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OPERAÇÃO ANACONDA
Rodriguez tem registrados 4 imóveis, 3 carros e 2 motos; policial é sócio em obra de R$ 8 mi, diz empresário
Agente tem ao menos R$ 1,45 mi em bens
RUBENS VALENTE
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O agente da Polícia Federal César Herman Rodriguez, 41, apontado como peça-chave no suposto esquema de venda de sentenças
judiciais investigado pela Operação Anaconda, acumula um patrimônio registrado de pelo menos R$ 1,45 milhão, segundo levantamento feito pela Folha.
Essa é a soma de quatro imóveis, três carros e duas motos registrados em seu nome. Um empresário reconheceu que ele é sócio na construção de um prédio
que consumiu R$ 8 milhões.
Para atingir seu atual patrimônio, Rodriguez teria que trabalhar
25 anos, sem gastar nada, com o
salário máximo de agente classe
especial, R$ 4.500,00 líquidos. Ele
trabalha na PF há 14 anos.
Documentos apreendidos pela
PF no escritório do advogado Affonso Passarelli Filho, de quem
Rodriguez foi sócio, trazem indícios de que sua riqueza pode ser
mais do que o dobro do R$ 1,45
milhão registrado oficialmente.
Prédio de R$ 8 milhões
Recibos, planilhas e contratos
sigilosos encontrados pela polícia
revelam que o agente estava construindo um prédio de 15 andares
na avenida Angélica, na região
central de São Paulo. O imóvel já
consumiu R$ 8 milhões, segundo
a incorporadora da obra. Na hipótese de o agente ter só 10% do
prédio, seu patrimônio ultrapassaria os R$ 2 milhões.
O agente da PF seria sócio do
empreendimento junto com Cícero Viana Filho, dono de rede
Itororó de concessionárias Chevrolet (sete lojas), de empresa de
táxi aéreo e de pedreira, de acordo
com o advogado do empresário,
Luiz Fernando Pacheco. A sociedade com o policial, contudo, não
foi registrada em cartório.
"Rodriguez entregou dois imóveis residenciais que estão em seu
nome para entrar na sociedade",
diz o advogado. Os imóveis, segundo ele, ficam em Moema e
Santana, bairros onde o agente
tem, de fato, apartamentos. Pacheco informou que a participação de Rodriguez no empreendimento corresponde ao valor dos
apartamentos que, contudo, não
foi divulgado.
O estacionamento que funciona
no subsolo do prédio em construção está em nome de Rodriguez.
Batizado de Her Park, ele foi registrado em 10 de abril deste ano
com um capital social de R$ 5.000,
dividido por dois sócios: Rodriguez detém R$ 4.750 e Adauto
Bertoncini, R$ 250.
O agente também usava laranjas para esconder parte de seu patrimônio, segundo a PF. Há recibos de condomínio em que Rodriguez aparece como o proprietário, mas o imóvel está registrado
em nome de outra pessoa.
A Folha encontrou um apartamento no Morumbi (zona sul de
São Paulo) em nome de Lisandra
Giselle Vilela Chagas, secretária
do agente no escritório de advocacia de Passarelli Filho. Ela ganha cerca de R$ 800 por mês, segundo anotações de um livro-caixa apreendido pela PF, e aparece
como dona de um apartamento
avaliado em R$ 120 mil.
Os papéis encontrados no escritório trazem indícios de que ele
seria dono de uma cobertura no
Morumbi (avaliada em R$ 400
mil), um sobrado no Guarujá, no
litoral paulista, e um apartamento
num residencial à beira-mar em
Camboriú, em Santa Catarina.
A dupla vida de Rodriguez
A documentação apreendida
detalha a dupla vida de Rodriguez. Sob a fachada do agente da
PF cedido à Justiça Federal de São
Paulo -com objetivos até hoje
não esclarecidos pela Superintendência da PF em São Paulo- e
com um salário bruto de no máximo R$ 6.000, há um Rodriguez
que faz grandes gastos.
De uma vez ele comprou dois jipões Pajero, como está anotado
no auto de apreensão. Os dois recibos da Danzen Veículos, de São
Bernardo do Campo, estão em
nome de Rodriguez: um de R$
181.300 e outro de R$ 181.091. Um
papel manuscrito traz a seguinte
anotação: "181.300 em notas", o
que sugere que o carro foi pago
com cédulas.
"Eu não me lembro de ter recebido R$ 180 mil em notas, não me
lembro desse negócio", disse à
Folha Antonio Jair, dono da Danzen, que fechou no ano passado.
O preço que consta da nota equivale ao valor atual da Pajero Full,
o modelo mais caro do jipão.
O agente não tem nenhuma Pajero registrada em seu nome. Entre seus veículos, há um Mercedes
SL 500 e um Cherokee.
Rodriguez entrou na Polícia Federal em 1985 e foi expulso em
1992, sob a acusação de ter contrabandeado um fuzil AR-15 de Miami, no sul dos EUA. Absolvido, foi
reintegrado em 1996 por ordem
da Justiça.
Paulista de Osasco, na Grande
São Paulo, ele advoga com um registro emitido pela OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) do
Acre. Está com três anuidades
atrasadas e poderá ter o registro
cancelado, segundo a entidade.
Com esse documento, Rodriguez atuou em causas de clientes
de peso, como a empreiteira Levian, de patrimônio declarado de
R$ 60 milhões, que construiu o
Shopping Internacional de Guarulhos, o quinto maior do país.
O escritório em que trabalhava
ou trabalha com Passarelli Filho
defendeu acusados de operar ilegalmente no mercado financeiro
no chamado "escândalo dos precatórios" e atuou em pelo menos
oito processos no STJ (Superior
Tribunal de Justiça), em Brasília.
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