São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003 |
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VELHO PADRÃO Extração é clandestina Ouro é moeda de troca em novo garimpo no PA
MAURÍCIO SIMIONATO DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALTAMIRA (PA) Nem real nem dólar. Em um garimpo clandestino recém-surgido no meio do rio Xingu (PA), tudo é comercializado em ouro. Cerca de 500 pessoas, entre elas uns 360 garimpeiros, organizaram uma vila à beira do garimpo -batizado como Jurucuá, por causa de uma cachoeira com o mesmo nome nas proximidades. Pelo menos 60 balsas sugam o fundo do rio dia e noite. Os garimpeiros afirmam que o ouro encontrado no fundo do rio atinge grau de pureza de até 96, considerado bom para a venda. O minério ainda não foi encontrado em forma de pepitas, mas misturado entre a areia, a terra e o cascalho dragados. A comida, a diversão e o salário são pagos em ouro, como testemunhou a reportagem da Agência Folha, que esteve no garimpo. Uma refeição, por exemplo, vale um décimo de grama, o equivalente a R$ 3,40. Pela cotação do mercado, o grama do ouro fechou anteontem em R$ 34,20. Para facilitar o pagamento, os garimpeiros abrem contas nas oito mercearias da vila, que vendem também bebidas alcoólicas e mantimentos trazidos de barco de Altamira, em uma viagem que leva três horas e meia. Sete cervejas valem um grama de ouro. O programa com uma das cerca de 20 prostitutas do local, por exemplo, sai por meio grama ou até um grama de ouro. O tráfico de drogas já chegou ao garimpo. A droga mais consumida por parte dos garimpeiro é a pasta de cocaína. Um papelote é vendido por meio grama de ouro. Até hoje nenhuma autoridade ambiental esteve no garimpo, e os garimpeiros não têm registro ou autorização para trabalhar na área. O garimpo já existe há quatro meses. "Tirei o motor do meu caminhão para instalar na balsa e vir para este garimpo em busca do ouro. Já havia oito anos que estava afastado da garimpo e trabalhando na roça. Mas é como um vício. Basta o garimpeiro ouvir falar que apareceu ouro em algum lugar para vir correndo", disse Luiz Martins, 60. Para montar uma balsa, o garimpeiro-empresário gasta entre R$ 23 mil e R$ 30 mil, incluindo uma voadeira (barco pequeno com motor), equipamento de mergulho e um motor acoplado a um tubo de ar de 200 milímetros, que puxa o cascalho e a areia do fundo do rio. Cada balsa tem seis garimpeiros mergulhadores, que se revezam em dois grupos de três homens e em turnos de 18 horas ou 24 horas no meio do rio Xingu. Cada balsa -com estrutura de madeira e coberta com lona- tira entre 20 e 60 gramas de ouro por dia do rio, mas algumas balsas já chegaram a tirar até 100 gramas no mesmo período. Os seis garimpeiros que trabalham na balsa dividem 40% do total retirado no dia. Os outros 60% ficam com o proprietário da balsa. O grama do ouro é vendido em Altamira entre R$ 28 e R$ 29. Texto Anterior: Índios temem ser recrutados ao cruzar fronteira Próximo Texto: "Febre do ouro" atrai comerciantes Índice |
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