UOL

São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO CC-5

Dinheiro foi enviado por "offshores" geridas por brasileiros no Banestado

Apelidos ocultam milhões de dólares em contas secretas

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Contas bancárias batizadas com nomes de animais e adjetivos escondem os verdadeiros donos de fundos milionários mantidos em diversas agências dos EUA a partir de dinheiro enviado por empresas "offshore" geridas por brasileiros na agência do Banestado (Banco do Estado do Paraná) de Nova York (EUA).
Para abrir essas caixas-pretas, a Polícia Federal só pode contar com a cooperação do governo americano.
"[Deve-se] buscar, com o apoio da polícia federal norte-americana (FBI), nos termos do acordo de cooperação mútua já em andamento, a identificação dos beneficiários finais, principalmente, dos donos e procuradores das empresas "offshore" que mantinham contas correntes em outros bancos dos EUA", concluem os peritos no laudo técnico da PF que analisou a movimentação financeira de 137 contas da agência nova-iorquina do banco.
Contas registradas com nomes de fantasia, como "Tucano", "Flamingo", "Zebra" e "Formidable", representam um mistério para a polícia. Para a PF e o Ministério Público Federal, podem ter sido o caminho de dinheiro de corrupção, narcotráfico e contrabando de armas.
Só a quebra de sigilo nos bancos americanos poderá dizer se o dinheiro rumou para outros países e se há brasileiros beneficiados na ponta. Sobre essas contas, a polícia sabe apenas seus números e as empresas "offshore" que as alimentaram entre abril de 1996 e dezembro de 1997 (período coberto pela investigação).
Além dos nomes de pássaros, a "Tucano" e a "Flamingo" guardam outras semelhanças. As duas foram abertas na agência do banco Chase Manhattan de Nova York como subcontas da "offshore" chamada Beacon Hill Service Corporation, sobre a qual pouco sabe a polícia brasileira.
O Ministério Público do Distrito Federal informou que nove contas estão sendo rastreadas no Chase pelo governo americano, incluindo a "Tucano", mas os resultados do trabalho ainda não estão ao alcance das autoridades brasileiras.

Relações
Somente entre 16 de outubro de 1996 e 27 de fevereiro de 1997, a "Tucano", de número 310035, recebeu US$ 9,6 milhões. O dinheiro veio do Banestado a partir, principalmente, da conta da June International Corporation, "offshore" com sede nas Ilhas Virgens Britânicas administrada pelo doleiro do Paraná Alberto Youssef, procurador da June. A "Tucano" também foi alimentada pela casa de câmbios paraguaia Tupi.
"Nas ordens de pagamento que têm como beneficiário "Tucano", o campo BBK [utilizado para especificar dados do banco que mantém a conta corrente do beneficiário final da ordem de pagamento] é sistematicamente preenchido em nome de "Beacon Hill Service Corp.", ensejando um possível relacionamento entre ambos", conclui o laudo policial.
Há contas também registradas com apelidos. A conta "Formidable" (formidável, em espanhol), aberta no banco Audi USA, faz jus ao nome. Somente entre 8 de outubro e 30 de dezembro de 1996, recebeu US$ 10,1 milhões. O dinheiro veio quase todo da conta no Banestado da "offshore" Quetra S/A, sediada em Montevidéu, no Uruguai.
Duas de nome "Miro", também subcontas da Beacon Hill, foram abertas no Chase e no Chemical Bank de Nova York. Juntas, receberam US$ 1,56 milhão somente entre 7 de julho e 24 de setembro de 1996. Também surgem como subcontas da Beacon Hill.
Novamente, os peritos constatam: "Nas ordens de pagamento que têm como beneficiários "Flamingo", "Ícaro" e "Miro", o campo BBK é sistematicamente preenchido em nome de "Beacon Hill Service Corp.", ensejando um possível relacionamento daquelas empresas com esta última".
O laudo policial também aponta contas identificadas apenas por números, praias, substantivos e jóias. A conta "Safira" no banco Audi recebeu da June International US$ 250 mil no dia 26 de fevereiro de 1997. A conta "Carinho", do mesmo banco e no mesmo dia, recebeu US$ 100,6 mil.


Texto Anterior: Leia a íntegra da "Carta de Brasília"
Próximo Texto: No Planalto: Deixem o grampo em paz
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.