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JANIO DE FREITAS
Inocentes e criminosos
O nome diz tudo: "Operação
Choque e Pavor". Não lhe
falta exprimir nem a dose de sadismo que extravasa dos discursos e entrevistas dos principais
líderes americanos da guerra,
exceto Collin Powell. O choque é
das explosões assassinas, mas o
pavor é da população inocente,
desarmada e indefesa.
Bagdá está sendo destruída,
para glória e gozo dos que se
sentiram vítimas do crime bárbaro de destruição das duas torres de NovaYork.
Só os membros da Al Qaeda
são considerados criminosos.
Outra luta
O repentino e forte ataque do
petista João Paulo, presidente
da Câmara, ao governo de Luiz
Inácio Lula da Silva diz muito
mais do que está nas suas palavras. Por isso mesmo, é duvidoso
que seu propósito principal fosse
apontar o que considera falhas,
algumas de ação administrativa, outras de condução política.
Parte das críticas de João Paulo têm fundamento evidente. "O
governo não está indo bem em
várias coisas (...), "precisa definir definir melhor sua pauta" e
"não pode ficar permanentemente desorientado e desorientando sua bancada no Congresso", sem dúvida. Melhor: "o governo precisa de uma definição
mais precisa do que quer". E foi
aí.
É despropositada, porém, a cobrança que João Paulo faz do
envio, ao Congresso, dos projetos de reforma do governo. Sua
ótica é apenas burocrática, do
ponto de vista administrativo, e,
do ângulo político, oportunista
no mau sentido. Previdência e
tributos impostos são problemas
de enorme gravidade para 170
milhões de pessoas. Seria ou será
leviandade tratá-los em razão
só da oportunidade de aprovar
com mais facilidade o projeto
que o governo envie ao Congresso.
O sentido geral da carga crítica, porém, está voltado para
dentro do governo e do PT. Suas
apreciações sobre o governo,
não tivesse o palestrante um objetivo especial, não seriam tema
apropriado para uma palestra
do presidente da Câmara a donos e dirigentes de supermercados. João Paulo usou a ocasião.
E falou, explicitamente, pela
bancada da qual foi líder até fevereiro.
Está claro, pela atitude de
João Paulo, que as insatisfações
petistas com o governo Lula não
se concentram mais nos pejorativamente chamados de radicais. Disseminam-se. A maioria
dos parlamentares petistas é
moderada, e o próprio João
Paulo mostrou-se dócil a ponto
de conduzir a aprovação da
imoralidade do "foro privilegiado", à qual se opusera até o indigno acordo feito entre o governo que entraria e o que se ia.
Mas a moderação e a docilidade
já não se contêm, e transbordam
por um canal que, na presidência da Câmara, está protegido
da censura e das represálias que
a direção petista acena aos críticos.
A outra dedução oferecida por
João Paulo é a de que a luta de
poder dentro do governo torna-se mais aguda. E, sem dúvida, a
palestra aos supermercadistas
foi, na luta, um lance sem proveito direto para o autor, logo, a
serviço de uma das facções. Tudo indica que a facção contrária
a José Dirceu, que tem sido a vítima preferida das intrigas em
circuito fechado e das que compõem notas e artigos nos jornais.
Sobre a mesma questão - o
nível de responsabilidade de José Dirceu na desorientação do
governo e da bancada -, João
Paulo, segundo o "Globo", disse
que "a culpa não é dele, não sei
exatamente a quem cabe, nem
tenho disposição de procurar saber". Segundo a Folha, disse
apenas: "Não sei" - o que daria conotação e direção claras à
resposta.
A luta de poder no governo
não é, a rigor, restrita aos que o
integram. Conta a contribuição
experiente do PMDB fisiológico,
insatisfeito, como muitos petistas e o próprio João Paulo, com o
esforço de José Dirceu para
montar a base de apoio com o
tempo necessário para ter o menor custo ético e administrativo
possível. Mas não é só este o motivo da luta que se agrava no governo e, já petistas moderados e
dóceis o dizem, o mantém desorientado e desorientando.
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