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PT SOB SUSPEITA
Romero Teixeira Niquini mantém contratos para serviços de limpeza em duas capitais de administração petista
Empresário herda R$ 70 mi em contratos
CHICO DE GOIS
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário de transportes Romero Teixeira Niquini herdou,
em seis meses, quase R$ 70 milhões em contratos para serviços
de limpeza em duas capitais administradas pelo PT.
O presidente de empresas de
seu grupo é Willian Ali Chaim, ex-tesoureiro da campanha a deputado federal de Rui Falcão, secretário de Governo da Prefeitura de
São Paulo, e ex-assessor do presidente nacional do PT, deputado
José Dirceu (leia texto abaixo).
Em 1998, Niquini declarou rendimento médio de R$ 2.500 por
mês e nenhum patrimônio. No
ano passado, porém, seu patrimônio já somava mais de R$ 4 milhões e seus rendimentos, R$ 50
mil por mês -20 vezes mais.
Os contratos de Niquini com as
prefeituras petistas estão sob a
mira do Ministério Público e de
vereadores, que desconfiam de
um suposto beneficiamento a
empresas de lixo e de transporte.
Em Belém, a oposição aprovou
a criação de uma CPI para investigar o caso, mas a prefeitura conseguiu derrubá-la na Justiça.
O promotor Fernando Capez,
da Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo, acredita que
"há claramente um esquema para
beneficiar [empresas" de lixo e
transportes nos municípios administrados pelo partido".
Empresário mineiro que teve
sociedade em vários empreendimentos já inativos, Niquini começou a chamar a atenção do setor
de limpeza urbana em junho deste ano, quando adquiriu a Cliba
Ltda. por R$ 28,5 milhões.
A empresa tem um contrato de
R$ 50 milhões com a prefeitura
paulistana, por um ano de serviço, podendo ser renovado por
igual período.
Empresa argentina, a Cliba começou a trabalhar em São Paulo
no final da gestão Pitta (1997-2000) e foi contratada sem licitação, em um processo de emergência, para prestar serviços ao município no início do ano passado.
O diretor do Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) responsável por essa contratação foi
Alfredo Buso, que hoje trabalha
na campanha à reeleição do deputado José Dirceu.
Em abril deste ano, a Cliba ganhou uma licitação da prefeitura
para fazer o serviço de limpeza
por um ano. A empresa foi uma
das doadoras da campanha de
Marta Suplicy -deu R$ 251 mil.
Em agosto, quando os funcionários da Cliba entraram em greve por falta de pagamento, Chaim
foi um dos responsáveis por negociar a volta ao trabalho.
Belém
A história do envolvimento de Niquini com o setor de lixo em cidades administradas pelo PT, porém, teve início em 30 de novembro de 2001. Na ocasião, ele adquiriu, por R$ 3,2 milhões, a Emparsanco Belém Ambiental, empresa
que mantém contrato com a Prefeitura de Belém desde 1998.
Em junho, a Folha noticiou que
a escolha da Emparsanco pela
Prefeitura de Belém foi marcada
por suspeitas de favorecimento. A
presidente da comissão de licitação, Edilene Rodrigues, é irmã do
prefeito da cidade, Edmilson Rodrigues. Além disso, o petista Ricardo Pereira da Silva, funcionário da Prefeitura de São Paulo e
dono da Rodvias Engenharia, foi
um dos responsáveis pela avaliação técnica das concorrentes. A
Emparsanco é cliente da Rodvias.
Outro que teve participação no
processo em Belém foi Nelson
Frateschi, irmão do presidente do
PT de São Paulo, Paulo Frateschi,
e dono da Engelix, empresa que
também presta serviços para a
Emparsanco. Frateschi e Ricardo
participaram ainda de grupos de
trabalhos na Prefeitura de Belém
para debater projetos de interesse
da prefeitura.
A venda da Emparsanco Belém
para Niquini pegou o mercado de
surpresa. Documento obtido pela
Folha demonstra que o acerto do
pagamento seria feito em quatro
prestações de R$ 300 mil cada e
mais R$ 2 milhões divididos em
dez vezes. A empresa Expresso
Urbano São Judas Tadeu, de propriedade de Niquini, figura como
avalista da compra.
Na data da negociação, Niquini
também deu como parte de pagamento um helicóptero modelo
Agusta A 109/A2, matrícula PT-YTB, ano de fabricação 1986.
Com a transação, o saldo do
contrato que a Emparsanco mantinha com a Prefeitura de Belém,
no valor de R$ 23 milhões, conforme documento da transação
comercial entre as partes, passou
a ser direito de Niquini. Ou seja:
ele pagou R$ 3,2 milhões e ganhou, no ato da compra, a possibilidade de faturar sete vezes mais
em um ano e meio.
Em agosto deste ano, a Emparsanco Belém, comprada por R$
3,2 milhões, adquiriu a Cliba Ltda.
por R$ 28,5 milhões.
No mesmo mês, a empresa que
vendeu a Emparsanco Belém para
Niquini entrou com um pedido
de falência contra a Expresso Urbano São Judas Tadeu. No Tribunal de Justiça há pelo menos 20
pedidos de falência contra as empresas de Niquini. Apesar disso,
ele continua comprando.
Pouco antes de assumir a presidência das empresas de ônibus de
Niquini, Chaim coordenava a
campanha a deputado federal de
Ricardo Zarattini, pai do secretário municipal de Transportes,
Carlos Zarattini. Antes ainda, ele
foi presidente da ETCD (Empresa
de Transporte Coletivo de Diadema). Há 15 dias, depois que a Folha começou a investigar o relacionamento entre as as empresas
de Niquini e as administrações
petistas, a secretaria rompeu os
contratos que mantinha com o
empresário (leia texto abaixo).
Niquini foi sócio, também, de
Baltazar José de Souza, concunhado de Ronan Maria Pinto, denunciado pelo Ministério Público por
suposto esquema de arrecadação
de propina em benefício do PT.
Quando Chaim dirigia a ETCD,
ele fez modificações no sistema de
transportes que acabariam beneficiando a empresa de Baltazar,
que o indicaria para trabalhar
com Niquini. Chaim, porém, diz
que o benefício aos empresários
surgiu com sua atuação contra os
perueiros na cidade.
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