São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO

Marqueteiros cresceram ligados a governos

João Santana, de Marta, foi sócio de Duda Mendonça; González, de Kassab, tem contratos com o governo paulista e a prefeitura

Lucas Pacheco, que atua agora para Geraldo Alckmin, desde 1985 faz campanhas do senador e ex-governador tucano Tasso Jereissati (CE)


DA REPORTAGEM LOCAL

Os marqueteiros que a partir de agora controlam as rédeas dos programas televisivos das campanhas dos principais candidatos à Prefeitura de São Paulo neste ano têm vínculos com governos e políticos desde a década passada.
João Santana, publicitário da candidata Marta Suplicy (PT), cresceu em sociedade com o marqueteiro Duda Mendonça, aliado contratado de Paulo Maluf (PP). Em 2005, Duda admitiu, no escândalo do mensalão, ter remetido dinheiro de caixa dois para as Bahamas.
O PT declarou que Santana vai receber R$ 6 milhões pela campanha de Marta. Para reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem hoje é consultor informal, Santana declarou ter recebido R$ 13,75 milhões em 2006.

Alckmin
O publicitário Lucas Pacheco, que atua para Geraldo Alckmin (PSDB), desde 1985 faz as campanhas do senador e ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB) e atuou na agência de publicidade Agnelo Pacheco, cujo dono é seu irmão. A Agnelo foi contratada em 2001 pela Prefeitura de São Paulo, na gestão Marta, e hoje detém contratos com os ministérios da Saúde e do Turismo.
Pacheco trabalhou com o deputado Ciro Gomes, hoje no PSB, e com o senador Fernando Collor (PTB), quando o ex-presidente disputou o governo de Alagoas em 2002. No Rio, fez a campanha de Sérgio Cabral (PMDB) à prefeitura em 1996.

Kassab
Marqueteiro de campanha de Gilberto Kassab (DEM), o publicitário Luiz Zinger González, da agência Lua Branca, detém contratos de publicidade com o governo do Estado e com a Prefeitura de São Paulo.
No ano eleitoral de 2008, a agência contará com um bolo de R$ 34,6 milhões do governo estadual para adquirir espaço de propaganda nos meios de comunicação. Esse é o valor previsto no contrato assinado em março.
Nos anos anteriores, a média anual havia sido de R$ 29 milhões. A maior parte desses recursos é destinada aos meios de comunicação, que remuneram a agência a partir do valor repassado pelo governo.
A Prefeitura de São Paulo destinou R$ 51 milhões à agência do marqueteiro de Kassab entre fevereiro de 2007 e junho deste ano.
O contrato original assinado em 2005 entre o governo estadual e a agência de González previa gastos de R$ 25 milhões. Entre 2005 e 2008, contudo, os repasses atingiram R$ 88 milhões, segundo levantamento feito pela liderança do PT na Assembléia Legislativa. O sistema de gastos do governo estadual não é aberto ao público e aos jornalistas, ao contrário do Siafi, o sistema de acompanhamento de gastos da União -por isso, é preciso recorrer ao trabalho da assessoria técnica das bancadas da Assembléia.
O primeiro contrato com o governo foi assinado em julho de 2005. Previa R$ 25 milhões por 12 meses (válido até julho de 2006), mas foi prorrogado. O novo contrato, assinado em março de 2008, prevê R$ 34,6 milhões. Mas por um prazo 50% menor, seis meses.
Parecer do conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) Edgard Camargo Rodrigues, de 25 de junho passado, sobre as contas do governador José Serra (PSDB) no ano de 2007 apontou: "Os gastos de propaganda/publicidade significaram R$ 90,659 milhões, ou acréscimo bastante significativo de 76,51% frente ao exercício anterior (R$ 51,3 milhões)", escreveu o conselheiro.
O conselheiro deu parecer favorável à aprovação das contas do governador, "com as apontadas advertências e recomendações constantes do corpo deste relatório".
González recebeu a reportagem em sua agência, mas não quis gravar uma entrevista. Mais tarde, por e-mail, disse que a Folha se valia de "premissas erradas" e "contas erradas". Ele se recusou a aceitar que a Lua Branca seja a destinatária dos recursos públicos -nos sistemas de acompanhamento de gastos de prefeituras, Estados e União, o beneficiado é a agência de publicidade, que se encarrega então de fazer os pagamentos aos meios de comunicação. Alegou que os gastos com publicidade do governo Serra "não cresceram" entre 2005 e 2008, entendimento contrário ao do conselheiro do TCE (leia texto ao lado).
Conselheiro consultivo da Fundação Mario Covas, González também foi sócio-fundador da GW Comunicação e da GW Brasília, que detiveram boa parte das verbas publicitárias dos governos do PSDB, nacional e estadual, desde os anos 90. (RANIER BRAGON, RUBENS VALENTE E JOSÉ ALBERTO BOMBIG)


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