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PT está atrás nas principais disputas pelos governos estaduais onde há segundo turno; tucanos podem sair vitoriosos nos maiores redutos eleitorais, com São Paulo
"Onda Lula" não se repete nos Estados
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Luiz Inácio Lula da Silva pode
ser eleito hoje presidente da República com uma votação recorde, mas o PT está atrás nas principais disputas pelos governos estaduais onde há segundo turno. Os
candidatos petistas também não
são francos favoritos em nenhuma das eleições para as quais há
pesquisas disponíveis.
Segundo pesquisas de vários
institutos, o PT deve perder as
eleições para os governos de São
Paulo e do Rio Grande do Sul. No
caso gaúcho, confirmadas as pesquisas, será uma derrota de grande relevância política, pois o partido conquistou esse Estado em
1998 e governa a capital, Porto
Alegre, há mais tempo.
Já o PSDB pode amargar uma
derrota com José Serra na eleição
presidencial, mas garantiu pelo
menos uma posição importante
(Aécio Neves foi eleito no primeiro turno governador de Minas
Gerais). Além disso, os tucanos
podem continuar a governar o Estado com mais eleitores do país,
São Paulo, pois Geraldo Alckmin
aparece com folga à frente do seu
adversário, José Genoino (PT),
nas pesquisas de opinião.
O mais importante na hora de
verificar qual partido ganhou cada uma das diversas disputas estaduais é saber quantos eleitores
são governados. Nessa categoria,
o PSDB está na frente. No primeiro turno, ao ficar em definitivo
com os governos de Minas Gerais
e Goiás, o PSDB já garantiu um
colégio de 16 milhões de eleitores
governados. O PT conquistou
apenas os Estados do Acre e do
Piauí no primeiro turno -que só
somam 2,2 milhões de eleitores.
Hoje, serão escolhidos governadores para 13 Estados e para o
Distrito Federal. Mais da metade
das disputas estão em situação de
empate técnico, segundo as pesquisas. Só em São Paulo, Rio
Grande do Sul e Rio Grande do
Norte há favoritos bem definidos.
Considerando-se os números
das pesquisas disponíveis e os casos em que há candidatos favoritos, o PT poderá (se vencer em todos os locais onde seu candidato
está em empate técnico com o adversário) governar oito unidades
da Federação a partir do ano que
vem -Acre e Piauí (já garantidos) e Amapá, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Pará e
Sergipe. O eleitorado total governado seria de 14,9 milhões.
A comparação com o PSDB é
amplamente favorável aos tucanos. Se os tucanos vencerem em
todas as disputas em que têm alguma chance ou são favoritos, ficariam também com um máximo
de oito Estados, como o PT.
A diferença é o número de eleitores governados. Se forem bem-sucedidos nas disputas de hoje, os
tucanos governarão a partir de
2003 até 54,7 milhões de eleitores,
ou 47,5% do eleitorado nacional.
Como em quatro Estados os tucanos enfrentam petistas, é impossível que ambos os partidos
saiam vitoriosos em todas as disputas. O PSDB é favorito em São
Paulo (25,7 milhões de eleitores),
e o eleitorado total governado pelos tucanos nos Estados será certamente muito maior do que
aquele que ficar sob a égide de governadores petistas.
O contraste entre o PT e o PSDB
é que os petistas tendem a governar Estados acima do Trópico de
Capricórnio -ficarão de fora das
regiões Sul e Sudeste.
Já o PSDB deve conquistar importantes posições no chamado
"Triângulo das Bermudas" político, composto por São Paulo, Rio
de Janeiro e Minas Gerais. Ao governar os mineiros e os paulistas,
os tucanos voltarão para próximo
da posição que desfrutaram apenas um vez, no auge do Plano
Real, quando conquistaram os
três Estados em 1994.
Chama a atenção também na
futura geopolítica dos Estados o
PMDB, partido que estava alijado
do Sul e do Sudeste. Agora, os
peemedebistas têm chances de retomar 100% de uma dessas regiões. Há candidatos competitivos do PMDB no Rio Grande do
Sul (Germano Rigotto), Santa Catarina (Luiz Henrique da Silveira)
e Paraná (Roberto Requião).
Mesmo se os três vencerem (Rigotto é favorito; Luiz Henrique e
Requião estão em situação de empate técnico com seus adversários), infelizmente para o PMDB,
nada indica que será reconquistada a unidade interna na sigla.
Roberto Requião, do Paraná, é
mais próximo do PT do que da direção de seu partido. Luiz Henrique da Silveira, por conveniência
eleitoral, está apoiando Lula para
presidente. Mas faz isso porque
foi preterido para o posto de candidato a vice-presidente na chapa
de José Serra -e porque o tucano
se aliou ao governador de Santa
Catarina, Esperidião Amin (PPB),
que tenta a reeleição.
Com a vitória que obteve no primeiro turno (só em Pernambuco), o PMDB já garantiu que governará um eleitorado de 5,4 milhões. Se conseguir vencer nos locais onde disputa hoje o segundo
turno, chegará a seis unidades da
Federação e um eleitorado total
governado de 27 milhões -quase
o dobro do potencial do PT.
Essa força dos partidos tradicionais nos Estados é uma demonstração de como um eventual governo Lula dependerá de muito
mais negociação com governadores do que foi necessário para o
presidente Fernando Henrique
Cardoso, a partir de 1995.
Apenas 8 das 27 unidades da Federação concentram 70,6% do
eleitorado do país -81,353 milhões. Os petistas têm apenas alguma chance mais clara de vitória
no menor desses oito Estados, o
Ceará -ainda assim estão em situação de empate técnico com o
adversário local, o senador Lúcio
Alcântara (PSDB). Os governadores não-petistas que hoje dão
apoio a Lula também tendem a
refluir após concluído o pleito.
O exemplo mais vistoso é o de
Rosinha Garotinho (PSB), governadora eleita do Rio. Ela e o marido, Anthony Garotinho (PSB),
disseram apoiar Lula. Mas fazem
parte de um grupo que pretende
disputar a Presidência em 2006.
Aécio Neves, que governará Minas Gerais, tem bom trânsito entre os petistas. Mas ele é uma das
alternativas de seu partido para
disputar o Planalto em 2006 e
também não será um apaixonado
defensor de um presidente do PT.
FHC assumiu o Planalto em janeiro de 1995 com seis governadores do PSDB, sendo três deles
em São Paulo, Rio e Minas. Além
disso, teve o suporte da maioria
de outros 14 Estados governados
pelo PMDB, PFL e PPB. O PT tinha apenas dois Estados e representava pouca oposição.
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