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ELEIÇÕES 2004/CAIXA
Procuradoria apura se instituições dirigidas por Clésio Andrade lavaram dinheiro para financiamento de campanha eleitoral
Vice-governador de Minas é investigado
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O MPF (Ministério Público Federal) investiga a suspeita de lavagem de dinheiro para financiamento de campanha eleitoral em
operações realizadas por duas
instituições dirigidas pelo vice-governador de Minas Gerais, Clésio Andrade (PL), 51.
O juiz Jorge Macedo Costa, da 4ª
Vara Federal de Belo Horizonte,
determinou em 27 de julho a quebra de sigilo bancário do Idaq
(Instituto de Desenvolvimento,
Assistência Técnica e Qualidade
em Transporte), vinculado à CNT
(Confederação Nacional dos
Transportes), presidida por Clésio, e do Instituto J. Andrade, de
Juatuba (MG). Essa é uma instituição de ensino superior cuja entidade mantenedora também é
presidida pelo vice-governador.
Na última sexta-feira, o MPF
deu parecer entendendo que o vice-governador tem foro privilegiado no STJ (Superior Tribunal
de Justiça). No mesmo dia, considerando-se incompetente para
atuar no processo, o juiz determinou o envio dos autos ao STJ.
"Eu sei muito pouco, porque é
um processo que tramita em sigilo. Havia informações truncadas.
Entramos com mandado de segurança no Tribunal Regional Federal [TRF-1, em Brasília], mas desistimos dessa ação porque o juiz
federal suspendeu a quebra do sigilo", disse Clésio, por telefone.
O advogado Décio Freire impetrara o mandado de segurança em
nome de Clésio Andrade, da mulher do vice-governador, Adriene
Barbosa de Faria Andrade, prefeita de Três Pontas (MG) e presidente Associação Mineira de Municípios, e dos dois institutos.
Freire diz que incluiu o casal por
cautela, pois não havia tido acesso
aos autos e desconhecia quem tinha tido o sigilo quebrado.
O pai de Clésio, pecuarista Oscar Soares Andrade, 78, do PL, é
candidato a prefeito de Juatuba,
terra natal do vice-governador.
Segundo a Folha apurou, operações de cerca de R$ 12 milhões
realizadas pelo instituto de Juatuba teriam chamado a atenção do
Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras). Questionada sobre a suspeita de uso do
dinheiro para a campanha, a assessoria disse que o vice-governador "desconhece essa versão".
Com base na Constituição estadual, os advogados de Clésio
questionaram a competência do
juiz de primeiro grau para atuar
no processo que atinge indiretamente o vice-governador. Como
se trata de um procedimento administrativo criminal ainda em
apuração, os investigados são
considerados apenas suspeitos.
A instauração do processo -a
pedido do MPF- ocorreu depois
de investigações realizadas pela
Polícia Federal e pelo MPF contra
doleiros em todo o país. No cruzamento de informações sobre operações financeiras em Minas Gerais, teriam sido localizados documentos que motivaram a quebra
do sigilo bancário do Idaq e do
Instituto J. Andrade.
Cercada de forte sigilo pela Polícia Federal e pelo MPF, a apuração veio à tona com a tentativa de
sustar a quebra do sigilo bancário.
Dos registros do processo no
TRF-1, em Brasília, constam os
nomes dos impetrantes que pediram a suspensão da quebra do sigilo bancário. Nos registros públicos do processo, em BH, está citada a suspeita de lavagem de dinheiro como o motivo da apuração (lei nº 9.613/98, que dispõe sobre os crimes de lavagem de dinheiro e ocultação de bens).
A CNT, presidida por Clésio
desde 1993, congrega 40 mil empresas e 300 mil transportadores
autônomos de carga e de passageiros. Cobrador de ônibus aos 11
anos de idade, Clésio fez carreira
na política graças à liderança como dirigente sindical. Ganhou visibilidade com a divulgação do
Índice de Satisfação do Cidadão,
pesquisa mensal elaborada numa
parceria entre a CNT e o Instituto
Sensus, de Minas Gerais.
Clésio figurou como sócio das
empresas Viação Jabaquara Ltda.
e Itamaraty Transportes Urbanos
Ltda. Em sua gestão na CNT, foram criados o Sest/Senat, para desenvolver projetos de capacitação
profissional, serviços de saúde e
lazer, nos moldes do sistema Sesi/Senai criado para a indústria.
Entre as várias "realizações" da
prefeita Adriene Andrade no período 2001/2004, anunciadas no
site do governo municipal de Três
Pontas, estão citadas a "construção de centro odontológico em
parceria com o Sest/Senat" e a
"aquisição de um moderno caminhão para coleta de lixo, decisiva
ajuda do vice-governador Clésio
Andrade".
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