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BRASIL
Com 33,6% dos votos no país, partido de Lula e da base federal tiveram mais votos em 15 dos 26 Estados; aliança PSDB-PFL vem logo atrás
PT e aliados estabelecem juntos força nacional
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Somados os votos do primeiro
turno das eleições municipais, o
grupo formado pelo PT e seus
mais fiéis seguidores no plano federal (PL, PTB, PSB e PC do B) recebeu mais votos em 15 dos 26 Estados brasileiros na comparação
com outras forças políticas.
Não foram vitórias fáceis. Em
alguns Estados, como São Paulo,
há quase um empate com a segunda força nacional, formada
por PSDB e PFL.
A Folha montou uma tabela e
um mapa que mostram o desempenho estadual de cada um dos
agrupamentos que tendem a ter
objetivos nacionais eleitorais comuns em 2006. O resultado está
nesta página. As dúvidas de sempre permanecem para a sucessão
presidencial:
1) Quais serão os destinos do
PMDB e do PP, esse último um
partido em decadência e dono de
um espólio considerável?
2) Quem exatamente estará
com o PT no projeto de reeleger
Luiz Inácio Lula da Silva? Também continua incerto o rumo da
possível associação entre PPS e
PDT, que já tem quase o tamanho
de um PMDB.
Os números do primeiro turno
também ajudam a desmontar a
tese, difundida de tempos em
tempos, de que os partidos nanicos estão crescendo.
Há siglas que aumentaram o
número de eleitos, mas em termos de votação total, os nanicos
continuam mais ou menos onde
sempre estiveram. Em 2000, receberam 3,89% dos votos para prefeito. Neste ano, tiveram 3,71%.
Outro dado a ser medido é o peso de algumas figuras de destaque
em cada sigla. No PFL, por exemplo, o prefeito reeleito do Rio, Cesar Maia, sozinho, é responsável
por 15,4% de todos os votos do
partido para prefeito no país.
A seguir, um relato do que pode
ser depreendido desses números
e o que eles sugerem para 2006
-sempre com a ressalva de que
ainda faltam dois anos para a sucessão presidencial e para as eleições de governadores de Estado.
PT e seus seguidores
Juntos, o PT e seus mais fiéis seguidores tiveram 33,6% dos votos
para prefeito em todo o país. É
pouco se comparado ao que teve
Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno de 2002 -46,44%
dos votos válidos.
Ainda assim, é notável que o
grupo de partidos governistas tenha ficado à frente em 15 dos 26
Estados na eleição para prefeitos.
Não há partidos grandes na simulação de aliança lulista apresentada nesta página. O PMDB está fora, assim como o PPS, que ensaia
se descolar do governo antes de
2006, ano de eleição.
Do jeito que as forças partidárias estão dispostas, só em dois
Estados periféricos existe uma hegemonia completa, com os governistas ficando com mais de 50%
dos votos: Acre e Amapá.
Há duas leituras a respeito de ter
hegemonia no Acre e no Amapá.
A primeira é que são Estados periféricos e sem relevância política
nacional (juntos, tiveram nesta
eleição só 0,59% dos votos do
país). A segunda interpretação é
que essas duas unidades da Federação elegem três senadores e oito
deputados cada uma. São congressistas que ajudam a dar sustentabilidade ao futuro governo.
Nessa força partidária governista, o destaque eleitoral maior fica
com a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Mesmo em segundo
lugar na disputa paulistana, a petista respondeu por 13,53% dos
votos para prefeito que o PT recebeu em todo o país.
O fator PSB
Incluído na simulação como
força governista fiel, o PSB teve só
4,7% dos votos para prefeito. Ainda assim, se retirado do grupo lulista, faz uma grande diferença.
Sem o PSB os governistas perdem a primeira colocação em cinco Estados: Alagoas, Espírito Santos, Rio de Janeiro, Rio Grande do
Norte e São Paulo.
O PSB teve Anthony Garotinho
(hoje no PMDB) como candidato
a presidente em 2002. Hoje, tem
um ministro de Estado -Eduardo Campos, na Ciência e Tecnologia- e apóia o Planalto. Não é
possível saber se entrará no projeto de reeleição do presidente, mas
vários de seus integrantes certamente são anti-PT.
São os casos de Luiza Erundina
em São Paulo e William Dib, esse
último prefeito reeleito de São
Bernardo do Campo (SP). Também é a mesma situação do candidato do PSB derrotado a prefeito
de Belo Horizonte, João Leite.
Oposição certa
De todos os 27 partidos brasileiros, apenas dois entre os maiores
têm suas direções nacionais francamente contra a administração
federal petista: PSDB e PFL.
Esse binômio pefelê-tucano deu
oito anos de mandato presidencial para Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Agora, é o que
mais se aproxima dos lulistas em
termos de desempenho eleitoral.
