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Comissão de ética era mais "flexível" e "inteligente", diz Gil ao sair do cargo
Presidente do órgão vinculado à Presidência, Sepúlveda Pertence não opinou sobre a "dupla função" do músico
No ano passado, a comissão considerou "impróprio" o vínculo entre Gil e o banco Itaú, que usou uma versão de música dele em comercial
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
As críticas à atuação simultânea de Gilberto Gil como ministro da Cultura e artista o
acompanharam durante todo o
governo Lula. Ontem, horas antes de anunciar seu desligamento do ministério, Gil criticou a Comissão de Ética Pública, vinculada à Presidência.
O ministro disse que apenas
no início do primeiro mandato
pôde "misturar os compromissos privados, como artista, com
os oficiais [como ministro], inclusive sem ônus para o Estado,
nas viagens como artista, já pagas pela própria atividade artística", porque "a direção da comissão de ética era mais flexível, mais tolerante, diria talvez
até mais inteligente mesmo no
período anterior". As "novas
gestões do comitê de ética", como o ministro as classificou, o
proibiram de acumular as duas
atividades, por julgar que isso
"era incompatível".
O presidente da Comissão de
Ética Pública, Sepúlveda Pertence, não quis opinar sobre a
"dupla função" de Gil e fez apenas breve comentário sobre a
declaração do ministro. "Quanto às apreciações dele sobre inteligências alheias, o juízo é dele", disse Sepúlveda, que assumiu o cargo em fevereiro deste
ano. Segundo Sepúlveda, não
há nenhum caso referente a Gil
em análise da Comissão de Ética no momento.
Ao longo de sua permanência
no governo, Gil foi alvo de diversas consultas na Comissão
de Ética. Em outubro de 2007,
por exemplo, o colegiado considerou "impróprio" o estabelecimento de vínculos comerciais
entre Gil e o banco Itaú. O ministro autorizou o banco a utilizar uma versão modificada da
música "Pela Internet", de sua
autoria, em uma propaganda.
Não houve punição a ele.
Olhos marejados
Citando a "reserva" com que
sua indicação ao ministério foi
recebida no Brasil, Gil disse:
"Um colega meu chegou a dizer
que era um escárnio ter um ministro da Cultura como eu no
Brasil. Não é assim, não foi assim, não tem sido assim, e eu
espero que tenha sido muito
importante para o Brasil e para
a cultura no mundo todo, para
as relações internacionais do
Brasil, que um artista tenha se
desempenhado com relativa facilidade [no ministério]". Nessa
hora, os olhos de Gil marejaram, e ele suspendeu a fala, para conter o choro.
O ministro teve encontro
com a imprensa no Rio, pela
manhã, depois de abrir seminário promovido pelo Ministério
da Cultura para discutir provável reforma na legislação de direito autoral. Rouco, o ministro
elevou a voz para defender a revisão da legislação brasileira
sobre propriedade intelectual.
Na sua avaliação, "ou a sociedade brasileira discute profundamente a questão da propriedade intelectual ou daqui a dez
anos estamos fora do bonde da
história. Se a gente perder o
bonde nessa questão, a gente
estará perdendo o bonde da
história em todos os campos.
Está aí a OMC [Organização
Mundial do Comércio], que
não me deixa mentir. Está lá tudo travado, por causa dessas
questões".
Gil tem shows no sábado, em
Itaipava (RJ), e no fim de semana seguinte, em Curitiba (8 de
agosto) e Florianópolis (9 de
agosto). São apresentações prévias à turnê "Banda Larga".
(SILVANA ARANTES)
Colaborou LETÍCIA SANDER ,
da Sucursal de Brasília
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