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Tanga original não era lilás nem de crochê
DA SUCURSAL DO RIO
Todo mundo já ouviu falar da
tanga de crochê lilás que Fernando Gabeira teria usado nas areias
de Ipanema a partir do final de
1979. Há quem diga que até a viu.
Mas a original não era bem uma
tanga, não era de crochê e muito
menos lilás. "Vinha da Europa,
acostumado a praias em que havia pessoas nuas. Peguei a parte
de baixo do biquíni da Leda Nagle
[jornalista, prima de Gabeira] e
fui para a praia. Não era de crochê
nem lilás. Era amarela e azul, cores da Suécia, onde havia morado,
e de uma certa maneira do Brasil
também", recorda Gabeira.
No verão de 1980, a tanga já estava puída. "Aí sim, fui a uma loja
da Fiorucci e comprei uma tanga
lilás, mas que não era de crochê.
Era um outro material", conta.
Ele havia se comprometido com
integrantes do jornal "O Lampião", que lançava a bandeira do
direito à variedade sexual, a defender o movimento. A tanga virou então símbolo de uma causa.
"Tanto o individualismo como
o narcisismo, em determinado
momento histórico, foram progressistas, quando era negada a
individualidade e se estava subjugado a projetos coletivos que ignoravam uma série de fatores importantes", analisa hoje. "Colocado isso em cena, a absorção pelo
capitalismo foi muito forte. A indústria da alimentação, do corpo,
da beleza tomou forma colossal."
A "tanga de crochê lilás" foi a
maior bandeira de marketing político-comportamental de 1980.
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