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Três presos na Operação Anaconda conseguiram se livrar de investigação por agressão na Baixada Santista
Acusados agiram para abafar inquérito
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
Três homens armados provocam confusão em uma feira de
malhas no litoral paulista. Teriam
ofendido e ameaçado duas mulheres e agredido uma criança de
nove anos com um tapa. Na saída
da feira, são perseguidos e cercados por 12 policiais militares. Todos vão parar na delegacia.
Mais de um ano depois, o desfecho do episódio ocorrido na praia
de Itararé, em São Vicente, surpreende: os três homens não foram responsabilizados e, por
pouco, o tenente que comandou a
ação da PM não é punido.
As identidades dos envolvidos
também surpreende. Os três homens que teriam provocado a
confusão eram, na verdade, o delegado da Polícia Federal José Augusto Bellini, o agente federal César Herman Rodriguez e o advogado Sérgio Chiamarelli Júnior.
Eles estão presos na sede da PF
de São Paulo desde o último dia
30. São acusados de pertencer a
um esquema que beneficiaria criminosos com a venda de sentenças judiciais, proteção policial,
entre outros crimes.
O episódio em São Vicente,
ocorrido em agosto de 2002, mostraria que o tráfico de influências
exercido pela suposta quadrilha
também era usado em benefício
próprio, para evitar investigações
indesejadas e punir desagravos.
Segundo relatórios de escutas
do setor de inteligência da Polícia
Federal, Bellini e os seus companheiros usaram seus contados na
Polícia Civil paulista para impedir
a investigação e forçar o arquivamento do inquérito. Nem um
procedimento administrativo para apurar abuso de autoridade foi
aberto pela Corregedoria da PF.
Cheque suspeito
Era sexta-feira, por volta das
18h, quando Bellini, Rodriguez e
Chiamarelli Júnior, que estavam
de folga, pararam em um estande
de artigos de couro onde Geruísa
da Silva Ferreira trabalhava.
A confusão teria começado, segundo a PF, quando houve a desconfiança que um cheque dado
pelo grupo não tivesse fundos. Segundo queixa feita por Geruísa
Ferreira, ela e outra mulher, que
também trabalhava no estande,
foram ofendidas e ameaçadas. O
filho de Ferreira teria levado um
tapa na cabeça.
O grupo teria mostrado as armas para intimidar, o que fez que
um segurança da feira chamasse a
PM. Eles foram cercados a poucas
quadras dali. Os policiais federais
se recusaram a ser revistados. No
distrito, no entanto, todos foram
"dispensados sem que fosse registrada qualquer ocorrência", segundo relatório da PF.
Geruísa Ferreira se queixou
contra os três, o inquérito teve de
ser aberto pela Polícia Civil e o caso chegou à Corregedoria da PF.
O mais assustado com o resultado
negativo era Bellini, de acordo
com os grampos. Ele teria usado
sua rede de contatos na Polícia Civil para tentar influenciar a investigação. Queria não só ser inocentado como também teria iniciado
uma campanha pelo indiciamento, por abuso de autoridade, do
tenente da PM Samuel Robes
Loureiro, que comandou a ação.
"É, mas o combinado era o indiciamento [do PM], né meu irmão", disse Bellini, a um homem
não-identificado, segundo a PF,
ao saber que o inquérito não iria
indiciar o tenente.
Bellini teria sido favorecido por
pelo menos quatro delegados da
Polícia Civil paulista. Entre eles,
segundo relatório da PF, o delegado seccional de Santos, João Jorge
Guerra Cortez, e o delegado de
São Vicente, Niêmer Nunes Júnior. Os dois negam.
Nunes Júnior aparece nos
grampos conversando com Rodriguez. Promete cópias do inquérito e o informa sobre os depoimentos. Cortez é citado nas escutas telefônicas, que dão sua colaboração como certa.
No final, os investigados comemoram o relatório do inquérito.
Nos grampos, Chiamarelli Júnior
diz a Rodriguez que o inquérito é
"aquele que você faz para seu irmão, irmão que você gosta. Está
legal mesmo, bem bonito". Bellini
comenta que, se a Corregedoria
da PF vir o relatório, "não poderá
abrir sindicância, quanto mais PD
(processo disciplinar)", o que
realmente aconteceu.
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