No primeiro turno, seus candidatos a prefeito tiveram 28,4% dos
votos válidos.
Tucanos e pefelistas foram os
campeões em sete Estados neste
ano. Pode parecer pouco, mas o
número deve ser relativizado porque em vários locais a dupla
PSDB-PFL ficou quase empatada
com os governistas.
É o caso do Estado de São Paulo.
O PT e seu grupo tiveram 37,63%
dos votos, contra 37,54% de
PSDB-PFL.
Esse quase empate se repete no
Rio de Janeiro, onde os governistas registraram 31,21%, contra
28,91% de tucanos e pefelistas.
Também é perceptível uma espécie de troca de guarda no PFL.
Em 2000, o partido era comandado por um campeão de votos: o
senador Antonio Carlos Magalhães. Os votos de candidatos a
prefeito pefelistas na Bahia responderam por 15,1% da sigla em
todo o país. Neste ano, 17,9%.
Ocorre que o reinado de ACM
caiu para a segunda colocação. Os
pefelistas fluminenses, sob o comando de Cesar Maia, foram responsáveis por expressivos 19,4%
dos votos do PFL no país.
Reeleito prefeito do Rio no primeiro turno, Cesar Maia, sozinho,
é o dono de 15,4% dos votos de
sua sigla nacionalmente.
Entre os tucanos, vale registro
para o desempenho de José Serra.
Sua votação no último dia 3 representou 17,06% do total que os
candidatos a prefeito do PSDB receberam em todo o Brasil.
PMDB e PP à deriva
Herdeiros diretos da Aliança
Renovadora Nacional (Arena,
partido de sustentação da ditadura militar de 1964 a 1985) e do Movimento Democrático Brasileiro
(MDB), o PP e o PMDB, respectivamente, são siglas à caça de um
objetivo. Sem candidato a presidente da República em 2002, encolhem a cada pleito.
O PMDB teve nesta eleição uma
votação de respeito: 14,97% dos
votos válidos. Ocorre que 14,87%
disso veio dos seus candidatos em
cidades do Estado do Rio de Janeiro, onde a sigla está nas mãos
de Anthony Garotinho.
Só para comparar, em 2000 o
PMDB penou nas disputas municipais fluminenses: teve 656.409
votos, meros 8,46% do Estado. No
último dia 3, o PMDB sob Garotinho recebeu 2.118.510 votos para
seus candidatos a prefeito -ou
25,25% dos votos válidos.
Em resumo, o PMDB é Garotinho-dependente no que diz respeito a ter um nome de alguma
projeção nacional.
Já o PP amarga uma situação
delicada. Só teve 6,41% dos votos
para prefeito no país, sendo que
Paulo Maluf responde por 12,04%
do total da agremiação.
No plano federal, o PP não tem
senadores. Sua bancada de deputados vive de coletar as migalhas
que escorregam do Palácio do
Planalto. Esse processo de decadência se agravará em 2006, caso a
sigla não consiga se renovar.
PPS e PDT ensaiam aliança
Siglas dormitório nos últimos
tempos, pois nunca davam trabalho de fato em eleições presidenciais, PPS (ex-PCB) e PDT (agora
sem Leonel Brizola, morto neste
ano) ensaiam uma fusão. Se for
concretizada, começa com 11,05%
dos votos para prefeito em todo o
país. É quase um PMDB sem Anthony Garotinho.
A dupla PPS-PDT já ostenta,
neste ano, o maior número de votos em Pernambuco e em Roraima. Juntos, esses dois partidos
podem ser o fiel da balança numa
eventual aliança para a disputa
presidencial de 2006.
Nanicos
O grupo mais tradicional de micropartidos se manteve quase no
mesmo lugar. Eram 15 partidos
em 2000 e receberam 3,89% dos
votos para prefeito -exceto o
Prona. Neste ano, 3,71%.
As siglas maiores engoliram três
nanicos, mas não cresceram nada
com isso. Aparentemente, existe
uma parcela do eleitorado -de
3,5% a 4%- que deseja votar em
partidos desconhecidos.
Os números da eleição mostram também que a ribalta durou
pouco para o Prona, de Enéas
Carneiro. A sigla teve 0,28% dos
votos para prefeito em 2000 no
país. Neste ano, só 0,23%.
Uma exceção entre os pequenos
é o PV. Cresce a cada eleição: saiu
de 0,76% dos votos em 2000 para
1,43% agora.
Há também os três nanicos radicais de esquerda: PSTU, PCO e
PCB. Em 2000, tiveram 0,14% dos
votos. Neste ano, subiram para
0,26%. Em breve, terão a ajuda do
P-SOL, partido de ultra-equerda
que está sendo montado pela senadora Heloísa Helena (AL).
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