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"O que faço é troca de favores", diz o locutor Paulo Lopes
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Lopes, dono do mais disputado palanque eleitoral no dial
paulista, nega que cobre para dar
espaço aos políticos em seu programa. Em dinheiro, pelo menos.
"O que faço é troca de favores.
Usufruo da relação, é uma influência parda. Quantas pessoas
eu internei por causa do Serra!"
Quando deixou a rádio Globo,
em setembro de 2001, políticos se
mobilizaram para convencer a
Capital- outro reduto do ouvinte popular- a contratá-lo. Lopes
não chegou a ficar dois meses fora
do ar até ir para a Capital por um
salário que gira em torno de R$
100 mil -fora o merchandising-, segundo a Folha apurou.
Para lá, levou uma audiência fiel
-160 mil ouvintes por minuto-
com ouvintes que o acompanham
há 15 anos, quando começou o
debate com políticos.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
(LM E CC)
Folha - Como o sr. seleciona os
políticos para seu programa?
Paulo Lopes - Convidamos uma
vez. Se não fala bem, não dá mais
para trazer. Tem cara que é bom.
Às vezes nem é tão bom político,
mas é bom de microfone. Evidentemente entram pessoas que a
gente gosta mais do que de outras,
e às vezes pensamos: "Precisamos
trazer mais gente do PT, tá vindo
muita gente do PSDB, do PTB..."
Folha - Há os prediletos?
Lopes -Há políticos solícitos.
Maluf é um deles. Você liga e ele
atende a qualquer hora. O Garotinho, então! Já me atendeu no metrô, no carro. Garotinho, Serra e
Maluf são ótimos. E há os mais difíceis, como o Lula. O Ciro então,
nem se fala! Com ele, a gente não
consegue falar de jeito nenhum.
Folha - Costuma-se dizer que o sr.
é malufista, e o Maluf frequenta
muito seus debates. São amigos?
Lopes - Sou amigo do Maluf faz
tempo. Ele foi ao meu debate por
um ano e meio, quando concorreu à prefeitura pela primeira vez.
Sabe quem participava com ele?
Serra e Covas. Por que não acham
que sou covista ou serrista?
Folha - Por quê?
Lopes - Não sei. Eu fui processado umas duas vezes pelo PT e
umas três pelo PSDB porque eles
diziam que eu era malufista, mas
eles esqueciam que participavam
do meu programa da mesma maneira. O PT um pouco menos.
Folha - O sr. segue regras?
Lopes - A ética que eu tenho é: se
puder ter os dois lados, muito
bom. Mas não é porque não tenho
um lado que eu não vou pôr o outro. Nunca subi em palanque. E
me critico: por que não?
Folha - Em qual subiria?
Lopes - Gosto muito do Serra.
[Gosto] Do Garotinho, por ser radialista, por ter dirigido um Estado politizado. No palanque dos
dois eu subiria. Em São Paulo, subiria no palanque do Maluf.
Folha - Há políticos que dizem pagar para participar do programa.
Lopes - Não. O que usufruo deles? A relação. Chamo isso de influência parda. [Se há] Um fiscal
perseguindo um comerciante, um
anunciante meu com um produto
para ser regularizado em Brasília... Uso como lobby. "Pô fulano,
você está aqui no meu programa,
dá um jeito. Vê se o fiscal está perseguindo esse cara". Ou usufruo
da amizade com um vereador para mudar uma ponte, trocar um
delegado. Quantas pessoas não
internei por causa do Serra! Não
tinha vaga [nos hospitais], a gente
ligava para o Serra. O assessor dele ligava para lá e operavam, davam vaga. "Minha empregada
tem câncer e não há onde internar". "Deixa comigo que eu vou
ligar para o Serra". Essa influência
é benéfica. Por que nunca fui candidato? Seria bem votado, mas
prefiro ser amigo do rei.
Folha - O sr. acha natural pedir
que um político libere em Brasília o
produto de um anunciante?
Lopes - Acho natural. Porque o
cara está toda semana com você,
tem um interesse com você. Porque na vida tudo tem interesse.
Quando você chega com um colar
em casa para a esposa, imagina
que a noite vai ser agradável. É um
jogo de sedução. Tudo é. É simplesmente troca de favores.
Folha - Vamos supor que o Serra
não tivesse tido boa vontade em
atender um pedido do sr. Ele não
iria mais ao programa?
Lopes -Diria: "Que sacanagem".
Penso: "Está na marca do pênalti". Quando ele disser: "Queria ir
aí na quarta-feira", digo: "Quarta
está lotado o programa". Porque
essa é a realidade da vida em tudo.
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