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REGIME MILITAR
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos vai pedir ajuda da Promotoria para retomar exumações
Famílias planejam novas buscas em Perus
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Uma das feridas mais profundas que o regime militar (1964-85)
deixou sem cicatrização, o sumiço
dos corpos de pelo menos 152
oposicionistas, vai ganhar novo
capítulo. A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos
Políticos pedirá ajuda ao Ministério Público para retomar as exumações no cemitério Dom Bosco,
em Perus (zona norte paulistana).
A decisão foi tomada depois que
uma equipe de médicos-legistas
da USP (Universidade de São
Paulo) concluiu que três ossadas,
das quais uma se presumia ser do
guerrilheiro Hiroaki Torigoe
(1944-72), têm dados discordantes com o corpo do militante.
Ou seja: são incompatíveis com
as características antropométricas de Torigoe e, portanto, não
devem ser dele. Integrante do
Molipo (Movimento de Libertação Popular), Torigoe morreu sob
tortura no dia 5 de janeiro de
1972, no DOI-Codi paulista, o
mais violento centro repressivo
mantido pelos militares. No Molipo militava o hoje ministro José
Dirceu (Casa Civil).
Numerosos presos testemunham que um dos nove torturadores que assassinaram Torigoe
foi o delegado Aparecido Laerte
Calandra, que atuava nos porões
com o codinome de Capitão Ubirajara. Hoje Calandra, que nega
ter sido Ubirajara, é o principal
assessor do chefe do Departamento de Inteligência da Polícia
Civil paulista. Procurado, disse
não poder dar entrevista.
A versão oficial foi de que Torigoe morreu em tiroteio. Seu corpo foi comprovadamente enterrado em Perus com a identificação falsa de Massahiro Nakamura. Seus supostos restos foram
descobertos em 1992.
Uma equipe da Unicamp (Universidade de Campinas) exumou
as três ossadas que os registros do
cemitério indicavam ser, uma delas, de Torigoe.
Duas integrantes da comissão
de parentes, Suzana Lisboa e Maria Amélia de Almeida Teles, dizem que o legista da Unicamp
Fortunato Badan Palhares relatou
reiteradas vezes que o esqueleto
seria de um homem de origem
oriental, como Torigoe.
Suzana Lisboa representa as famílias na comissão do Ministério
da Justiça criada por lei de 1995
que julga a responsabilidade do
Estado e o pagamento de eventuais indenizações pecuniárias
por mortes e desaparecimentos
ocorridos na ditadura.
Por unanimidade, a comissão
considerou a União responsável
pela morte de Torigoe. Por intermédio de advogado, Palhares assegura que sustentou o contrário:
que as três ossadas não tinham características morfológicas de Torigoe. Não poderiam ser dele.
Colega de Palhares, o legista José Eduardo Bueno Zappa diz, pelo
mesmo advogado, que nunca
afirmou que os restos talvez fossem do guerrilheiro.
O pedido de novas buscas será
feito ao Ministério Público Federal, que precisaria requisitar à Justiça autorização para exumações.
O advogado Luís Francisco Carvalho Filho, presidente da comissão do Ministério da Justiça, afirmou que apóia a iniciativa das famílias. "Há uma série de problemas de localização no cemitério.
Todos os esforços para uma identificação mais precisa serão bem-vindos. Cabe à comissão apoiar as
medidas importantes para a identificação de pessoas."
Maria Amélia Teles diz que é
necessário "um investimento
mais contundente do Estado".
"Se dependesse só dos familiares,
já teríamos encontrado todos que
temos procurado."
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