|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Relação de poder ditou o desfecho
DA REPORTAGEM LOCAL
Por uma hipótese remota, Collor poderia não ter sofrido o processo de impeachment. Mas, para
tanto, afirma a cientista política
Débora Messenberg, (Universidade de Brasília), deveria ser outro o relacionamento do então
presidente com o Congresso.
Ele acreditava trazer das urnas
uma legitimidade que o dispensava de dialogar e negociar com a
"elite parlamentar". Essa elite,
que Messenberg descreve no recém-lançado livro "A Elite Parlamentar Pós-Constituinte" (editora Brasiliense, 175 págs), foi atropelada por um presidente que a
empanturrava de medidas provisórias no Congresso.
Para o historiador Luiz Felipe
Alencastro (Universidade de Paris), o impeachment é comparável, na história ibero-americana, à
destituição dos reis tirânicos julgados e decapitados pelos ingleses
e franceses nos séculos 17 e 18.
Na opinião do sociólogo Brasilio Sallum Jr., da USP, o impeachment "diminuiu drasticamente a
tolerância em relação ao arbítrio
dos que ocupam o poder".
Bolivar Lamounier, do Idesp
(Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo), por sua vez, afirma que a demanda pela ética vinha de longe.
Estava na raiz da denúncia das
mordomias no regime militar e, já
na Constituinte, no reforço do papel do Ministério Público.
O historiador Nicolau Sevcenko
(USP) avalia que o impeachment
deu visibilidade à corrupção no
Executivo, mas também aos compromissos "subterrâneos, clandestinos", que Collor assumiu
com grupos econômicos no momento de sua eleição. "A ascensão
e a queda de Collor são paradigmáticos de um modo de ser do
processo republicano", diz.
Por fim, a pesquisadora Celina
Vargas Amaral Peixoto, fundadora do Centro de Pesquisa de História Contemporânea (FGV-Rio),
qualifica o evento ocorrido há dez
anos como a primeira manifestação da sociedade depois do regime militar, em que ela fixou o seu
limite de intolerância ao desvio
dos recursos públicos.
(JBN e LH)
Texto Anterior: Justiça não seguiu rumos de CPI Próximo Texto: Caso PC pára na Justiça e em Brindeiro Índice
|