONDA
Polícia também apreendeu em endereços de acusados 40 armas, 7.500 munições e impressos para falsificar identidade
PF acha comprovantes de US$ 1,6 milhão
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal encontrou documentos do Deutsche Bank com
valores que somam US$ 1,55 milhão, quatro impressos em branco para falsificar carteiras de identidade e um arsenal de 40 armas e
mais de 7.500 munições com a
quadrilha que seria formada por
juízes, policiais federais e empresários. Os autos de apreensão da
polícia, aos quais a Folha teve
acesso, têm nove volumes e somam 1.473 páginas.
O comprovante do Deutsche
Bank foi apreendido com o empresário Sérgio Chiamarelli Jr.
Aparecem três valores no fax do
banco, segundo o laudo de
apreensão da PF: US$ 750 mil,
US$ 500 mil e US$ 250 mil.
Em 1997, Chiamarelli Jr. foi acusado de liderar o grupo que fazia
operações ilegais no mercado financeiro com títulos da dívida
pública. Foi absolvido pelo juiz federal que hoje é acusado pelo Ministério Público Federal de ser o
mentor da quadrilha: João Carlos
da Rocha Mattos. O juiz e o empresário estão presos.
Num apartamento do empresário em Higienópolis, um bairro
sofisticado da região central de
São Paulo, foram encontrados
dois comprovantes de depósito
ao agente federal César Herman
Rodriguez, em sua conta no
HSBC Bamerindus -de R$ 5.000
e de R$ 4.950.
Num escritório no Itaim Bibi
(zona sul de São Paulo), o empresário mantinha um arsenal: foram apreendidas lá 26 armas, entre pistolas, revólveres e rifles, kits
de mira laser, um silenciador e
6.837 munições (veja quadro ao
lado). Um dos revólveres encontrados lá, um Colt 45, tem o mesmo nome da operação da PF que
acabou prendendo o empresário:
Anaconda, a cobra que sufoca
lentamente suas vítimas.
O empresário também tinha
duas camisetas com o brasão da
Polícia Federal e dois coletes à
prova de bala.
No apartamento de Chiamarelli
Jr., havia mais oito armas, entre as
quais uma carabina Winchester
com visão noturna e mira laser, e
mais 359 munições.
Chiamarelli Jr. dizia ser colecionador de armamentos, tem até
uma autorização do Exército para
isso, mas só tem porte de 11 armas, todas relacionadas no auto
de apreensão.
Bellini, Pollini ou Bonicelli
Os papéis em branco para falsificar carteiras de identidade estavam no apartamento de José Augusto Bellini, delegado da PF,
também em Higienópolis. Ele tinha um par de impressos da Secretaria de Segurança do Rio e outro do Distrito Federal.
Bellini é um policial que despeja
mais palavrões do que artigos em
suas frases, como mostram os
grampos da PF, e inspirou até um
personagem literário, o tira do livro "Bellini e a Esfinge", do titã
Tony Belotto, que foi preso pelo
então delegado com pequena
quantidade de heroína em 1986.
As apreensões mostram que Bellini gostava de adotar mais de
uma identidade. Foram encontrados dois documentos de identidade falsos com a fotografia dele.
Numa, aparece como Rene Pollini; noutra, é Bruno del Bonicelli.
Ele também possuía três jogos
de placas frias de carro, seis armas
e US$ 10.307 em notas. As placas
parecem ter sido obtidas com a
ajuda de Rocha Mattos. A PF encontrou no apartamento de Bellini uma cópia autenticada de ofício assinado pelo juiz, de 7 de
maio de 2000, pedindo ao Detran
dez "placas reservadas".
Havia um segundo documento
assinado por Rocha Mattos no
apartamento de Bellini, cujo conteúdo não é descrito no laudo de
apreensão.
A Polícia Federal simplesmente
anotou que encontrou "um ofício
reservado da 4ª Vara Federal Criminal de São Paulo, assinado por
João Carlos da Rocha Mattos, e
endereçado a José Augusto Bellini, e um recibo no valor de R$
1.000 assinado por Paulo Francisco Ciongolo".
Bellini também tinha em casa
instruções de um escritório de advocacia de São Paulo sobre como
abrir uma empresa fora do Brasil.
Moedas do mundo
Os valores apreendidos não correspondem ao organograma da
quadrilha montado pelo Ministério Público. Norma Regina Emílio
Cunha, ex-mulher de Rocha Mattos, por exemplo, é considerada
braço-auxiliar do grupo, mas
mantinha US$ 550.549,00 em seu
apartamento de mais de 400 metros quadrados na praça da República, na região central da cidade.
Estavam "divididos em 19 pacotes", como descreve o auto de
apreensão da PF.
O juiz Rocha Mattos, apontado
como líder do grupo pelo Ministério Público, tinha só duas notas
de 200 euros em seu apartamento
(leia texto abaixo).
O apartamento de Norma parece uma casa de câmbio, segundo o
documento da PF. Tinha dólares
americanos, australianos e neozelandeses, euros, francos suíços e
franceses, pesos argentinos, chilenos e uruguaios e dois quilos de
ouro. Ela guardava até levs, a
moeda da Bulgária.
Norma alegou que os US$ 550
mil foram obtidos com a venda de
imóveis e com economias que
juntou como auditora da Receita.
As outras moedas, ela ainda não
explicou de onde as tirou.
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