São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Relação de poder ditou o desfecho

DA REPORTAGEM LOCAL

Por uma hipótese remota, Collor poderia não ter sofrido o processo de impeachment. Mas, para tanto, afirma a cientista política Débora Messenberg, (Universidade de Brasília), deveria ser outro o relacionamento do então presidente com o Congresso.
Ele acreditava trazer das urnas uma legitimidade que o dispensava de dialogar e negociar com a "elite parlamentar". Essa elite, que Messenberg descreve no recém-lançado livro "A Elite Parlamentar Pós-Constituinte" (editora Brasiliense, 175 págs), foi atropelada por um presidente que a empanturrava de medidas provisórias no Congresso.
Para o historiador Luiz Felipe Alencastro (Universidade de Paris), o impeachment é comparável, na história ibero-americana, à destituição dos reis tirânicos julgados e decapitados pelos ingleses e franceses nos séculos 17 e 18.
Na opinião do sociólogo Brasilio Sallum Jr., da USP, o impeachment "diminuiu drasticamente a tolerância em relação ao arbítrio dos que ocupam o poder".
Bolivar Lamounier, do Idesp (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo), por sua vez, afirma que a demanda pela ética vinha de longe. Estava na raiz da denúncia das mordomias no regime militar e, já na Constituinte, no reforço do papel do Ministério Público.
O historiador Nicolau Sevcenko (USP) avalia que o impeachment deu visibilidade à corrupção no Executivo, mas também aos compromissos "subterrâneos, clandestinos", que Collor assumiu com grupos econômicos no momento de sua eleição. "A ascensão e a queda de Collor são paradigmáticos de um modo de ser do processo republicano", diz.
Por fim, a pesquisadora Celina Vargas Amaral Peixoto, fundadora do Centro de Pesquisa de História Contemporânea (FGV-Rio), qualifica o evento ocorrido há dez anos como a primeira manifestação da sociedade depois do regime militar, em que ela fixou o seu limite de intolerância ao desvio dos recursos públicos.
(JBN e LH)


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