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JANIO DE FREITAS
O bom sinal e outro melhor
O questionamento à versão dos criminosos não perderá valor se não chegar às respostas insuspeitas
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A INICIATIVA DO ministro Nelson Jobim de dar como também do governo a versão dos
militares criminosos, para o assassinato com tortura dos três jovens da
Providência, foi muito mal recebida
na Presidência da República. Bom
sinal. Inaugura na Presidência a tão
atrasada recusa ao comprometimento com explicações à velha maneira, montadas por conveniências
de militares.
E melhor sinal ainda ao permitir o
imediato reconhecimento, por uma
comissão especial chefiada pelo determinado ministro da Secretaria de
Direitos Humanos, Paulo Vanucchi,
de que a versão do Exército, de Jobim e dos militares envolvidos é negada por depoimentos e evidências
já recolhidos pela comissão na Providência. Nas palavras de Vanucchi:
"Os relatos dos moradores contradizem a versão do Exército", e narram,
inclusive, "maus-tratos anteriores
contra os moradores".
O questionamento da comissão à
versão dos criminosos, encampada
por inteiro e a priori também por
imprensa, TV e rádio, não perderá
valor se não chegar às respostas insuspeitas. Seu primeiro passo já é
um ato de hombridade dos autores e
de respeito às leis e à democracia.
Mas a probabilidade de que a comissão especial chegue a fatos reais e às
explicações necessárias estreita-se,
ou tende a isso, caso dependa de colaboração militar e da polícia.
Daí que, nesse caso, um aspecto
paralelo merecedor de exame é o
motivo que levou a polícia ao extremo possível de cautela, para não se
comprometer com a versão dos crimes além do mínimo inevitável. As
armas dos 11 militares envolvidos,
por exemplo, não foram recolhidas
para a confrontação pericial com as
perfurações por tiros (a monstruosidade de 46 nos três rapazes). Além
de tecnicamente obrigatória, a confrontação, no caso, era indispensável. Tudo começou por um incidente dos militares com os rapazes e um
destes foi visto por sua mãe, "caído
ensangüentado", em quartel do
Exército.
A polícia também não quis ir ao
que seria, na versão imposta, o local
da execução no morro da Mineira,
como faz, por outra obrigação técnica, mesmo em circunstâncias de alto
risco (o caso do jornalista Tim Lopes
é exemplar). Não se interessou nem
por tomar depoimentos imediatos,
antes de esperáveis ameaças e ofertas silenciadoras, de famílias das vítimas e de circunstantes com algo a dizer ou a negar na Mineira e na Providência. Em um e outro morro não
faltaria, àquela altura, quem tivesse
contribuições a dar, nos dois sentidos.
Em vez da colaboração oportuna,
famílias ameaçadas agora pedem
abrigo no programa de proteção a
testemunhas. Ameaçadas por
quem? As famílias das vítimas e outros moradores da Providência, até
onde se pode supor, não teriam como prejudicar bandidos da Mineira
não identificados. A polícia não tem
motivo imaginável para fazer ameaças, se o que mais quis, até agora, foi
guardar silêncio e distância. Onde
poderia estar o interesse em intimidar familiares das vítimas e outros
moradores da Previdência - eis um
mistério que dispensa interrogações.
As interrogações necessárias estão com a comissão especial, como
as esperanças que possamos ter, ainda, de não ver torturas e assassinatos outra vez guardados nos mesmos porões das negaças e dos mutismos, sem verdade e sem justiça.
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