|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cidade em SC escapa do desemprego graças ao crescimento da Sadia, empregadora de 4.800 pessoas no município
Concórdia prospera à sombra de frigorífico
WILSON SILVEIRA
ENVIADO ESPECIAL A CONCÓRDIA (SC)
O ex-lavrador Vitorio Galeazzi
trabalhava havia dois anos no frigorífico Trasmontana, em Guaporé (RS), quando a empresa faliu
em junho de 1944. As máquinas e
equipamentos do frigorífico foram vendidas para Atílio Fontana, que os levou para Concórdia
(SC), a 300 km de distância, onde
fundou a Sadia -hoje uma das
maiores agroindústrias do país.
Galeazzi, hoje com 81 anos, foi o
primeiro funcionário da Sadia.
Contratado por Fontana aos 22
anos de idade, colocou tudo que
tinha em uma mala e a jogou em
cima do caminhão que levava as
máquinas do frigorífico falido.
"Não havia nada em Concórdia", lembra. Hoje, em contraste
com a maior parte do país, o próspero município de Concórdia, no
oeste de Santa Catarina, vive situação privilegiada em termos de
ocupação de mão-de-obra, tanto
na zona rural como na urbana.
Não há pesquisa oficial recente
sobre o desemprego na cidade,
mas o prefeito Neodi Saretta (PT)
calcula entre 2.000 e 3.000 o número de desempregados, de uma
população de 65 mil.
Em grande parte, o sucesso de
Concórdia se deve ao crescimento
da Sadia, que emprega 4.800 pessoas na cidade. Dependem diretamente da empresa cerca de 20 mil
pessoas, ou seja, quase um terço
da população local.
Há ainda os empregos indiretos. Por exemplo: há na cidade 94
empresas proprietárias de 185 caminhões frigorificados que trabalham para a Sadia, e 31 empresas
donas de 47 caminhões de transportes de ração que prestam serviços para essa agroindústria.
Além disso, há a ocupação de
mão-de-obra na zona rural. Segundo o prefeito, Concórdia possui 3.500 propriedades rurais, todas de pequeno porte. Segundo a
Sadia, desse total, 1.100 proprietários estão envolvidos na criação
de frangos para a empresa, e 800
na criação de suínos.
A Sadia inaugurou no Brasil o
sistema integrado de produção. A
empresa entra com assistência
técnica, insumos, material genético e assistência veterinária, e o
produtor com instalações, equipamentos e mão-de-obra. No caso do frango, por exemplo, a Sadia distribui diariamente cerca de
250 mil pintos no primeiro dia de
vida para serem criados em fazendas integradas e os recolhe 35 a 40
dias depois para o abate.
Esse sistema é muito criticado
pelo presidente da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul, Altemir Tortelli. Para ele, nesse modelo a renda fica toda concentrada na
agroindústria, enquanto o agricultor se torna um operário sem
carteira assinada, ficando alienado do processo produtivo.
"É uma relação selvagem de domínio absoluto", disse. Segundo
ele, os agricultores optam pela integração em nome da estabilidade
-ter um comprador para seus
produtos e serviços.
Tortelli reconhece a importância da Sadia para o crescimento de
Concórdia, mas disse que outras
cidades, como Chapecó, se desenvolveram sem que houvesse por
trás uma grande agroindústria.
Com ou sem exploração de
mão-de-obra, Concórdia prosperou junto com a Sadia, hoje presente em sete Estados, com 12
unidades de produção. A história
de Vitorio Galeazzi é ilustrativa:
saiu do nada, com pouca instrução e quase nenhuma qualificação profissional, trabalhou na
empresa por 40 anos, criando cinco filhos, dois deles com cursos de
pós-graduação, inclusive no exterior. Um deles, Antônio Carlos,
41, trabalha há 25 anos na Sadia,
onde é gerente de granjas.
Hoje, Galeazzi é aposentado, recebendo R$ 1.150 de um fundo
privado e R$ 1.090 do INSS. Questionado sobre a reforma da Previdência do governo Lula, ele pede
aos congressistas que deixem de
"lengalenga" e aprovem a proposta do presidente, "que é um homem bem-intencionado".
Os agricultores de Concórdia
também produzem leite -cerca
de 150 mil litros por dia, que vendem para grandes empresas, como Parmalat e Batavo.
O prefeito, que ganhou em 2002
o prêmio Gestão Fiscal Responsável, disse que a força do município está na agricultura familiar e
em cooperativas agrícolas.
Deputado federal e senador,
Atílio Fontana, morto em 1989, é
avô do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, natural de Concórdia, que se licenciou da presidência do conselho
de administração da Sadia para
assumir o ministério.
Texto Anterior: Desemprego no mundo atinge 180 milhões Próximo Texto: "Só quem quer fica sem emprego em Chapadão" Índice
|