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CASO CC-5
Dinheiro foi enviado por "offshores" geridas por brasileiros no Banestado
Apelidos ocultam milhões de dólares em contas secretas
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Contas bancárias batizadas com
nomes de animais e adjetivos escondem os verdadeiros donos de
fundos milionários mantidos em
diversas agências dos EUA a partir de dinheiro enviado por empresas "offshore" geridas por brasileiros na agência do Banestado
(Banco do Estado do Paraná) de
Nova York (EUA).
Para abrir essas caixas-pretas, a
Polícia Federal só pode contar
com a cooperação do governo
americano.
"[Deve-se] buscar, com o apoio
da polícia federal norte-americana (FBI), nos termos do acordo de
cooperação mútua já em andamento, a identificação dos beneficiários finais, principalmente, dos
donos e procuradores das empresas "offshore" que mantinham
contas correntes em outros bancos dos EUA", concluem os peritos no laudo técnico da PF que
analisou a movimentação financeira de 137 contas da agência nova-iorquina do banco.
Contas registradas com nomes
de fantasia, como "Tucano", "Flamingo", "Zebra" e "Formidable",
representam um mistério para a
polícia. Para a PF e o Ministério
Público Federal, podem ter sido o
caminho de dinheiro de corrupção, narcotráfico e contrabando
de armas.
Só a quebra de sigilo nos bancos
americanos poderá dizer se o dinheiro rumou para outros países
e se há brasileiros beneficiados na
ponta. Sobre essas contas, a polícia sabe apenas seus números e as
empresas "offshore" que as alimentaram entre abril de 1996 e
dezembro de 1997 (período coberto pela investigação).
Além dos nomes de pássaros, a
"Tucano" e a "Flamingo" guardam outras semelhanças. As duas
foram abertas na agência do banco Chase Manhattan de Nova
York como subcontas da "offshore" chamada Beacon Hill Service
Corporation, sobre a qual pouco
sabe a polícia brasileira.
O Ministério Público do Distrito
Federal informou que nove contas estão sendo rastreadas no
Chase pelo governo americano,
incluindo a "Tucano", mas os resultados do trabalho ainda não estão ao alcance das autoridades
brasileiras.
Relações
Somente entre 16 de outubro de
1996 e 27 de fevereiro de 1997, a
"Tucano", de número 310035, recebeu US$ 9,6 milhões. O dinheiro veio do Banestado a partir,
principalmente, da conta da June
International Corporation, "offshore" com sede nas Ilhas Virgens
Britânicas administrada pelo doleiro do Paraná Alberto Youssef,
procurador da June. A "Tucano"
também foi alimentada pela casa
de câmbios paraguaia Tupi.
"Nas ordens de pagamento que
têm como beneficiário "Tucano",
o campo BBK [utilizado para especificar dados do banco que
mantém a conta corrente do beneficiário final da ordem de pagamento] é sistematicamente
preenchido em nome de "Beacon
Hill Service Corp.", ensejando um
possível relacionamento entre
ambos", conclui o laudo policial.
Há contas também registradas
com apelidos. A conta "Formidable" (formidável, em espanhol),
aberta no banco Audi USA, faz jus
ao nome. Somente entre 8 de outubro e 30 de dezembro de 1996,
recebeu US$ 10,1 milhões. O dinheiro veio quase todo da conta
no Banestado da "offshore" Quetra S/A, sediada em Montevidéu,
no Uruguai.
Duas de nome "Miro", também
subcontas da Beacon Hill, foram
abertas no Chase e no Chemical
Bank de Nova York. Juntas, receberam US$ 1,56 milhão somente
entre 7 de julho e 24 de setembro
de 1996. Também surgem como
subcontas da Beacon Hill.
Novamente, os peritos constatam: "Nas ordens de pagamento
que têm como beneficiários "Flamingo", "Ícaro" e "Miro", o campo
BBK é sistematicamente preenchido em nome de "Beacon Hill
Service Corp.", ensejando um possível relacionamento daquelas
empresas com esta última".
O laudo policial também aponta
contas identificadas apenas por
números, praias, substantivos e
jóias. A conta "Safira" no banco
Audi recebeu da June International US$ 250 mil no dia 26 de fevereiro de 1997. A conta "Carinho",
do mesmo banco e no mesmo dia,
recebeu US$ 100,6 mil.
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