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PREVIDÊNCIA
Preocupado com possibilidade de tributação ser rejeitada, Palácio do Planalto analisa forma de compensar perda
Governo estuda opção à cobrança de inativo
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Preocupado com a possibilidade de rejeição pelo Congresso da
cobrança de contribuição dos servidores inativos -principal barreira entre os petistas para a aprovação da reforma da Previdência-, o governo já estuda uma
maneira de compensar na tributária os cerca de R$ 2 bilhões
anuais que seriam arrecadados.
Como a proposta da reforma
tributária será enviada ao Congresso na quarta em conjunto
com a da Previdência, os parlamentares podem aprovar, por
exemplo, a vinculação de parte do
dinheiro arrecadado com a
CPMF, que deve se tornar permanente, para cobrir os R$ 2 bilhões
não arrecadados com a contribuição dos inativos. Esse dinheiro seria dividido com os Estados.
É uma hipótese citada pelos petistas para evitar a interpretação
de que o déficit previdenciário
não foi resolvido por falta de força
política, o que poderia afetar a
confiança dos mercados internacionais no governo Lula.
O governo de Lula incluirá no
seu projeto a cobrança de 11% sobre o benefício dos servidores inativos da União, dos Estados e dos
municípios que recebem a partir
de R$ 1.058. No entanto levantamento da cúpula petista mostra
que, na bancada de 92 parlamentares do partido na Câmara, 50
são contra e apenas 42 a favor.
O Planalto não aceita a idéia de
que a cobrança dos inativos seja
"um bode na sala" a ser retirado
durante as negociações no Congresso e aposta na capacidade de
convencimento do presidente Lula em reunião que terá, provavelmente na terça, com os petistas.
Mas trabalha em opções para o
caso de a cobrança ser inviabilizada politicamente. O governo e o
PT pretendem fazer forte pressão
sobre os parlamentares para que
aceitem a contribuição e para que
a bancada vote integralmente em
favor da reforma, como exemplo
para os demais partidos da base
aliada e até da oposição.
"O PT dará seus 92 votos para a
aprovação", diz o presidente nacional do partido, José Genoino.
As reformas precisam de 308 dos
513 votos da Câmara em duas votações e de 54 dos 81 votos do Senado, também em duas votações.
A tramitação começa nesta semana pela Câmara, mas as votações
só devem ocorrer em junho.
O comando petista inicia seu esforço de convencimento em reunião amanhã dos ministros José
Dirceu (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Previdência) com os parlamentares. Se essa conversa for
bem-sucedida, será confirmada a
primeira reunião de Lula com a
bancada do PT desde sua posse,
em encontro que deve ocorrer na
casa do presidente da Câmara,
João Paulo Cunha.
Os petistas se queixam da falta
de acesso a Lula e têm crescido os
descontentes com os rumos da reforma da Previdência. "Estamos
pegando a criança pronta", reclama o deputado Chico Alencar
(PT-RJ). A avaliação no PT é que a
cobrança de contribuição dos inativos que recebessem acima de R$
2.400 seria facilmente aprovada
pela bancada. Mas a arrecadação
se limitaria a R$ 500 milhões por
ano, por atingir um número menor de servidores, e quebraria o
acordo feito por Lula com os 27
governadores de cobrar de quem
recebe mais de R$ 1.058.
Atualmente, Estados e municípios têm regras próprias de cobrança dos servidores. O estabelecimento do piso para os inativos
foi uma das polêmicas da reunião
do presidente com os governadores, porque havia quem defendesse que a faixa se iniciasse a partir
de R$ 500, o que aumentaria a base da arrecadação.
Neste ano, sem a reforma da
Previdência, a previsão é que a
União arrecade R$ 7,7 bilhões de
contribuição dos servidores e gaste R$ 64 bilhões com inativos e
pensionistas. Somados, os Estados devem arrecadar R$ 3,7 bilhões e gastar R$ 26,4 bilhões. Os
municípios recolherão R$ 500 milhões e pagarão R$ 3,9 bilhões
com aposentados e pensionistas.
Os valores de arrecadação não
levam em conta a contribuição
que o setor público também têm
de fazer para o sistema.
A direção do PT pretende realizar até junho reuniões de convencimento da bancada, evitando
medidas drásticas, como a realização de um encontro da Executiva Nacional, fechando questão
em torno do tema, o que obrigaria
o voto dos parlamentares a favor
da reforma e abriria possibilidade
de punição dos rebeldes.
Dado o tamanho da resistência,
poderia haver uma crise sem precedência nos 23 anos da história
do PT. A cúpula petista aceita que
um parlamentar manifeste em separado ser contrário à cobrança,
desde que seu voto siga o da bancada. A maioria dos petistas não
admite essa hipótese nem acredita em punição para aqueles que
votarem contra a contribuição.
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