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COMBATE À CORRUPÇÃO
Para diretor-geral da corporação, sociedade brasileira não "tolera" mais desvios no poder público
Ação integrada favorece investigação, diz PF
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O diretor-geral da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda, atribui a nova onda de operações de
combate à corrupção à maior
"harmonia" da cúpula do governo para enfrentar o problema.
"Eu me sinto muito à vontade
para desenvolver esse trabalho de
combate à corrupção. O próprio
ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, não precisa falar nada. Já sei o que ele quer", disse.
Nos últimos meses, várias ações
da PF atingiram políticos, juízes e
policiais envolvidos em tráfico de
influência e corrupção.
Segundo Lacerda, a chegada do
PT ao governo, "inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva",
funcionou como uma espécie de
"mensagem" para os policiais.
Por haver criticado de forma rigorosa os envolvidos em desvio
de dinheiro público no passado, o
PT teria sinalizado que a PF não
deveria transigir em relação à moralidade. A principal bandeira de
Lacerda é a limpeza institucional
do órgão, com o fortalecimento
da corregedoria e a agilidade nos
procedimentos de julgamento de
desvio de conduta.
"Durante longos anos em que
estiveram na oposição, esses homens que hoje dirigem o governo
foram críticos muito rigorosos
dos desvios na máquina pública."
O relacionamento de Lacerda
com os petistas vem do período
em que ele assessorou o senador
Romeu Tuma (PFL-SP).
"A PF já faz um trabalho sério
de longa data. Apesar dos problemas, demonstra vontade de acertar. Coincidiu que, neste governo,
os mesmos objetivos vêm sendo
sinalizados para toda a administração pública."
Cobrança
Na avaliação de Lacerda, há dois
outros motivos para que as grandes operações da PF estejam
acontecendo neste momento.
O mais importante seria a cobrança da sociedade, que não "tolera" mais os desvios. Paralelamente, estaria a cooperação cada
vez mais forte com o Ministério
Público e a Controladoria Geral
da União. "Não é apenas mérito
da Polícia Federal. A CGU e o MP
têm uma sinalização no sentido
de que não há mais como tolerar
esses desvios tão danosos ao Estado", afirmou o diretor-geral.
A avaliação é compartilhada
por Reiner Pungs, do Escritório
das Nações Unidas contra Drogas
e o Crime. "É um sentimento de
impunidade que a sociedade começou a se manifestar contra, e o
governo resolveu agir", disse.
As recentes operações da PF, segundo Pungs, mostram que "o
Brasil está disposto a enfrentar a
questão da corrupção, cortando,
inclusive, a própria carne".
O pesquisador Felipe Dantas,
especialista em PF, vê a indignação social com a violência como
"motor" da ação dos policiais. Para ele, a chegada do PT ao poder
tem menor relevância. A principal diferença no atual governo seria "o empreendedorismo de gestão da própria PF". "O posicionamento da máquina de política criminal do país responde a um clamor interno e externo", disse.
Acordo
Ao mesmo tempo em que a Polícia Federal divulga suspeitas sobre juízes federais, deputados, ex-governadores e prefeitos, a diplomacia brasileira lidera a discussão
sobre a Convenção das Nações
Unidas contra a Corrupção, que
será assinada no início de dezembro no México.
Segundo o texto finalizado no
mês passado, ao ratificar a convenção -primeiro documento
mundial sobre o tema-, o Brasil
estará se comprometendo a destinar esforços para quatro itens: 1)
recuperação de dinheiro oriundo
de crime enviado para o exterior,
2) criminalização de práticas consideradas corruptas, 3) cooperação internacional para combate à
corrupção e 4) prevenção de crimes desse tema.
A convenção começou a ser discutida em janeiro do ano passado,
ainda sob o impacto dos atentados terroristas de 11 de Setembro
nos EUA.
Segundo o ritual da ONU, são
necessárias as assinaturas de 30
países para a convenção entrar
em vigor. Após a assinatura, o texto deve ser aprovado pelo Congresso para ser incorporado ao
marco legal interno.
Para Reiner Pungs, do Escritório das Nações Unidas contra
Drogas e Crime, o Brasil tem enfrentado o tema.
"O Itamaraty mostra que o governo quer efetivamente combater a corrupção", afirmou.
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