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MODOS DE FALAR
Presidente tem 222 pedidos de entrevista, nenhum atendido; fez 74 discursos e já convocou cadeia de rádio e TV
Lula discursa muito, mas evita a imprensa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva completou quatro meses
e meio de governo sem conceder
entrevistas. Apesar dos 222 pedidos feitos à Secretaria de Imprensa do Planalto, por jornalistas brasileiros e estrangeiros, o presidente optou por comunicar-se com a
sociedade por meio de discursos
-ele fala sobre o assunto que
quer e como quer, sem correr o
risco de ser questionado.
A assessoria do Planalto nega
que o presidente adote comportamento esquivo. Segundo seu núcleo de comunicação, Lula está
"conversando o tempo inteiro"
com a sociedade por discursos.
O professor Mauro Porto, coordenador do Núcleo de Estudos
sobre Mídia e Política da UnB
(Universidade de Brasília), avalia
que essa estratégia visa eliminar a
mediação dos jornalistas na comunicação, porque "o presidente
e seus assessores sabem que, em
uma entrevista, ele vai ser confrontado com perguntas difíceis".
Para Porto, a estratégia do "diálogo direto" com a sociedade é
ruim para a qualidade do debate
político, já que pontos de vista divergentes ficam prejudicados.
"É muito clara a preocupação
deste governo em gerenciar o noticiário. A intenção é garantir o
maior controle possível das notícias sobre o governo", diz.
Porto cita um precedente histórico: o do ex-presidente americano Ronald Reagan (81-89), que interrompeu uma tradição de entrevistas na Casa Branca, induzindo jornalistas a gritar perguntas
para ele nas ocasiões em que estava acessível, inclusive em trânsito.
No governo Lula, as tentativas
de entrevista durante as aparições
públicas do presidente têm sido
motivo de tensão. Durante a visita
de Lula a Itinga (MG), na caravana do primeiro escalão do governo a regiões miseráveis do país,
um assessor do presidente chegou
a bater no braço de um repórter,
tentando derrubar seu gravador.
Há duas semanas, um assessor
impediu outro jornalista de dirigir perguntas ao presidente enquanto ele passava, chamando-o
de "mal-educado" e "inconveniente". Na quinta-feira passada,
o presidente desceu inesperadamente ao pátio do Planalto para
conversar com anistiados políticos que reivindicavam indenizações. Formou-se um grande empurra-empurra, com a presença
de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. No meio do tumulto,
um funcionário da Secretaria de
Imprensa gritava aos seguranças:
"Se tiver gravador, tira da frente".
Antecessores
Cada governante cria um estilo
e um padrão de relacionamento
com a imprensa e a sociedade.
Emílio Garrastazu Médici (1969-74) governou com a imprensa sob
censura. Só concedeu entrevistas
para falar de futebol. Ernesto Geisel (1974-79) era um túmulo. Limitou-se a conceder duas únicas
entrevistas durante seu governo.
A redemocratização do país alterou muito esse quadro. Desde
José Sarney (1985-90), o presidente mais informal no relacionamento com a imprensa foi Itamar
Franco (92-94). Costumava chamar os jornalistas que faziam a
cobertura do Planalto para comer
pão-de-queijo em seu gabinete.
Fernando Henrique Cardoso
(1994-2002) convocou uma grande entrevista ao completar 100
dias de governo. Lula, que em 98
protestou muito pelo fato de FHC
recusar-se a debater com ele na
TV durante a campanha presidencial, optou por convocar uma
cadeia nacional de rádio e TV ao
atingir 100 dias de mandato.
No último dia 9, em Rio Branco
(AC), incluiu nos agradecimentos
os "os jornalistas que nem sempre
escrevem o que a gente diz".
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