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LIXO PAULISTA
Implicado no caso Waldomiro operava na prefeitura paulistana
Buratti atuou por empresa na Caixa, no INSS e na Fazenda
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
O advogado Rogério Tadeu Buratti, 41, investigado pelo Ministério Público de Ribeirão Preto (SP)
por suposto envolvimento em irregularidades em licitações públicas, representava a empresa de lixo Leão Leão em órgãos e instituições da área econômica do governo federal, como a Caixa Econômica Federal, e em prefeituras
municipais, como a de São Paulo.
A revelação foi feita em maio último pela própria empresa, em
ofício enviado ao Ministério Público. Entre as atribuições de Buratti estava representar a empresa, que fatura R$ 200 milhões
anuais, na Caixa, na Fazenda Nacional, no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e no BNDES
(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), sediado no Rio de Janeiro, "para a
obtenção de linhas de crédito".
Ex-secretário municipal de Antonio Palocci Filho em 94, ex-sócio do chefe-de-gabinete do ministro, Juscelino Antonio Dourado, Rogério Buratti é foco de investigação no Ministério Público
de Ribeirão Preto (SP) e personagem importante no escândalo
Waldomiro Diniz.
No decorrer da investigação
aberta em Ribeirão, os promotores levantaram indícios de que
Buratti, mesmo após ter deixado
oficialmente a Leão Leão, em
março, continuou prestando
apoio à empresa na solução de assuntos de Brasília.
A investigação incluiu grampos
telefônicos realizados com ordem
judicial ao longo de cinco meses.
De acordo com investigadores
que tiveram acesso às gravações,
Buratti foi procurado no dia 26 de
julho último por um alto executivo do grupo Leão Leão, Luiz Pacola, para falar sobre "o negócio
de Brasília".
Buratti teria respondido que já
havia conversado com "ele" sobre
o assunto, que "ele" estaria em Ribeirão Preto no dia seguinte, e
aconselhou o empresário a "ligar
para o chefe-de-gabinete e marcar" uma audiência.
No dia seguinte à conversa, 27
de julho, houve um evento em Ribeirão com a presença do ministro, um seminário sobre desenvolvimento econômico internacional realizado no Hotel JP.
No mesmo dia 27, ainda conforme os investigadores, em nova ligação Pacola explica a Buratti que
teria falado com o "chefe-de-gabinete". Ele teria respondido "que
vai tentar marcar, mas é só questão de agenda".
Procurada ao longo de três dias
da semana passada, a assessoria
do ministro Palocci não respondeu às seguintes dúvidas levantadas pela Folha: se o ministro foi
procurado por empresário do
grupo Leão Leão, se manteve reunião com alguém da empresa em
julho e se alguma vez seu chefe-de-gabinete foi procurado por
Rogério Buratti para agendamento desse tipo de reunião.
Sobre essas dúvidas, a assessoria nada respondeu. O assessor de
imprensa do ministro, Marcelo
Neto, não deu retorno a um pedido de contato da reportagem, feito por meio de cerca de 25 ligações telefônicas em diferentes horários na quarta-feira, na quinta-feira e na sexta-feira passadas.
Consultoria
O ofício enviado pela Leão Leão
ao Ministério Público dá uma
maior dimensão às funções de
Buratti na empresa. Quando exercia o cargo de vice-presidente do
grupo, depois do caso Waldomiro
Diniz pediu afastamento do cargo
e a empresa então esclareceu que
ele não integrava o quadro de funcionários da empresa. Era um
consultor, remunerado por meio
de uma microempresa, primeiro
chamada Buratti & Siqueira Consultores Associados, depois chamada BBS Consultores S/C (o
contador de Buratti informou, em
março, que ele emitia entre R$
200 mil e R$ 300 mil em notas fiscais anualmente).
Foi para explicar a relação comercial com essas empresas que a
Leão Leão enviou o ofício ao Ministério Público. Os promotores
queriam saber a razão de dezenas
de notas fiscais emitidas pela Leão
para a BBS.
No escândalo Waldomiro Diniz, executivos da multinacional
GTech afirmaram em depoimento à Polícia Federal que Waldomiro Diniz, ex-assessor parlamentar
do ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, havia indicado a empresa BBS, de Buratti, como a destinatária de R$ 6 milhões a título
de "facilitar" a renovação de contrato de R$ 650 milhões da GTech
com a Caixa. A GTech diz que
nunca pagou o dinheiro.
De acordo com o ofício da Leão
Leão, a Caixa Econômica estava
na área de atuação do consultor.
"O sr. Rogério Tadeu Buratti representou a empresa junto a órgãos federais, tais como o INSS
[Instituto Nacional do Seguro Social], a Caixa Econômica Federal e
a Fazenda Nacional, no processo
de enquadramento do programa
Refis, e ainda junto a alhures citada instituição financeira e BNDES
[Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social], para
a obtenção de linhas de crédito",
diz o texto da Leão Leão.
"Referentemente às prefeituras
municipais, sua consultoria integrava contatos com diversos municípios não só no Estado de São
Paulo, como em outros Estados,
destacando-se Ribeirão Preto,
Araraquara, Monte Alto, Cascavel
[PR], Itu, São Paulo, Sertãozinho,
Governo do Distrito Federal e Rio
de Janeiro", afirma a empresa.
Durante as investigações do Ministério Público, Buratti teve pelo
menos duas conversas grampeadas nas quais comentou, com outro executivo da Leão, o andamento de licitações de limpeza urbana da Prefeitura de São Paulo.
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