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JANIO DE FREITAS
Uma suspeita intromissão
Desta vez não é a revelação
de que um assessor palaciano, antes de chegar a tais altitudes, ocupou-se, como diz o jargão
policial, de achacar a pretexto de
caixinhas eleitorais. A confusão e
o número alto de nomes, circunstâncias e dados obscureceram
uma informação que, lá pelas
tantas, aparece na narrativa (Folha de quinta-feira) da espionagem privada e espetacular motivada pela luta entre a Brasil Telecom e a Italia Telecom. E deixa
longe o caso Waldomiro.
O que se constata por aquela
sucinta informação na reportagem de Marcio Aith é o envolvimento, desta vez direto e até em
dose dupla, do governo Lula, e da
própria Presidência, nos negócios
privados em torno de interesses e
fortunas tão grandes quanto são
as de duas controladoras da telefonia no Brasil.
O ministro Luiz Gushiken reagiu ao aparecimento de seu nome, entre os captados na espionagem da Brasil Telecom contra a
Italia Telecom, argumentando
que, antes de chegar ao governo,
assessorava fundos de pensão integrantes, como sócios, da primeira daquelas empresas. A citação
de seu nome decorreria, assim, de
episódio pré-governo Lula. A Presidência fez a mesma defesa do
ministro, e é verdadeira a atividade anterior de Luiz Gushiken.
O que, no entanto, menos o inocenta a priori do que o embaraça.
Informa o tal trecho da reportagem que Luiz Gushiken e Cassio
Casseb, atual presidente do Banco do Brasil, foram alcançados
pelas investigações, a cargo da
norte-americana Kroll Associates, por "terem formulado a
orientação, já sob o governo Lula", a cinco fundos de pensão para desfazerem o acordo que dava
ao sócio Banco Opportunity o
controle administrativo da Brasil
Telecom.
A "orientação", no caso, só pode ser vista como intervenção em
favor de interesses privados contra outros interesses privados, em
uma disputa que não envolve nenhum interesse de ordem governamental. E, se envolvesse, não
seria assunto da Secretaria de
Comunicação da Presidência, dirigida por Luiz Gushiken, e da
presidência do Banco do Brasil,
mas do Ministério das Comunicações e da Agência Nacional de
Telecomunicações, que não viram motivo para imiscuir-se na
disputa interna da Brasil Telecom, nem nos desentendimentos
desta com a Italia Telecom.
Há algo extremamente grave a
ser esclarecido no envolvimento
com que Luiz Gushiken e Cassio
Casseb põem no âmago da Presidência da República suspeitas de
alta improbidade.
Uma glória
Nem mesmo as mulheres levantaram uma palavra de louvor a
Gloria Macapagal Arroyo. Jornais e TVs em todo o mundo, como se podia esperar de um setor
que tanto fala em sua independência quanto se sujeita a injunções, limitaram-se ao mais burocrático sobre o episódio que a incluiu.
Gloria Macapagal Arroyo tornou-se, no entanto, a primeira
governante entre monarcas, presidentes, chefes de governo e ditadores a ter a coragem política e a
grandeza humana a relegar as
chamadas "razões de Estado" em
favor da vida de uma pessoa.
Uma só, sim. A rigor, um quase
ninguém. Um motorista de caminhão, tão humilde e anônimo
quanto pode ser um motorista filipino de caminhão.
Sequestrado por combatentes
iraquianos, Angelo de la Cruz seria mais um decapitado se as Filipinas não retirassem do Iraque o
seu pequeno contingente militar.
O governo dos Estados Unidos,
que presta ao das filipinas importante ajuda, entre outras, na luta
contra uma estranha e feroz guerrilha, exigiu a permanência do
contingente no Iraque, onde fazia
serviços auxiliares. A presidente
Gloria Macapagal decidiu enfrentar essa e todas as outras pressões: "Trata-se de uma vida. Os
militares filipinos vão sair do Iraque".
A meio da semana, a mídia exibiu imagens do motorista de caminhão Angelo de la Cruz sendo
recebido nas Filipinas pelos filhos.
Nas mesmas páginas e telejornais
em que apareceram as fotos de
um búlgaro, como antes a de
americanos, ingleses, um italiano,
mortos para que seus governantes
preservassem a criminalidade
que chamam de honra.
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