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SÃO PAULO
Funcionários de programa financiado pelo governo estadual têm de entregar material de campanha para tucanos
Monitor do Estado faz campanha para PSDB
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Funcionários de um programa
financiado pelo governo do Estado de São Paulo afirmaram que
estão sendo pressionados para fazer campanha política a favor do
presidenciável José Serra (PSDB)
e do governador e candidato à
reeleição, o tucano Geraldo Alckmin, sob pena de demissão.
O projeto é o Parceiros do Futuro, que recebe aproximadamente
R$ 20 milhões por ano do governo estadual, segundo afirmou o
próprio secretário de Estado da
Educação, Gabriel Chalita, em entrevista à Folha anteontem.
As assessorias dos candidatos
tucanos afirmaram que não tiveram conhecimento do ato dos
funcionários. O secretário também negou que os monitores tenham sofrido qualquer tipo de
coerção para fazer a panfletagem,
mas admitiu que houve o ato.
"Realmente houve esse ato, mas
eu não fui informado. Mesmo assim, os monitores que participaram não são funcionários da secretaria, são terceirizados."
A lei federal 9.504 veta o uso de
materiais ou serviços custeados
pelo Executivo para, por exemplo, finalidades eleitorais.
Na última sexta-feira, a reportagem da Folha, sem se identificar,
acompanhou cerca de 60 monitores do projeto Parceiros do Futuro que fizeram panfletagem pela
região central de São Paulo.
A concentração começou ao
meio-dia, atrás do prédio da Secretaria da Educação. Um carro e
uma Kombi, que pertencem a
dois monitores, serviram para levar o material de campanha de
Serra e de Alckmin (bandeiras,
adesivos, santinhos e panfletos),
que seriam distribuídos pelos
monitores à população.
Constrangimento
Antes de se dispersarem para a
panfletagem, cada um recebeu
um adesivo de Alckmin para colar
na camisa e o material para ser
distribuído. Em grupos fechados,
os funcionários disseram estar
"constrangidos" e "envergonhados" por se sentirem "obrigados"
a trabalhar na campanha.
"Quase não vim. Meu marido ficou revoltado quando disse a ele
que teria de fazer campanha",
afirmou uma das monitoras, cujo
nome será mantido sob sigilo. "Só
desabafando com vocês para passar a raiva", concluiu, em seguida.
O "risco" descrito pelos funcionários é o de perder o trabalho de
monitoria que desenvolvem, todos os sábados e domingos, em
escolas estaduais. Como monitores socioeducativos, eles recebem
R$ 470 por mês. A participação no
ato de campanha é controlada por
meio de uma lista de presença.
A orientação era retornar ao
ponto de partida, às 13h15, para
assinarem a lista e recolherem
mais material de campanha.
Durante o percurso, funcionários afirmaram que a prática se repete sempre às segundas e sextas-feiras e em todas as regionais do
projeto. No total, são sete regionais com cerca de 600 monitores,
que atendem a 400 escolas.
O grupo acompanhado na última sexta-feira pela reportagem
pertence à zona leste da capital.
Em pelo menos três ocasiões, a
Folha presenciou funcionários
que, ao entregarem os panfletos e
as bandeiras às pessoas que passavam pelas ruas, chegaram a pedir
desculpas e explicar que estavam
sendo obrigados a trabalhar para
a campanha tucana.
"O senhor me perdoe, mas tenho de fazer isso porque o meu
chefe mandou", disse um dos monitores enquanto apontava para a
foto de Alckmin, estampada em
um folheto que era entregue.
O projeto Parceiros do Futuro é
coordenado pela Secretaria de Estado da Educação por meio da
FDE (Fundação para Desenvolvimento da Educação) e da FFM
(Fundação Faculdade de Medicina). Nasceu para estimular programas socioeducativos entre
crianças e jovens que frequentam
escolas estaduais, com a participação da sociedade.
A coordenadora do projeto,
Maria Amélia Fernandes, responde diretamente à gerência de projetos da FDE, que é subordinada à
diretoria de projetos, por sua vez
ligada à presidência da fundação.
A última instância dessa hierarquia é o secretário de Estado da
Educação, Gabriel Chalita.
"Não tenho o valor exato, mas a
FDE repassa cerca de R$ 20 milhões por ano ao Parceiros do Futuros. Quero ressaltar, no entanto, que toda a administração é feita pela Fundação Faculdade de Medicina, que é um órgão sério e
idôneo", afirmou o secretário.
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