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Telefônicas, metalúrgicas e companhias aéreas foram responsáveis pelas maiores demissões no governo Lula
De uma vez, 15 empresas demitem 2.800
DA REPORTAGEM LOCAL
As indústrias metalúrgicas, as
empresas telefônicas e as companhias aéreas foram as responsáveis pelas maiores demissões nos
seis primeiros meses do governo
Lula. Em uma única tacada, pelo
menos 15 empresas dispensaram
2.800 funcionários, segundo levantamento feito pela Folha em
sete atividades econômicas.
E os anúncios de reestruturação
neste ano em alguns desses setores podem agravar ainda mais o
desemprego no país, que registrou aumento de 443 mil desocupados de janeiro a junho, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Até
junho, pelo menos 2,7 milhões de
pessoas estavam desempregadas
em seis regiões metropolitanas.
Ao transferir sua produção de
São Paulo para Minas Gerais, a
metalúrgica Helfont, empresa do
grupo Philips que fabrica produtos elétricos, cortou 450 postos de
trabalho. A queda nas vendas não
permitiu, segundo a empresa,
manter duas unidades em operação. A Philips também demitiu 30
empregados no ramo de iluminação (lâmpadas) no ABC paulista.
Maria José Silva Ferrante, 42,
uma das dispensadas da Philips,
conta que tem em sua família sete
desempregados. Em questionário
divulgado pelo sindicato, dos 14
entrevistados, 13 contam que têm
familiares sem emprego.
"O meu sonho era poder pagar
a faculdade dos meus filhos. Agora, foi por água abaixo. Sou velha
para voltar para o mercado de trabalho e nova para me aposentar.
Não sei o que fazer", disse. Operadora de produção durante 12 anos
na Philips, Maria José recebia salário de R$ 1.400 e tinha gastos de
R$ 1.670. "Sobrou a aposentadoria do meu marido."
Em Santo André, funcionários
da TRW "inauguraram" a primeira greve do governo petista
após a demissão de 240 operários
da linha de produção de cintos de
segurança. A paralisação aconteceu antes mesmo que o governo
completasse 30 dias. Na região, levantamento do sindicato da categoria em Santo André mostra a
dispensa de mil operários.
O Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo, Mogi e região registrou aumento de 44% nas homologações (rescisões de contrato)
feitas em sua sede, entre janeiro e
15 de julho deste ano contra igual
período de 2002. A estimativa é
que os cortes atinjam 30 mil pessoas até o final deste mês, o que
reduziria a base do sindicato para
250 mil metalúrgicos. "Pelo menos 82 empresas demitiram mais
de 2.300 trabalhadores nos últimos dois meses. Se esse ritmo
continuar e cada uma das 8.500
empresas da base começar a enxugar seu quadro, vamos ter números recordes", diz Eleno José
Bezerra, presidente do sindicato.
A crise no setor automotivo,
que fez com que as montadoras
concedessem férias coletivas para
24 mil, reduzissem jornadas e
abrissem programas de demissão
voluntária, já se aproxima das autopeças paulistas.
No ABC, a Arteb, fornecedora
de peças da Volkswagen, deu licença remunerada a 135 trabalhadores por um mês. A companhia
tem 1.100 empregados. Em São
Paulo, algumas autopeças também negociam medidas como redução de turnos e concessão de
férias para evitar mais dispensas.
Setores como o de máquinas e o
de eletroeletrônicos chegaram a
reivindicar a redução de direitos
-como o fim do pagamento do
descanso semanal remunerado, o
que representaria redução na folha de pagamento em torno de
20%- sob a ameaça de demitir.
O cenário de retração econômica também levou as aéreas a enxugarem seus quadros. Varig e
TAM, entre março e maio, anunciaram 820 cortes. O processo de
fusão das duas companhias, em
fase de elaboração, pode resultar
na demissão de cerca de 5.300 dos
23,6 mil funcionários das duas
companhias. Levantamento feito
pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas informa que pelo menos
850 comissários e pilotos perderam o emprego entre janeiro e junho em cinco companhias.
Na telefonia, não foi diferente. A
BCP cortou há cerca de três semanas cem vagas por conta do fechamento e venda de suas lojas. A Telefônica anunciou em março 918
demissões para reduzir seu quadro em 9%.
Em maio, a Vésper, operadora
de telefonia fixa de 17 Estados, demitiu 240 de seus 1.200 funcionários. A empresa, que já empregou
4.000 pessoas no país, atendeu a
orientação da norte-americana
Qualcomm, sua controladora,
que colocou a Vésper à venda.
O comércio também sofre com
a queda na renda do trabalhador.
Pelo sexto mês consecutivo, os
rendimentos caíram, segundo o
IBGE. A queda foi de 13,4% em
comparação com junho de 2002.
Nos seis meses do governo Lula
(comparando janeiro e junho
deste ano), o recuo chega a 3,8%.
"Menos dinheiro no bolso significa comprar menos. Com isso,
o comércio demite mais e mais",
diz Ricardo Patah, presidente do
Sindicato dos Empregados do
Comércio de São Paulo. De janeiro até o dia 17 de julho, foram feitas 26.343 rescisões de contrato na
entidade contra 20.106 em igual
período de 2002.
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