São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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Sindicato vira sala de espera por desaparecidos

Antonio Gauderio/Folha Imagem
Mulheres de garimpeiros presenciam a separação das fichas sindicais de maridos desaparecidos


DA AGÊNCIA FOLHA, EM ESPIGÃO
D'OESTE (RO)

A sede do sindicato dos garimpeiros, em Espigão d'Oeste (RO), virou uma sala de espera para seis mulheres de garimpeiros desaparecidos na terra indígena dos cinta-larga, localizada a 200 km da cidade. Desde quinta-feira, impacientes, elas aguardam os resultados das buscas na área indígena.
A cada aterrissagem do helicóptero da Polícia Federal, checam se os agentes federais trouxeram corpos de mais garimpeiros supostamente mortos por índios, no dia 7, dentro da reserva onde extraíam diamantes.
"Lógico que eu queria meu marido vivo, mas, se ele estiver morto, quero o corpo", disse S.M.R, 36, mulher de um dos desaparecidos. Mãe de dois filhos, ela viajou de São Paulo até Rondônia, onde chegou no dia 14, em busca do marido, pai das crianças, que desde março trabalhava no garimpo.
S.M.R. percorreu mais de 3.600 km, de ônibus, até chegar a Espigão D'Oeste. Tempo da viagem: quatro dias e meio. Seu marido transitava entre sua casa, em São Paulo, e a área indígena desde 2002. "Da última vez, os índios falaram que podiam explorar diamantes, que tudo estava legalizado." Segundo ela, o que ocorreu foi um massacre, não um confronto. "Os garimpeiros não estavam armados", afirmou.
A Agência Folha entrevistou três das seis mulheres que estão com os maridos desaparecidos. Elas preferem não informar a profissão. Pedem para que sejam publicadas apenas as iniciais de seus nomes. Concordam em ser fotografadas desde que o rosto não apareça com nitidez.
Têm medo de represálias de contrabandistas que, segundo a Polícia Federal, compram as pedras extraídas na terra indígena.
M.C.F, 47, dois filhos, natural de Rondônia, diz que os garimpeiros "precisam do apoio do presidente Lula". O marido desaparecido tem 25 anos de experiência, mas não teria evitado o pior, na opinião da mulher. "Dizem que os índios atearam fogo em todo mundo. Foi um massacre."
L.S, 35, também de Rondônia, está com o marido desaparecido. Ele é pai de quatro filhos, com idades de 8 a 14 anos, com outra mulher. "Eu não trabalho porque cuido delas. Não sei o que fazer."
Coincide na declaração das três mulheres ouvidas pela Agência Folha que os maridos "tinham o sonho de ganhar dinheiro rápido", porém nada teriam conseguido. "Fica tudo com o índio. De uma pedra de R$ 1 milhão, a gente fica com R$ 500", disse a paulista S.M.R. Suas duas companheiras de espera concordaram. (HC)

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