|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INTEGRAÇÃO SUL-AMERICANA
País vizinho poderá usar informações para combater o terrorismo e o tráfico de drogas
Brasil quer vender dados do Sivam ao Peru
JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A LIMA
O Brasil quer ampliar o raio de
cobertura do Sivam e exportar informações coletadas pelo sistema
de vigilância da Amazônia para o
Peru. O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva desembarca hoje no
país, onde discutirá um protocolo
de intenções que possibilite a venda de dados captados pelos satélites do projeto para as autoridades
peruanas. O Peru manifestou interesse ao governo brasileiro de
usar as informações no combate
ao terrorismo e ao narcotráfico.
A eventual participação do Peru
no Sivam faz parte da estratégia
do governo Lula de integração
dos países da América do Sul e da
formação de um "cinturão de defesa" entre essas nações. Para o
governo brasileiro, é interessante
por dois motivos: obtém receita
com a venda de dados e detém o
controle do sistema de informações a ser usado pelos vizinhos.
Também estão na pauta da viagem presidencial discussões sobre acordos de comércio e a "interconexão física" entre os dois
países, segundo o embaixador do
Brasil no Peru, André Mattoso
Maia Amado. O BNDES estuda o
financiamento de projetos viários
que podem facilitar o escoamento
pelo Pacífico dos produtos brasileiros que têm como destino os
Estados Unidos e a Ásia.
O Peru já enviou ao Brasil duas
missões para obter informações
sobre o Sivam. O vice-presidente
da comissão que coordena o projeto, coronel Álvaro Pinheiro da
Costa, reuniu-se na sexta-feira
com autoridades peruanas para
definir quais serviços podem ser
prestados e por qual preço. No semestre passado, brasileiros estiveram duas vezes no Peru, onde fizeram exposições para o Ministério da Defesa sobre o sistema.
Para que o Peru obtenha "produtos" fornecidos pelo Sivam, como vigilância por radares, precisaria construir uma estrutura mínima de recepção. "O mais caro já
foi feito pelo Brasil. O Sivam tem
possibilidades que podem ser
compartilhadas. Eu disse para
eles que é como uma dedetização:
se o vizinho não fizer, diminui o
número de baratas na minha casa,
mas aumenta na dele", disse o coronel Paulo Esteves, que fez a palestra sobre o sistema no Peru.
Para o embaixador brasileiro, "é
interessante que o Peru conte
com os mesmos instrumentos
que os brasileiros no combate ao
tráfico e na preservação da Amazônia". "Eles têm mostrado bastante interesse nisso", afirmou.
A Bolívia e a Colômbia, segundo
Esteves, já pediram informações
sobre o sistema, mas é a Venezuela com quem um acordo está mais
concreto. O Sivam, que entrou em
funcionamento no ano passado,
custou US$ 1,4 bilhão, financiado
por contratos firmados pelo Brasil com instituições estrangeiras.
Via Pacífico
O desembarque de Lula está
previsto para, às 19h (21h em Brasília), em Lima, onde deve jantar
com o presidente do país, Alejandro Toledo. No dia seguinte, ele
participa de um fórum de empresários e visita o Palácio de Justiça.
Em maio, o presidente esteve no
país, onde participou, em Cuzco,
da cúpula do Grupo do Rio.
Segundo o embaixador brasileiro, devem ser discutidos dois projetos de interesse do Brasil no Peru: as estradas Tarapoto-Yurimaguas, no norte do país, e Iñapari-Ponte Inambari, que dá acesso a
portos do sul do Peru. Estão estimados em US$ 160 milhões e US$
220 milhões, respectivamente.
O Brasil também pretende buscar acordos de livre comércio entre o Mercosul e o Peru. O fluxo
comercial entre os dois países é de
US$ 640 milhões, cifra considerada baixa pelo embaixador brasileiro. O Brasil exporta manufaturados e importa minérios. "Não
podemos continuar de costas um
para o outros", disse Amado.
Texto Anterior: Folha vai à Justiça para obter dados Próximo Texto: Acordo quer tornar região 4º pólo mundial Índice
|