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OUTRO LADO
Filho de ministro diz que rejeitou ofertas de grupo do "comendador"
DO DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Erick José Travassos Vidigal,
28, reconheceu, em entrevista à
Folha, que se encontrou com prepostos do grupo de João Arcanjo
Ribeiro. E que, assim como expresso nos diálogos captados por
grampos da PF, negociou pagamentos de US$ 100 mil e de R$ 2
milhões. Disse ter rejeitado as
ofertas. O filho do ministro Edson
Vidigal travou com o repórter o
seguinte diálogo:
Folha - Qual seria a sua atuação
no caso específico do habeas corpus julgado por seu pai e no contrato mais amplo, de acompanhamento de processos nos tribunais de
Brasília?
Erick - [...] Elaboração de memoriais, elaboração de eventuais pareceres; se fosse o caso, fazer uma
pesquisa doutrinária mais rebuscada, uma pesquisa jurisprudencial [...]. E acompanhar os processos, o julgamento, informar ao
advogado de origem das publicações, dos prazos para recurso. É
esse tipo de trabalho.
Folha - Nos dois casos?
Erick- Sim. No caso do STJ, claro,
se não houvesse impedimento.
Folha - Eles têm advogado em
Brasília. Precisariam do seu trabalho?
Erick - Sim, por uma razão. O
Eduardo [de Vilhena Toledo] tem
estado muito em Cuiabá, participado de audiências.
Folha - Mas ele tem sócios.
Erick - Não sei te dizer.
Folha - A elaboração de memoriais e de pesquisas jurisprudenciais não lhe parece atividade simples demais para justificar remunerações vultosas como US$ 100 mil e
R$ 2 milhões?
Erick - A gente tem o cirurgião
plástico e o Ivo Pitanguy. O grau
de valoração que você atribui ao
seu trabalho é o seu grau. Minha
vida é conturbada. Três filhas,
uma recém-nascida. Para eu abrir
mão do convívio familiar e das
aulas que dou para me dedicar à
advocacia, tem que valer a pena.
Nesse ramo de direito penal, que
não é a minha área, não quero ser
tachado de penalista, criminalista.
Folha - Tendo você um ano de formado e reconhecendo que o direito
penal não é de sua predileção, ainda que se considere um Ivo Pitanguy do direito, por que as pessoas
se dispõem a te remunerar tão
bem?
Erick - Acho que a presunção, o
mito que existe, de que você, por
ser parente de magistrado, possa
solucionar problemas. Tem ministros que fazem palestras dizendo que isso tem que acabar. Meu
pai é defensor da idéia.
Folha - Esse tipo de abordagem é
frequente no seu caso?
Erick - No meu caso, não. Não
tem ocorrido. Tem aumentado há
pouco tempo, mas não é frequente. Eu não fico no escritório sentado. A advocacia é residual. E não
me considero um Pitanguy do direito. Só disse que o valor que atribuo ao meu trabalho é maior.
Folha - O que o leva a atribuir esse valor maior ao seu trabalho?
Erick - Não fui eu que dei esse valor. Isso veio como proposta. E,
no final, não aceitei as propostas.
Não aceitaria por valor nenhum.
Folha - O sr. negociou, não rejeitou prontamente.
Erick - Você me falou de duas
ações. Quando vimos o impedimento no primeiro caso [o habeas
corpus julgado pelo ministro Edson Vidigal], fomos discutir o segundo caso. O valor do primeiro
era muito irrisório, se comparado
ao do segundo.
Folha - US$ 100 mil não me parece quantia irrisória.
Erick - Estou comparando com o
segundo. Esse primeiro valor foi
falado. Se não houvesse o impedimento, verificaríamos se trabalharíamos ou não. A partir da hora em que vi que a coisa não era o
que tinham me falado, comecei a
sair. De fininho, mas comecei a
sair. Não tem como você rejeitar
uma coisa de forma brusca, eu tenho família. Mas foi rejeitado.
Voltei para casa, conversei com a
minha família, com advogados
mais experientes, inteirei-me do
assunto, o caso foi rejeitado.
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