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"Sem obsessão", Collor quer voltar
LUIZ CAVERSAN
ENVIADO ESPECIAL A ARAPIRACA
"Não me deixem só!"
O grito vem do homem suado,
cabelos agora alourados e braço
erguido para agitar a massa.
A massa é escassa, moradores
de um bairro miserável do sertão,
e reúne muitos dos descamisados
a que se referiu há pouco o candidato ao governo do Alagoas Fernando Collor de Mello.
"Não me deixem só", "minha
gente", descamisados, promessas
a aposentados e a jovens desempregados. Praticamente tudo o
que se ouviu ali foram jargões políticos com pelo 13 anos de vida,
surgidos na campanha de 1989.
Hoje, esses termos são utilizados em seu "retorno à vida pública" após um período "gratificante", em que viu "o Brasil avançar
graças a medidas na área econômica". Medidas, segundo diz, tomadas por ele na Presidência.
Presidência à qual quer retornar, isso já está decidido. Mas,
afirma, "sem obsessão alguma".
O retorno de Collor às ruas não
deve causar surpresa. "Isso era
uma coisa absolutamente esperada. A intenção é retomar minha
vida pública, que foi interrompida sem que eu quisesse em 1992."
Dos anos da "vida pública" que
passou na Presidência, Collor tem
só boas recordações. "Houve um
momento de ruptura com o Brasil
arcaico. Hoje o país é um parceiro
internacional graças às medidas
na área econômica."
Ele vai além: "Na área cultural,
que me criticou muito, eu nunca
soube por que, eu criei a Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual".
E não tem dúvidas sobre sua
gestão: "Objetivamente, meu período de governo foi extremamente positivo para o país."
Collor foi eleito como fenômeno de massas, mas se viu apeado
do poder em meio a uma das
maiores mobilizações populares
da história. A explicação? "Eu não
sou um líder político, sou um líder de massas. Mas, no momento
em que houve aquela vaga de denúncias, a população ficou no mínimo na dúvida. Aí eu fui perdendo minha grande aliança com a
população. Disso se aproveitaram
os políticos para descarregar suas
frustrações em relação a mim."
São deputados e senadores para
quem volta suas baterias:
"Os prazos foram antecipados,
a legislação não foi obedecida. Esse calhorda do Ibsen Pinheiro
[presidente da Câmara na época
da CPI" cortou os prazos."
Mais uma vez ele afirma que
não poderia ter sido afastado.
"Depois de dois anos e meio de
investigações, o Supremo Tribunal Federal disse que não cabia
nenhuma daquelas acusações."
Argumenta mais: "Quando
apresentei minha renúncia, o julgamento no Senado deveria cessar. Eles suspenderam a sessão,
deram posse àquele luminar que é
o Itamar e depois retomaram. Foi
uma violência atrás da outra."
Apesar dos termos e da ironia,
diz que não há mágoas. "Menos
em homenagem aos meus adversários, mais pensando em minha
própria saúde."
Nem quanto ao fato de ser chamado de ladrão na rua? "Tenho o
sentimento de quem compreende
a massa; isso faz parte do momento. Tantas vezes eu disse nome
feio e vi que não era bem assim."
Entenda-se esse raciocínio de
Fernando Collor como decorrência de outros dois: "Depois de dez
anos a população poderá fazer
um correto juízo" e "Nenhum julgamento é definitivo".
Ele, de sua parte, diz não ter do
que se arrepender: "Não, a gente
aprende com a vida".
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