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NO AUGE DA CRISE
Ministério da Estabilidade da Moeda foi descartado; colegas temiam pela saúde do executivo
Governo cogitou criar pasta para Meirelles
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, quase
foi nomeado para uma nova
pasta -o Ministério Extraordinário da Estabilidade da Moeda.
A medida foi discutida no auge
da crise em que a lisura de seu
patrimônio foi questionada.
Como ministro da Estabilidade da Moeda, Meirelles acumularia o cargo com a presidência
do BC e teria foro privilegiado. A
alternativa foi vista como casuística e folclórica. Outra opção era
dar foro privilegiado ao presidente do BC, sem elevá-lo ao status de ministro. Aconselhado
pelo ministro Márcio Thomaz
Bastos (Justiça), o governo optou pela solução mais simples e
na segunda-feira foi publicada
numa edição extra do "Diário
Oficial" da União uma medida
provisória conferindo ao presidente do BC o status de ministro.
Apesar de ter ganhado força a
partir de meados de julho, a "crise Meirelles" é antiga. Ele pedia
desde o início do governo o foro
privilegiado. Há uns seis meses,
numa reunião entre Lula e o ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda), ficou decidido que
ele seria atendido, mas Palocci se
esqueceu de tocar o assunto.
No mês passado, quando começou um bombardeio de reportagens questionando operações patrimoniais do presidente
do BC, Meirelles voltou a pressionar Palocci. O ministro procurou Lula, que ficou chateado
por ele não ter resolvido o assunto antes. Lula disse que, no auge
da crise, não adotaria a medida.
Decepcionado, Meirelles ficou
emocionalmente abalado. Colegas de governo relataram que temiam que ele tivesse até um problema sério de saúde. Preocupado, Palocci articulou um café da
manhã de Meirelles com ele, Lula, Bastos, José Dirceu (Casa Civil) e o senador Aloizio Mercadante (SP). Meirelles obteve a
promessa de que seria blindado
quando a crise acalmasse.
Mas, em 12 de agosto, uma
operação da Polícia Federal e do
Ministério Público para apreender documentos na Caixa Econômica Federal assustou Meirelles. No dia seguinte, ele disse a
Palocci, segundo a Folha apurou: "Vão fazer isso no Banco
Central. Imagine a repercussão".
Ciente de que Lula viajaria ao
exterior, Palocci pediu para Lula
deixar uma MP assinada. No domingo passado, Meirelles convenceu Palocci, Dirceu e Bastos a
bancarem a MP. No dia seguinte, Lula foi consultado por telefone. Deu sim, mas pediu que
Dirceu falasse com o vice José
Alencar, então presidente interino. Alencar disse a Dirceu que
assinaria sem problemas a MP,
mas acatou a solução da edição
extraordinária do "Diário Oficial". Passada a repercussão negativa, que já era esperada, um
membro da cúpula do governo
disse à Folha que achava que o
preço político seria maior do
que foi.
(KENNEDY ALENCAR)
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