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Índios temem ser recrutados ao cruzar fronteira
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MELO FRANCO (AM)
Os índios tucanos de Melo
Franco (AM), que nunca tiveram
limites para sair do Brasil e entrar
na Colômbia, agora temem cruzar as águas do rio Papuri, no extremo noroeste da fronteira entre
os dois países. Com medo da ação
das Farc, eles têm evitado visitar
os parentes nas aldeias colombianas de Los Angeles e Acaricuara.
Segundo indigenistas consultados pela Agência Folha, os tucanos migraram (não é possível precisar o século) do Sudeste brasileiro para a Amazônia e se estabeleceram no alto rio Negro.
O casamento na etnia é exogâmico (cruzamento de indivíduo
não aparentado ou com grau de
parentesco distante), por isso os
tucanos vão a outras aldeias em
busca de uma esposa.
Os últimos casamentos na região aconteceram entre as aldeias
de Melo Franco e Los Angeles e
Acaricuara, as mais próximas. O
mais recente foi há sete anos entre
a tucana colombiana Judith Villegas, 28, e o tucano brasileiro Luiz
Penha da Silva, 35. O casal, que fala, além da língua nativa, português, espanhol e inglês, tem um filho, Nailton, de 2 anos.
Judith, que morava antes do casamento em Acaricuara, contou
que a guerrilha recrutou seus parentes: "Em junho [passado] eles
[os guerrilheiros] recrutaram
quatro da minha aldeia com idades entre 13 e 14 anos. Eles [os jovens] foram porque queriam ganhar plata [dinheiro], mas tinham um ideal de libertação".
A tucana afirmou que já ocorreram mortes de tucanos durante os
confrontos da guerrilha e o Exército Colombiano. "Morreram
mais de 20", disse.
Sem poder atravessar a fronteira por temer as Farc, o capitão
(cacique) da aldeia de Melo Franco, Cassimiro Fernandes, e mais
dois índios continuam solteiros.
"Daqui nós ouvimos a guerra,
dói nosso ouvido", disse o índio
Manoel Rocha de Souza, 36, catequista da aldeia de Santa Cruz.
Na aldeia não tem maloca nem
pagé, por influência religiosa. Há
apenas uma igreja católica, onde
os indígenas locais celebram missas.
(KB)
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