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CASO SANTO ANDRÉ
Ivone Santana critica a versão da Promotoria para o caso e ataca familiares de prefeito assassinado
Para namorada de Daniel, há "conspiração"
Jefferson Coppola/Folha Imagem
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Ivone Santana, 40, namorada do prefeito de Santo André Celso Daniel, morto em janeiro de 2002 |
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A socióloga Ivone Santana, 40,
namorada de Celso Daniel quando ele foi morto em 2002, classifica como "teoria da conspiração" a
tese do Ministério Público de que
o assassinato do prefeito foi encomendado por pessoas próximas a
ele, como o empresário Sérgio
Gomes da Silva, preso sob acusação de ser o mandante do crime.
"Não vejo indícios de que o Celso estava recebendo ameaças ou
tendo preocupação com sua segurança. Andávamos o tempo inteiro juntos", declarou em entrevista
à Folha, em seu apartamento em
Santo André, na sexta-feira.
A defesa de Ivone vai além da
esfera criminal. Ela diz, de forma
contundente, achar pouco provável a existência de corrupção na
Prefeitura de Santo André durante a segunda gestão de Daniel
(2001-2002). "Acho difícil, pela
nossa relação e pelo grau de circulação que eu tinha na prefeitura."
Para a Promotoria, Gomes da
Silva participou de um esquema
de cobrança de propina de empresários de transporte. Parte do
dinheiro financiaria campanhas
do PT. A morte de Daniel teria relação com desvios na prefeitura.
O alvo de Ivone é a família do
prefeito, que não descarta a hipótese de o crime ter tido motivação
política: "Os irmãos do Celso o
procuravam pouco, a não ser para
pedir coisas como suspensão de
multas. Eles ignoraram todos esses anos a vida do Celso".
O economista Bruno Daniel, irmão mais novo, o teria apresentado a Gomes da Silva, segundo Ivone, no final dos anos 80. O empresário trabalhava com educação.
"O Bruno, que era o irmão intelectual, foi rejeitado [não trabalhou no governo]. E o cara que
eles indicaram, que era um professorzinho, um segurança, aproximou-se do Celso. Se é para fazer
especulação, podemos especular
nesse sentido", disse Ivone, que
hoje leciona ética no setor público
em instituições da cidade.
A socióloga, que conhecia Daniel desde 1977, disse ainda que
ele era pai de sua filha Liora, 18. A
menina é oficialmente filha de
Michel Mindrisz, secretário municipal de Saúde. Em agosto de
2002, Ivone entrou na Justiça com
um pedido de reconhecimento de
paternidade. Afirmou ter anexado no processo resultado de exame de DNA feito com um fio de
cabelo do prefeito, que teria conhecimento da paternidade, encontrado em uma de suas bolsas.
"As pessoas vão ter de falar o
que sabem", disse. "Acho que há
um silêncio muito grande em relação a isso", completou.
Folha - Como a sra. viu a denúncia
da Promotoria contra Sérgio Gomes da Silva, acusado de mandar
assassinar Celso Daniel?
Ivone - Do que eu vi, não há prova de nada. Vejo, pela imprensa,
um cenário de conspiração que
pessoas distantes do Celso fizeram. Não vejo os que eram próximos, em que ele confiou todo o
tempo de gestão, serem ouvidos.
Essas pessoas têm o que dizer. O
lado que a imprensa dá tem bandido, tem adversário político. Eu
não fui ouvida pelos promotores.
Folha - A sra. ainda acha que foi
crime comum?
Ivone - Nunca disse que foi crime comum. Um crime, por si só,
não pode ser comum. Acontece o
seguinte: não vejo indícios de que
o Celso estava recebendo ameaças
ou tendo preocupação com sua
segurança. Andávamos o tempo
inteiro juntos. Confiava plenamente no Sérgio, no Klinger [Souza, vereador do PT e ex-secretário
de Serviços Municipais, acusado
de participar com Gomes da Silva
de um suposto esquema de cobrança de propina na prefeitura].
Folha - A família defende as investigações do Ministério Público.
Ivone Santana - Convivi com o
Celso seis anos e a única vez em
que algum irmão esteve em sua
casa foi quando ele fez uma cirurgia no joelho, e eu chamei o João
Francisco [irmão que denunciou
suposto esquema de corrupção].
Então não sabem da vida pessoal,
muito menos da política. O Bruno
[irmão mais novo] encontrava o
Celso e não o cumprimentava.
Folha - Mas o fato de eles não serem próximos tira a legitimidade
de quererem apuração?
Ivone - Eles têm todo o direito de
reclamar. Mas essas ilações... Ninguém conversava com o Celso
porque eu sempre estava junto.
Como alguém pode falar que tem
uma coisa de propina? Isso quem
alimentou foi o Ministério Público. Eu, que convivia com o Celso e
com os secretários, nunca vi isso.
Folha - Celso Daniel tinha uma relação próxima com Klinger?
Ivone - As pessoas que estavam
no secretariado eram amigas dele.
E também tinham pessoas menos
próximas. Isso não significa que
ele saía para jantar com o Klinger.
Não saía com ninguém, aliás.
Folha - E com Gomes da Silva no
dia do sequestro?
Ivone - A gente ia jantar com o
Sérgio. Às seis e pouquinho, o
Celso me ligou. Eu disse que não
estava em casa. Ele passou no
meu trabalho. Falei que estava
pensando em não ir porque a gente iria passar o dia seguinte em
São Paulo, trabalhando no programa de governo de José Genoino [então pré-candidato ao governo do Estado]. Estava pensando em levar o Gabriel [filho de 7
anos] ao Rubayat, um lugar que a
gente frequentava. Mas era frio
demais, cadeira desconfortável.
