|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Agentes da PF afirmam que foram vigiados por colegas
Suposta perseguição a policiais do caso Dantas aconteceu em Brasília, em março e abril
História da vigilância sobre os policiais da Satiagraha
é narrada em um relatório
que integra o inquérito da operação contra banqueiro
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Policiais federais que atuam
na Operação Satiagraha, que no
último dia 8 levou à prisão o
banqueiro Daniel Dantas e o investidor Naji Nahas, disseram
ter sido seguidos pelas quadras
de Brasília pelo menos seis vezes entre março e abril. Em dois
casos, os agentes federais reconheceram, entre os supostos
perseguidores, dois servidores
do próprio departamento da
PF, lotados em Brasília.
As supostas perseguições teriam sido feitas por sete carros
diferentes. Quando os policiais
foram checar as placas dos carros, descobriram que seis delas
apontavam para veículos de
marcas e modelos diferentes
dos que os seguiram e que uma
das placas era falsificada.
A história da vigilância sobre
os investigadores da Satiagraha
é narrada num relatório da Diretoria de Inteligência Policial
da PF que integra o inquérito
da operação, de 28 de abril.
Dois dias antes, a Folha havia
divulgado, com exclusividade, a
existência de investigação contra Dantas. Os relatos das perseguições são de "março de
2008" e dos dias 4, 16, 17 e 20
de abril. Portanto, anteriores à
reportagem da Folha.
No dia 28, nova suspeita foi
relatada. Desta vez, no cemitério Campo da Esperança, quando um policial informou ter reconhecido dois "servidores" da
PF, um deles da área administrativa, a quem identificou nominalmente no relatório.
A narrativa mais detalhada é
a da noite de 17 de abril. O policial da Satiagraha contou que
voltava para casa, por volta das
19h30, quando suspeitou estar
sendo seguido. Decidiu então
estacionar "numa rua deserta".
Esperou ali por algum tempo.
Ao deixar a rua, "veio ao seu encontro um Ford EcoSport, com
duas pessoas, em alta velocidade". Segundo o policial, os dois
"estavam numa atitude clara
de procurar alguém, e, no momento em que se depararam
com o agente da equipe, ficaram desconcertados, constrangidos, disfarçaram e foram embora". Ao checar a placa, a PF
descobriu que se referia a um
Ford Ranger prateado.
Treze dias antes, outro agente da PF ligado à Satiagraha teria sido seguido por dois carros
ao mesmo tempo, um Santana
e um Renault Megane. O policial fez uma "ação de evasão na
tentativa de confirmar a vigilância, na qual obteve êxito,
pois, ao efetuar duas vezes o
"balão" da [quadra] CLS 208,
Brasília/DF, foi acompanhado
pelos mesmos [carros], que o
seguiram até o seu destino".
Os relatos embasaram também um relatório da diretoria
de repressão a crimes financeiros da PF, que acusa o grupo ligado ao banqueiro Daniel Dantas de promover "vigilância em
cima do delegado Protógenes
Queiroz" e de outros policiais.
"Em áudios obtidos nas interceptações telefônica e telemática, fica claro o acompanhamento dos passos do delegado
[Queiroz], especialmente seus
deslocamentos territoriais."
Segundo o documento, após
o vazamento da operação, pessoas ligadas a Dantas passaram
a buscar informações no Judiciário e "mobilizaram os contatos, conseguindo inclusive alguns dados sobre a presente investigação, com indícios de
que, para tanto, tenham ocorrido práticas de tráfico de influência e de corrupção".
Os relatórios da inteligência
somam-se a outras desconfianças. Numa conversa gravada
com seu superior em Brasília,
Protógenes Queiroz cita seu
"estranhamento". Respondia à
informação de que poderia responder a procedimento administrativo porque uma equipe
de TV conseguiu filmar o ex-prefeito Celso Pitta de pijama.
"Já tenho uma investigação a
respeito de vazamento e de
condutas muito estranhas durante o período todo de investigação, então isso aí pra mim
não é novidade, só vou agregar
esses fatos ao grande volume
de dados que eu já tenho (...),
que está sendo informado ao
Ministério Público e ao juiz,
diuturnamente", disse Queiroz, em ligação de 9 de julho.
A assessoria de comunicação
do Departamento da Polícia
Federal em Brasília informou
que o órgão não comenta o relatório de inteligência nem detalhes da Operação Satiagraha.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Delegado que prendeu Duda foi afastado Índice
|