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JANIO DE FREITAS
O homem dos discursos
Até há pouco, Antonio Palocci desautorizava as afirmações de Lula sobre próximos
passos governamentais no terreno sócioeconômico. "Vamos reduzir os juros/Os juros ficam
mantidos", e assim foi, como já
lembrado aqui, com o salário-mínimo, com as deduções do Imposto de Renda e outras medidas que
mostram Lula para um lado e Palocci para o outro. Agora deixam
de ser desautorizações.
Ao partir da China para o Japão, Palocci foi indagado, ainda
uma vez, sobre as deduções do
Imposto de Renda, defasadas em
quase 60% como forma dos governos Fernando Henrique e Lula
aumentarem, sem o dizer, o imposto de quem trabalha. Palocci
em Xangai: "O governo não concorda com alterações na tabela de
descontos. Essa é uma posição do
governo". Lula, que em 26 de
abril comunicou, em discurso aos
metalúrgicos do ABC, a revisão
da tabela, está declarado à margem do governo.
Da desautorização, passa-se à
exclusão. O pobre Lula, que gramou quatro eleições para chegar
à Presidência, logo será dado como representante do governo na
equipe de Duda Mendonça, incumbido da discurseira ilusória.
O equilibrista
Por falar no governo Palocci, a
permanência de José Dirceu como
ministro do Gabinete Civil resultará, se confirmada, de um equilibrismo extraordinário. As manobras que o pretendem na presidência da Câmara, originadas no
centro do governo, estendem-se a
jornalistas do ramo oficial, que
nos últimos dias esforçaram-se
para obter de José Dirceu alguma
palavra que suscitasse problema
no governo.
A resistência de Dirceu tem causa óbvia: como chefe do Gabinete
Civil, diz ao presidente petista da
Câmara o que o governo quer; na
presidência da Câmara, seria ele
a receber determinações.
Os ministros Luiz Gushiken e
Antonio Palocci são, sem dúvida,
muito atenciosos com o presente e
o futuro do seu colega José Dirceu.
Mais problemas
As notícias vindas dos EUA, sobre as possíveis transações de Brasil e China na área nuclear, são
contraditórias. Referem-se tanto
à absoluta indiferença do governo norte-americano, como a
preocupações intensas. As primeiras são para anjinhos.
Desde o fim da Guerra Fria a
CIA, a entidade de ações secretas
dos Estados Unidos no exterior,
foi posta no limbo do jornalismo e
dos livros no Brasil. As gerações
que chegaram à ativa no pós-Guerra Fria mal sabem o que é a
CIA. Como imaginar que o governo dos Estados Unidos tenha uma
entidade em que, entre departamentos de espionagem e de intervenção política, um setor foi especializado em assassinatos, cuja
marca registrada, por muito tempo, era o estrangulamento com
corda de guitarra. Assim morreram muitos "agentes inimigos"
sem tempo de emitir um som.
Assuntos nucleares são, notoriamente, uma das prioridades
da espionagem norte-americana.
Com boas razões para isso, aliás.
Daí que, para os contemporâneos
da notabolidade da CIA, soe estranha a coincidência da repentina pressão sobre o Brasil nos últimos dois meses, contrária às suas
pesquisas nucleares, e as conversações entre brasileiros e chineses,
agora reveladas, sobre transações
com urânio e tecnologia nuclear.
Menos ou mais sutis, já se esperam problemas por aí, ou maiores
problemas, relacionados à chamada questão nuclear, um assunto explosivo para o governo dos
Estados Unidos, seja republicano
ou democrata.
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