Falei que não iria. O Sérgio, que
estava junto, insistiu que eu fosse.
Folha - Nunca chamou a sua atenção o fato de Gomes da Silva ter
passado de segurança do prefeito a
empresário em menos de dez anos?
Ivone - Até hoje não sei o volume
disso que as pessoas dizem: um
milionário. Nunca vi nada disso.
Para mim, é difícil mensurar.
Folha - E as denúncias de corrupção da família Gabrilli, dona de empresa de transporte na cidade?
Ivone - O João Francisco e os Gabrillis eram amigos a vida inteira.
Os irmãos do Celso o procuravam
pouco, a não ser para pedir coisas
como suspensão de multas. Eles
ignoraram todos esses anos a vida
do Celso. Confiei na conclusão do
inquérito das polícias civil e federal. Por que não se manifestam
agora? Por que estão sumidos?
Acho que isso é uma coisa política, a polícia não defender o inquérito que fez. Uma vergonha.
Folha - Celso Daniel foi filmado
saindo do restaurante com uma
calça bege. Foi encontrado morto
de jeans. No laudo do IML, os buracos de tiros na perna são incompatíveis com os da calça.
Ivone - Eu não sei. A primeira
coisa que penso é que ele pode ter
levado os tiros sem estar com a
calça. Eu era a única pessoa que
entrava na casa do Celso. A única.
No dia seguinte ao sequestro, eu
estive lá para olhar a secretária
eletrônica. Tínhamos uma faxineira que jamais poderia ter tirado uma calça de lá porque todas
estavam lá. Ele só usava calça bege
e jeans. Até me lembro da calça.
Fui no IML verificar. Ela tinha um
tamanho diferente. Compramos
uma Levi's, que tinha um padrão
americano e servia para ele.
Folha - A sra. o viu de jeans quando ele passou no seu trabalho?
Ivone - Quando nós nos despedimos, para mim, ele estava de
azul. Mas ele também poderia estar... Você entende que eu não
quero dar resposta mais fácil ou
mais simples. A calça que me
mostraram [no IML] era dele.
Folha - Mas não pode afirmar se
era jeans a que ele vestia?
Ivone - Para mim, era a calça
jeans. Só posso acreditar que era a
mesma calça. [Pausa] Era a jeans.
Folha - A sra. foi à casa dele quando soube do sequestro?
Ivone - Queria ver a secretária
eletrônica. Não conseguia pegar
os recados. O Klinger me deu carona. Infelizmente pedi para ele
me dar carona. E hoje tem essa
coisa [questionamentos sobre a
ida de Klinger ao local].
Folha - Ele subiu?
Ivone - Klinger subiu e ficou na
porta. Eu passei pelo quarto, pela
lavanderia. Olhei a casa toda.
Folha - A sra. retirou alguma coisa do apartamento?
Ivone - Não retirei nada. Já está
provado pela Polícia Federal.
Folha - E uma fita da secretária
eletrônica?
Ivone - Eu a entreguei para o
DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa].
Folha - A sra. a ouviu?
Ivone - Quando cheguei ao apartamento, voltei até onde havia recados. Eram meus, sinais. Não tinha nada.
Folha - Em escutas telefônicas feitas pela PF, um advogado que trabalhou para o PT pergunta se a sra.
havia guardado a fita.
Ivone - Não lembro. Pediram
que eu desse a fita [à polícia], e eu
entreguei.
Folha - Nas escutas, a sra. diz
aguardar "orientação do José Dirceu", então presidente do PT. Que
tipo de orientação era essa?
Ivone - Nunca recebi telefonema
de ninguém do PT. O único contato foi com o [Luiz Eduardo]
Greenhalgh [deputado do PT que
acompanhou as investigações].
Estava muito insegura, nervosa.
Não iria sozinha [aos depoimentos], não iria dirigir para lá [polícia]. Era suporte de levar e trazer.
Folha - E orientação para depor?
Ivone - Tinha um milhão de coisas [entrevistas] que era para ir
com alguém do PT. Pedi que alguém, não sei se da prefeitura ou
do escritório, visse o que era isso,
quem é que iria do PT. Não havia
nada disso de blindagem.
Folha - Um amigo faz comentário
sobre a "linha da dor de uma viúva" que a sra. teria feito em entrevista à Folha após a morte de Daniel.
Ivone - Não sei se isso foi dito. Eu
não precisava fazer linha de viúva.
Mas atribuo isso a quando era namorada do Celso. Mas, pelo nosso
jeito, muitas pessoas não viam assim. Podem perceber que só eu fiquei do lado do caixão. O Celso
morto, e as pessoas confabulando
na sala vip [do velório], tomando
suquinho, comendo bolachinha.
Folha - Como é a sua relação com
Gomes da Silva e Klinger hoje?
Ivone - Do Sérgio, tenho a mesma distância de sempre. Nosso
ponto de contato era o Celso. Encontro na padaria com a mulher,
trombo com o filho. Com o Klinger falo muito mais. É meu amigo.
Folha - O PT ou Gomes da Silva
deu alguma ajuda para a sra.? Ajuda financeira, por exemplo?
Ivone - Sabe quem deu ajuda? O
professor Jaime Guedes da Unia
[centro universitário na cidade].
Convidou-me para dar aula.
Folha - Foi a única ajuda?
Ivone - Era a única ajuda que
queria, trabalho.
Folha - Para o senador Eduardo
Suplicy [PT-SP], o caso está se aproximando da verdade.
Ivone - Os meios de comunicação atribuem uma áurea ao Suplicy. Ele fala sobre qualquer assunto com notório saber. Já embarcou em muitas coisas que não
eram nada daquilo. Não sei por
que se presta a um papel assim.
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