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PREVIDÊNCIA
Categoria lamenta ter pedido o PT como aliado contra reforma; funcionalismo pretende pressionar congressistas
Lobby de servidores planeja boicote e greve
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) já distribuiu entre os 584 deputados e senadores fichas de
questionário sobre como vão se
comportar -item por item- na
reforma da Previdência. É o primeiro movimento do lobby integrado por entidades de juízes,
procuradores e demais servidores
públicos contra as principais propostas da reforma. A estratégia inclui também corpo-a-corpo com
os congressistas, "boicotes" e até
ameaças de greve.
Se depender da opinião dos sindicalistas do serviço público, a reforma não mexerá no direito à
aposentadoria integral, não criará
fundos de previdência complementar para quem quiser um benefício acima do teto do INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social) nem cobrará contribuição
dos inativos. Em resumo, a reforma vira nada.
Mas é grande a dúvida entre os
sindicalistas sobre se vão conseguir repetir o resultado obtido no
governo Fernando Henrique Cardoso, quando barraram o fim da
aposentadoria integral. Em 98,
FHC propôs um redutor de até
30% sobre a parcela da aposentadoria que excedesse o teto do
INSS, hoje em R$ 1.561,56.
"Os procuradores e os juízes
sempre tiveram boa receptividade", calcula o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, Carlos Frederico Santos, sobre a eficácia da atuação das categorias que costumam
trabalhar em conjunto e têm as
aposentadorias mais altas entre os
servidores.
"Não são privilégios, são especificidades: se o país quer ter juízes e
servidores públicos de qualidade,
tem de dar condições senão só vai
recrutar gente ruim", pondera o
presidente da Ajufe (Associação
dos Juízes Federais do Brasil),
Paulo Sérgio Domingues.
Contra o tradicional peso do
lobby dos servidores no Congresso, conta agora o fato de que o
maior dos antigos aliados é o
principal adversário de hoje: o PT.
"Desta vez é mais difícil porque
temos um governo de esquerda, a
reforma parte de quem eram nossos aliados", calcula o diretor da
Fenajufe (Federação Nacional dos
Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da
União) e do Sindijus-DF, Roberto
Policarpo, que é filiado ao PT.
"O movimento sindical não pode abrir mão de sua independência e de ir para o confronto", insiste Policarpo. Ele torce, no entanto,
para que o governo desista dos
pontos polêmicos da reforma da
Previdência antes de eles irem a
voto no Congresso.
O comportamento dos sindicalistas ligados ao PT preocupa a
Cnesf (Coordenação Nacional das
Entidades dos Servidores Públicos), que teoricamente representa
o maior número de servidores.
"Nos preocupa a posição das centrais sindicais, principalmente a
CUT, e a cooptação de lideranças,
mas não acredito que as bases do
movimento vão se deixar conter",
avalia Luiz Carlos Gonçalves Lucas, presidente do Andes (Sindicato Nacional das Instituições de
Ensino Superior).
O primeiro movimento do
lobby dos servidores -a pesquisa
do Diap e a divulgação dos resultados para os eleitores- também
tem efeito incerto. Para tentar isolar a ação do lobby que tenta mostrar os congressistas favoráveis à
reforma como inimigo dos trabalhadores, o governo insiste em
que a ação visa manter privilégios
da minoria: menos de 1 milhão de
servidores federais, estaduais e
municipais ganham mais do que
o teto atual de aposentadoria do
INSS (dos cerca de 75 milhões de
trabalhadores do país).
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