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NO PLANALTO
Os diálogos secretos de Pinheiro Landim
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pinheiro Landim (PMDB-CE) é um tipo peculiar de deputado. Presente no Congresso,
ninguém nota a sua ausência. É
da tribo que, na definição de Roberto Campos, "tem o diâmetro
do cérebro inferior ao do bolso".
Landim foi revelado ao Brasil
há duas semanas. Arrancou-o da
obscuridade a Polícia Federal.
Descobriu-se que a invisibilidade
não era casual. Era providencial.
Frequenta universo em que a
discrição é atributo congênito: o
submundo do tráfico de drogas.
Teve a voz captada por grampo
telefônico. Trechos foram à TV.
Mero 3 X 4. O retrato de corpo
inteiro mede 400 horas de fita. O
nome de Landim salta da fita como pulga do dorso de cão sarnento.
O repórter obteve cópia de relatório da PF. Coisa "confidencial".
Mostra que, além de mercadejar
habeas corpus, Landim reuniu-se
com megatraficante de cocaína.
O dinheiro sujo pode ter-lhe besuntado a contabilidade eleitoral.
Os diálogos são impróprios para
almas leves. Linguagem rasa, tratada aqui, convém avisar, sem retoques.
Landim, informam as fitas, recebera R$ 337 mil para obter habeas corpus no TRF, em Brasília.
Livraria do xilindró o traficante
Leonardo Dias Mendonça, gigante do comércio de pó.
Como a encomenda tardasse, o
bandido queixou-se a um contato
na capital: "Liga pra essa desgraça desse cabeça chata [Landim],
que esse filho da puta só serve pra
botar no bolso..." Deu-se a 10 de
janeiro de 2002 (página 53 do relatório da PF).
Leonardo recorrera também à
Justiça do Maranhão. Correndo
contra o relógio, Landim falou,
em 15 de janeiro, com Igor Santos
da Silveira, filho do desembargador Eustáquio da Silveira, do
TRF.
Temiam que o Maranhão fosse
mais ágil que Brasília. "Aí fica
chato", resignou-se Igor. E Landim: "Não é só chato. Tem que devolver [o dinheiro]" (página 57
do relatório).
Em 16 de janeiro, o traficante
abespinhou-se ao saber que Landim, no Ceará, ausentara-se de
Brasília: "...Ele deveria cuidar primeiro da coisa que deu lucro pra
ele..." (página 59).
O ansiado habeas corpus saiu
em 24 de janeiro. Assinou-o o juiz
Tourinho Neto, do TRF-1. Decisão ditada pela "consciência",
empenha-se em esclarecer. "Estou
limpo". Landim teria vendido
mercadoria gratuita.
O deputado passou a exigir a segunda parcela da fatura. Em 25
de janeiro, disse a interlocutor:
"...Ele [Leonardo] sai espalhando
pra tudo quanto é filho da puta aí
pra não cumprir, eu ficar..., gastando a fortuna que eu gastei,
não dá" (página 68).
Leonardo decide acertar conta$
com Landim. Foi a Brasília em 19
de março deste ano. No dia seguinte, relatou ao sócio Wilson
Moreira Torres: "Eu fui pra ver
um outro negócio, porque o cara
me falou que o véio [Landim] tava puto...Conversamos..., um
monte de trem bão... Animei com
o garimpo" (página 77).
Leonardo prosseguiu: "...Ele
[Landim] falou o seguinte pra
mim: manda ele seguir a vida dele e cassar (sic) um jeito de arrumar papel pra campanha". Risos.
"... Num deixou de dar uma cantada, né?" Mais risos (página 79).
O traficante, ainda em 19 de
março, a outro comparsa: "...Falamos tudo... O que tinha pago, o
que num tinha pago". Fez referência a algo que a PF supõe estar
relacionado à campanha eleitoral: "...Esse ano [2002] ele tem que
se virar, né?... Ele vai tá matando
jacaré a beliscão..." (página 145).
Em 7 de abril, um domingo, Silvio Rodrigues da Silva, "mala
preta" de Landim, combina com
membro da quadrilha de Leonardo: "...O do Pinheiro é... R$ 120
mil na terça e R$ 120 mil na quinta... vou trazer o dinheiro pro deputado, né?" Em 9 de abril, terça,
Silvio confirma recebimento parcial: "Noventa e quatro, viu?" E o
bandido: "... Daqui a pouco cai o
resto" (página 81).
No dia 10 de abril, Silvio alerta
ao traficante Leonardo: "...Me pegaram no banco... O cara falou: ó,
esse dinheiro seu não tem origem... Cê fica esperto... Eles tão
rastreando essa conta" (página
84).
Em 24 de abril, Silvio informa a
Landim: "...Tô aqui em Goiânia,
aguardando ele [Leonardo]... A
previsão é até sexta ele tá aqui
com o valor, com espécie, entendeu?" E Landim: "Eu sei..."
Ainda o deputado: "Aquele assunto do Amarildo [Oliveira Beirigo, piloto de Leonardo, que estava preso]..." Insinua que a "solução" pedia grana: "...Querem
vapt-vupt ... quando resolver... tá
dependendo só disso..." (páginas
86 e 87).
Em 9 de maio, Silvio fala com
quadrilheiro de Leonardo: "...Tô
esperando ele chegar... tem que
dar cento e quarenta contos hoje
pra mim (sic) dar pro Pinheiro..."
(página 88).
Como previsto, Leonardo avistou-se com Silvio naquele dia 9.
Discaram para Landim. E o deputado: "Eu vou ... agora pro aeroporto e a gente se encontra..."
(página 89).
No dia 10 de maio, Silvio conta
a interlocutor: "...E o dólar também. Passou tudo. Ontem eu peguei o baixinho, botei o Pinheiro
dentro do carro e nós foi (sic) conversar a três..." (página 117).
Libertado três vezes da cadeia,
Leonardo recomenda o esquema
brasiliense a outro traficante, Orlando Marques dos Santos, preso
em Goiânia. Pelo celular, Orlando contou à ex-mulher ter descoberto "um jeito pra resolver aquele negócio em Brasília". O preço?
"Quatrocentos mil dólar, mulher..." (página 132).
A um empregado, Orlando traduziu a fatura em reais: "... Cobraram 1 milhão e cem, rapaz...
Ofereci 700". Orlando, de novo,
em outras ligações: "É foda né,
meu? É ladrão em cima de ladrão..." (página 134). "Lá em Brasília... a máfia que tem lá, né? Até
ministro no meio..." (página 137).
O documento da polícia vincula
a movimentação de Landim a decisões do TRF-1 e do STJ. Menciona contatos da bandidagem até
no Ministério Público. Procurado
pelo repórter, Landim preferiu o
silêncio. Ele e todo o PMDB.
O grampo contém trecho em
que um traficante faz referência,
sem nominar, a um "senador".
Elogia-lhe a eficiência: "O negócio dele é 24 horas, bate lá e resolve..." (página 47).
Quem lê o relatório da PF tem
saudades dos tempos em que se
traficava no Congresso apenas influência. Bons tempos.
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