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Para ex-vendedor, seu futuro
será muito pior do que o presente
DA SUCURSAL DO RIO
"Perdi as esperanças. Acho que
meu futuro vai ser bastante pior
do que agora", desabafa Eduardo
Tavares de Menezes, 38. Ele teve
carteira assinada por 15 anos consecutivos até ser demitido em
1999. A partir de então, só voltou a
ter emprego em outubro do ano
passado e foi novamente demitido em janeiro deste ano. Ele sobrevive de pequenos biscates.
Tinha salário de R$ 585 como
promotor de vendas da Antarctica (atual AmBev), quando foi demitido em 99. Desde então, a vida
de Menezes entrou numa espiral
para baixo.
O tempo foi passando e as propostas de trabalho não apareceram até outubro do ano passado,
quando conseguiu emprego, de
carteira assinada, como vigia de
um hospital em Duque de Caxias.
O salário, de R$ 294, era metade
do que possuía na Antarctica. Menos de três meses depois, foi novamente demitido.
Eduardo Menezes, que é casado
e pai de três filhos (uma adolescente de 14, um garoto de 12 e
uma menina de três anos), faz pequenos biscates para sobreviver, a
exemplo de seus vizinhos no bairro Parque da Conquista, e recebe
ajuda financeira da mãe, para
continuar sustentando a família.
Os biscates a que se refere são
trabalhos eventuais como ajudante de pedreiro em obras de casas
de pessoas igualmente pobres. "A
diária de um servente está em torno de R$ 15 porque o pedreiro que
contrata também recebe pouco."
Sem rendimento fixo, o ex-promotor de vendas vê seu horizonte
se estreitar cada vez mais. Ele parou de procurar emprego em janeiro deste ano, porque já não podia gastar R$ 10 em condução para ir à zona sul ou ao centro do Rio
de Janeiro entregar currículo. "Se
eu gastar R$ 10, estarei tirando alimento dos meus filhos", declara.
A mulher de Menezes, Lucinete
Jesus Santos, passou a trabalhar
como faxineira em residências
nos bairros melhores de Duque
de Caxias, o que lhe dá um rendimento de R$ 250 por mês. Quando a mulher sai para trabalhar, ele
toma conta da casa e dos filhos.
Menezes diz que sua situação
prossegue se agravando. "Há dois
meses, abri mão do último lazer
que tinha, que era levar a família
para almoçar aos domingos com
minha mãe. É preciso apanhar
dois ônibus para ir à casa dela e
não tenho os R$ 22,40 para pagar
as passagens para mim, para minha mulher e para os filhos mais
velhos. Passei a visitar minha mãe
sozinho, por falta de dinheiro. Sei
que não devia ser pessimista, mas
como poderia estar otimista na
minha situação?"
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