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Comportamento esquivo é opção do presidente
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva estuda uma forma para
iniciar contatos regulares com
a imprensa, aos quais ele ainda
resiste. O Planalto não sabe como esse contato seria feito, se
em entrevistas coletivas, exclusivas ou em conversas reservadas. O comportamento refratário a entrevistas, que ele não
concede desde a posse, é decisão pessoal de Lula.
Segundo a Folha apurou junto a interlocutores do presidente, a distância que o petista adotou em relação à imprensa tem
basicamente três motivos:
1) Lula acha que não está precisando da intermediação de
jornalistas para transmitir suas
mensagens. Crê que está muito
forte politicamente, com a popularidade em alta, e que bastam seus discursos em solenidades e declarações rápidas em
viagens para ter espaço nas
TVs, rádios e jornais.
2) Há uma dose de contrariedade com a imprensa, especialmente a escrita. Lula, segundo
seus interlocutores, crê que
tem sido cobrado prematuramente. Uma crítica que o contraria é a de que repete pura e
simplesmente o governo Fernando Henrique Cardoso na
economia, priorizando as políticas monetária e fiscal em detrimento do crescimento. Ele
também julga que seus ministros frequentemente são pautados pela imprensa e antecipam
medidas ainda não maduras.
3) O presidente também avalia que ainda não tem muito o
que mostrar em termos de
"agenda positiva". Quer tirar
do papel medidas como o programa Fome Zero e aprovar as
reformas tributária e previdenciária para ter o que argumentar nas conversas com jornalistas mais críticos.
A união desses três motivos
tem criado uma verdadeira
barreira para que seus homens
de comunicação, o ministro
Luiz Gushiken (Secretaria de
Comunicação de Governo e
Gestão Estratégica) e Ricardo
Kotscho (Secretaria de Imprensa e Divulgação), abram
espaço na agenda presidencial
para os jornalistas.
Até as recentes reportagens
ressaltando a distância das entrevistas, como a publicada na
última sexta-feira pelo jornal
"Valor Econômico", Lula tinha
uma resposta pronta para o tema, segundo pessoas próximas: "Ainda não está na hora".
Desde que foi eleito, Lula só
falou com veículos de comunicação do Brasil para o pagamento de faturas políticas e
afetivas, de acordo com auxiliares. Logo após a vitória, antes
da posse, concedeu duas entrevistas exclusivas à Rede Globo,
nos programas "Fantástico" e
"Jornal Nacional". Foi um reconhecimento ao que a cúpula
do governo chamou de "comportamento isento" da Globo
nas eleições. Oficialmente, a rede afirmou que a entrevista estava combinada com a assessoria de todos os candidatos, ganhasse quem ganhasse.
Nas três derrotas que sofreu,
Lula sempre considerou que a
Globo teve um comportamento parcial. O caso mais emblemático foi a edição do último
debate entre ele e Fernando
Collor, na eleição de 1989.
(KENNEDY ALENCAR)
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