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Reforma frustra em parte setor privado
DA REPORTAGEM LOCAL
A criação dos fundos de pensão
para os servidores, prevista na reforma da Previdência aprovada
em primeiro turno na Câmara,
deixou o mercado financeiro parcialmente frustrado. O modelo
adotado exclui a participação das
empresas de previdência privada
na gestão dos recursos que serão
acumulados para complementar
a aposentadoria dos funcionários.
A reforma prevê que a gestão
desses fundos será paritária: o
mesmo número de representantes dos servidores e do órgão público patrocinador, como uma
prefeitura ou um governo estadual. Caberá a eles a decisão sobre
a aplicação dos recursos.
Segundo o relator do texto da
reforma, José Pimentel (PT-CE), a
única forma de os recursos dos
fundos serem terceirizados -serem transferidos para um banco,
seguradora ou empresa privada
de previdência, para serem aplicados no mercado financeiro-
será por meio da formação de
fundos multipatrocinados. Isso
ocorreria, por exemplo, se várias
prefeituras pequenas se unissem
para criar um grande fundo, em
vez de cada uma arcar com os custos de um fundo próprio.
De acordo com a avaliação do
ex-secretário de Previdência
Complementar José Roberto Savóia, diante da expectativa inicial
da reforma, o modelo pode frustrar o mercado. "O importante
agora é criar a regulamentação
que estipule critérios para esses
fundos", declarou Savóia.
Diretores de seguradoras admitem que perderam uma fatia, mas
não a mais importante do mercado. "É um nicho que estamos perdendo, mas um nicho limitado, já
que o foco são os novos servidores cujos salários ultrapassem o
teto de R$ 2.400 mensais", diz Hosannah Santos Filho, diretor da
Unibanco AIG Seguros.
Ricardo Berzoini, ministro da
Previdência, estima que entre 20
mil e 25 mil pessoas entrarão no
serviço público da União por ano
e terão a opção de se associar a
fundos. Quantos deles terão salários superiores ao teto da Previdência ainda é uma incógnita.
Por isso, para a Anapp (Associação Nacional da Previdência Privada), do jeito como ficou a reforma, os fundos dos servidores perderam seu atrativo para o mercado. "Esta foi a reforma possível no
momento", diz Osvaldo Nascimento, presidente da entidade.
Na opinião de especialistas do
mercado, o grande vencedor da
batalha da reforma foi o segmento
dos fundos fechados, os chamados fundos de pensão, sem fins lucrativos. "O mercado de fundos
fechados, que tem hoje 6,3 milhões de participantes, deverá dobrar no longo prazo", diz Alexandre Fischer, sócio-diretor da RC
Prev, empresa do economista
Paulo Rabello de Castro.
Reivindicações
Durante a tramitação da reforma, as instituições financeiras que
atuam no setor de previdência
privada não conseguiram convencer os deputados federais.
A Anapp reivindicava dois pontos principais: que os fundos dos
servidores públicos não fossem
obrigatoriamente fechados, permitindo-se que o funcionário optasse por um fundo aberto, administrado pelas seguradoras ou por
empresas de previdência privada.
"Liberdade de escolha existe no
mundo inteiro", afirma Norman
Sorensen, presidente do Principal
Financial Group, sócio do Banco
do Brasil na BrasilPrev.
Além disso, defendiam que o teto da Previdência fosse bem mais
baixo do que os R$ 2.400 aprovados pela Câmara. "O modelo
ideal, que vigora nos Estados Unidos, por exemplo, é o do Estado
garantindo uma aposentadoria
mínima para evitar a miséria na
velhice. Acima de um determinado limite, as pessoas teriam de fazer uma poupança de longo prazo
para complementar a renda na
aposentadoria", diz Nascimento.
Esse teto mínimo, segundo ele,
poderia ser de R$ 600.
Apesar de suas reivindicações
não terem sido aceitas, o mercado
não tem muito o que lamentar. A
simples discussão da reforma previdenciária, ao longo deste ano,
fez explodir a procura por planos
vendidos por seguradoras e empresas de previdência privada. Segundo a Anapp, as receitas do setor cresceram 71,7% no primeiro
semestre, em relação a igual período do ano passado.
Além disso, elas poderão administrar os recursos que vierem a
ser captados pelos chamados
"fundos instituídos", recebendo
uma taxa por esse serviço. Essa
modalidade, regulamentada no
ano passado, será constituída por
sindicatos e associações de classe.
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