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DIRETAS-JÁ - 20 ANOS
Ato público em São Paulo, que se tornaria marco inicial do maior movimento de massas do país, teve presença do ex e do atual presidente
Primeiro comício das diretas uniu Lula e FHC
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
É um retrato na parede da política de 20 anos atrás: Luiz Inácio
Lula da Silva, Fernando Henrique
Cardoso, Francisco Weffort e José
Gregori, num mesmo palanque, à
frente de faixa que pede eleições
diretas para presidente da República e critica o arrocho econômico, o desemprego, o FMI e o imperialismo norte-americano.
Não sabiam os quatro que chegariam ao poder -os dois primeiros à Presidência, os dois últimos ao ministério- nem imaginavam que começava ali o maior
movimento de massas da história
política brasileira.
Era uma previsão difícil de fazer
na tarde daquele 27 de novembro
de 1983. Afinal, 66 mil pessoas tinham ido ao Morumbi assistir ao
0 a 0 de Corinthians e Santos pelo
Campeonato Paulista, mas apenas 15 mil se dirigiram à praça
Charles Miller, no Pacaembu, para o primeiro comício da campanha por eleições diretas para presidente da República -algo que
não ocorria no país havia 22 anos.
Na contagem mais otimista, os
primeiros defensores das diretas-já -com as bandeiras vermelhas
dos partidos comunistas então na
ilegalidade se misturando às do
PT- não atingiam um quarto do
público do futebol de domingo.
Isso apesar dos esforços de três
partidos políticos (PMDB, PT e
PDT) e mais de 70 entidades civis,
entre elas a Arquidiocese de São
Paulo, a Ordem dos Advogados
do Brasil, a Central Única dos
Trabalhadores e a União Nacional
dos Estudantes (UNE).
Na próxima quinta-feira, esse
comício completará 20 anos. É
formalmente o primeiro da célebre campanha das diretas-já.
Nas sempre superestimadas
contas dos organizadores, em 48
comícios entre 27 de novembro
de 1983 e 18 de abril de 1984, mais
de 4,7 milhões de pessoas teriam
ido às ruas em defesa das diretas,
conforme levantamento do cientista político Alberto Tosi Rodrigues, autor do livro "Diretas-Já, o
Grito Preso na Garganta".
No início de março de 1983, o
recém-eleito deputado federal
Dante de Oliveira, então do
PMDB-MT, apresentou uma
emenda de apenas 15 linhas, propondo a modificação da Constituição de 1967 do regime militar.
Dante tinha descoberto que outras emendas que propunham as
diretas estavam prejudicadas por
se originarem da legislatura anterior. Em livro que ainda escreve
sobre o período, lembra que chegou a coletar, por engano, até a assinatura de um jornalista para obter o número mínimo necessário
para a proposição da emenda.
A partir do segundo semestre de
1983, com a economia em crise e a
insatisfação social crescendo, a
possibilidade de defesa das diretas começou a tornar-se palatável.
No dia 21 de setembro, o Congresso derrubou, pela primeira
vez desde 1964, um decreto-lei do
governo militar que restringia a
correção dos salários.
O governo perdeu porque 11 deputados do partido de sustentação do regime militar (o PDS) votaram com os 244 parlamentares
de oposição. Foi a senha de possibilidade de mudança mesmo
dentro das regras estabelecidas
pelos próprios militares.
O comício do Pacaembu foi precedido de um documento de
apoio assinado pelos oito governadores de oposição (sete do
PMDB e um do PDT) eleitos em
1982 -no primeiro pleito direto
nos Estados desde 64.
Intitulado "Fala, Brasil - A Nação Tem o Direito de Ser Ouvida",
dizia: "A eleição direta do presidente da República é o caminho
para a superação da nossa crise
econômica, política e social. É a
possibilidade de novos rumos para a economia brasileira, com a
reafirmação de nossa soberania e
o primado do mercado interno".
Apesar do documento que divulgaram no dia anterior ao comício, os peemedebistas alegaram pouco tempo para mobilizar
seus militantes. Dos cardeais do
partido, compareceram o então
presidente do PMDB-SP, Fernando Henrique Cardoso, e o então
secretário estadual da Justiça, José
Carlos Dias. O governador Franco
Montoro temia a vaia dos militantes do PT -único partido a ter se
empenhado de fato em levar simpatizantes ao Pacaembu- e preferiu participar de uma solenidade oficial no Jockey Clube.
A emenda das diretas foi derrotada em abril de 1984, mas no ano
seguinte o país teria um civil na
Presidência, o que encerraria o ciclo militar no poder.
O cientista político Francisco
Weffort, ministro da Cultura de
1995 a 2002 e à época das diretas
secretário-geral do PT, avalia que
o movimento obteve uma vitória
política -iniciada naquele 27 de
novembro-, mas perdeu a batalha econômica.
"Os temas sociais e econômicos
preconizados por todos ficaram
para trás. Não acompanharam a
vitória política. Estão aí o desemprego e a discussão do superávit
fiscal, uma forma de debater a relação com o FMI", diz Weffort.
A visão atual do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva daquele período sinaliza uma concordância
com o ex-companheiro. "A campanha das diretas, o maior movimento cívico já visto no país, foi
um divisor de águas. Precisamos
continuar lutando para que a democracia política se torne plena
também no campo social e econômico e se traduza em distribuição
de renda e igualdade de oportunidades", afirma Lula.
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