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PF crê que dinheiro foi expatriado e que também pode estar em bancos na Áustria, nos EUA e no Uruguai
Brasil pede à Suíça apoio a investigação
JOSIAS DE SOUZA
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Justiça já requisitou ao governo da Suíça informações sobre a existência de depósitos da suposta quadrilha desbaratada pela chamada Operação
Anaconda em bancos daquele
país. O pedido foi feito em caráter
informal. Aguarda-se uma resposta para os próximos dias.
Entre os nomes repassados às
autoridades suíças estão o do juiz
João Carlos da Rocha Mattos e o
de sua ex-mulher, Norma Regina
Emílio Cunha. Estão presos em
São Paulo, com outros integrantes do grupo que supostamente
extorquia dinheiro de empresários e comercializava sentenças
judiciais, entre outros crimes.
A Folha apurou que, simultaneamente, a secretária Nacional
de Justiça, Cláudia Chagas, recolhe documentos para formular
pedido formal de informações à
Suíça. Conterá dados extraídos da
investigação policial.
A Polícia Federal (PF) parece
convencida de que o grupo enviou dinheiro ilegalmente para fora do país. A convicção dos investigadores foi tonificada a partir da
apreensão de extratos bancários
em escritórios e residências de integrantes da suposta quadrilha.
Além da Suíça, suspeita-se que o
dinheiro expatriado esteja na
Áustria, no Uruguai e nos EUA.
Investigadores estão concluindo a
análise do que foi apreendido. Esperam obter na próxima semana
a totalização, ainda que precária,
do que chamam de "caixa internacional" da suposta quadrilha.
Além de extratos e documentos,
os agentes da PF trabalham na
análise do conteúdo extraído de
computadores, também apreendidos nas operações. Peritos tentam quebrar senhas de documentos eletrônicos protegidos.
A Folha falou na semana passada com integrantes da cúpula do
governo que acompanham a
Operação Anaconda. Além da intenção de recuperar o dinheiro
enviado para o exterior, o jornal
coletou as seguintes informações.
Luiz Carlos Zubcov
Esse delegado aposentado da PF
seria homenageado na semana
que vem. A cerimônia foi abortada. Ele aparece em situação suspeita nos grampos telefônicos.
Ao saber do envolvimento de
Zubcov, a PF cancelou a homenagem. Como o assunto era sigiloso,
não era possível explicar publicamente a razão do cancelamento.
Depois que o assunto surgiu na
edição da última sexta-feira da
Folha, houve alívio no alto escalão da PF. Quase que imediatamente foi jogado no lixo um vídeo
feito com o ex-delegado Zubcov.
A gravação, de 3 minutos e 37
segundos, mostrava um Zubcov
heróico. Era uma reconstituição
de um caso antigo, semelhante ao
que faz o programa "Linha Direta", da TV Globo.
Em 94, Zubcov foi assaltado ao
sacar dinheiro numa agência bancária. Atracou-se com o assaltante
e levou um tiro no peito. O criminoso foi preso. Por sorte do então
delegado, a bala alojou-se no emblema de metal da PF guardado
dentro do bolso da camisa do policial. Quase um milagre visto
apenas em filmes de faroeste como "O Dólar Furado" (1965).
Zubcov dá um depoimento no
vídeo. Sua saga seria apresentada
na Academia Nacional de Polícia.
Jornalistas
Nas dezenas de grampos telefônicos realizados pela PF com autorização judicial, há mais de um
jornalista gravado. O governo trata o tema com cuidado.
A primeira impressão de quem
ouviu os trechos é de que seriam
repórteres telefonando à busca de
informações com acusados de integrar a suposta quadrilha.
Extensão do caso
O governo não pretende "abrir
o leque" da Operação Anaconda.
A idéia é focar ações nos atuais
acusados e garantir a coleta de
evidências para condená-los.
Todas as informações referentes a outros Estados serão repassadas a unidades de investigação
autônomas. Devem resultar em
processos separados do que recebe atenção da mídia no momento.
A Folha ouviu no governo que
dificilmente será possível replicar
com rapidez em outros Estados o
que se fez em relação ao grupo investigado na polícia e no Judiciário paulistas. Trata-se de um trabalho para os próximos anos.
O governo considera que o material obtido pela Operação Anaconda é de extrema relevância. Há
satisfação no Executivo com o trabalho da Polícia Federal, sobretudo com a condução do diretor da
PF, delegado Paulo Lacerda.
Apreensões
Não preocupam o governo, até
o momento, as críticas de advogados dos acusados sobre a suposta
ilegalidade das apreensões realizadas pela Operação Anaconda.
"É claro que, quando os advogados não têm mais para onde correr, vão para o aspecto processual.
As apreensões foram perfeitamente legais, dentro do espírito
da lei e com bom senso", ouviu a
Folha de integrante do governo
que acompanha todo o processo.
Na avaliação das pessoas que
comandam a operação, não seria
possível fazer a listagem dos cerca
de 1.500 itens apreendidos em
uma das casas. O espírito da lei
que rege esse tipo de situação é
que nada pode ser acrescentado
nem subtraído do que é apreendido -daí a necessidade de fazer
uma lista detalhada.
Sem condições de relatar item a
item no local, os agentes decidiram colocar o material em sacos
plásticos, lacrados e assinados pelos policiais que estavam no local.
Em Brasília, foram deslacrados na
presença de outras testemunhas.
Desavenças na PF
Para a cúpula da administração
petista, os policiais sindicalistas
seriam a origem da insatisfação
interna de parte dos integrantes
da PF com a Operação Anaconda.
Em muitas oportunidades,
quando um agente ou delegado é
preso ou interpelado, há manifestação de insatisfação de sindicatos
ou associação de policiais.
A direção da PF está tranquila
porque um sindicalista que tem
sido grande crítico da corporação
foi flagrado nos grampos da Operação Anaconda numa conversa
de conteúdo ambíguo com um
dos acusados já conhecidos -o
delegado José Augusto Bellini. O
nome desse policial ainda não foi
divulgado, pois não está claro
qual é o seu envolvimento.
Quanto ao superintendente da
PF em São Paulo, Francisco Baltazar, a Folha apurou que não foi
bem recebida sua reação contrária à Operação Anaconda. Baltazar foi segurança do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 2002. É difícil que ele recupere o prestígio que teve no início do ano dentro do Planalto.
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