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PERSONAGEM
Temeroso, "gato" diz que seu tempo já está no fim
DA ENVIADA ESPECIAL AO SUL DO PARÁ
O empreiteiro de mão-de-obra rural Edmilson Dantas de
Santana, 45, citado em processos de fiscalização do Ministério do Trabalho como maior
"gato" do sul do Pará, disse à
Folha que seu tempo de agenciador está acabando.
"Ficou muito arriscoso", afirmou, referindo-se ao aumento
da fiscalização. Ele disse que
chegou a ter 800 trabalhadores
sob seu comando, em 1995 e
1996, e que agora seriam só 26.
Dantas foi apanhado duas vezes, em 2003, por manter trabalhadores em situação análoga à
de escravos. Ele calcula um prejuízo de R$ 341 mil nas duas
ocasiões e diz que cogita abandonar a profissão de "gato" e
procurar emprego como gerente de fazenda.
A primeira autuação ocorreu
em janeiro de 2003. Ele disse
que estava com 250 homens
trabalhando em três fazendas,
no Pará, quando chegaram os
fiscais do trabalho e a Polícia
Federal. Ele estava armado e ficou algemado por cinco horas.
Os direitos trabalhistas foram
pagos pelos donos das fazendas, mas Dantas afirma que
perdeu R$ 175 mil, porque ficou sem sua participação na remuneração dos trabalhadores.
Os fazendeiros passaram a
exigir que o "gato" assinasse as
carteiras de trabalho dos peões.
Ele criou a Empreiteira Dantas
e passou a registrar os trabalhadores, mas manteve outras irregularidades. Em agosto, sua
empresa foi autuada por manter 92 trabalhadores em situação análoga à escrava.
Dantas diz que já gastou
R$ 166 mil com rescisões e que
teve de vender três carros e 90
cabeças de gado para quitar débitos. Nascido em Araguaçu
(TO), o empreiteiro estudou
até a 4ª série do primário e começou a aliciar trabalhadores
aos 22 anos, no Tocantins.
Ele nega que tenha mantido
peões como escravos, mas admite que descontava instrumentos de trabalho, roupas e
alimentos dos salários.
Diz que mudou, mas que
muitos "gatos" no Pará não fizeram isso.
(EL)
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